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quarta-feira, 9 de julho de 2025

MALVASIA ISTRIANA

 


Há muitos anos os melhores restaurantes da região, para se beber bons e econômicos vinhos, continuam sendo “Nanim” em Chiavari, “Bricco della Gallina” em Breccanecca”, antes no “Rêve” e agora na “La Nuova Cesarina”.

Marco, Enrico e Matteo, além de mestre das panelas, possuem um faro privilegiado para descobrir grandes garrafas.



Grandes garrafas e não garrafas estrelares apontadas e endeusadas pelas revistas, influencers, sommelier, críticos e outros picaretas do gênero.

Não tenho a mínima vergonha, nem receio, em confessar que eles me ajudaram a descobrir “os caminhos das pedras” de algumas das melhores etiquetas que já bebi.



Marco foi meu mestre da Borgonha e Monferrato, Enrico meu guia da Ligúria, Toscana e Marche e Matteo foi o que me incentivou a ser um eno-cigano vagando por raras etiquetas de Champagne, Barolo, Vermentino, Pigato e finalmente Malvasia Istriana.



Matteo, sem mostrar a etiqueta e quase solenemente, derramou um pouco de vinho na taça e ..... “Prove com calma este branco de 2021, se você gostar vou servir um de 2013”.

Intensa e brilhante cor dourada, “lagrimas” que lentamente escorriam na taça, denunciavam a presença de glicerina, presença que se confirmou, já no primeiro gole, quando a maciez, cremosa e quase aveludada, invadiu o paladar.



Um vinho complexo, de longo e persistente final......Uma taça intrigante, muito interessante e, até aquele instante, “misteriosa”.

Matteo, em seguida e conforme prometido, serviu o 2013.

Um vinho branco, desconhecido, (quando Matteo revelou o preço, fiquei de queixo caído…), que apresentava complexa intensidade olfativa, uma grande estrutura e, apesar de seus 12 longos anos, mantinha um elegante e incrível frescor.



Matteo, ao ver minha cara incrédula e apatetada, revelou o segredo: “Malvasia Saltimbanco” produzida, no vale Vipava (Eslovênia), pela desconhecidíssima “La Giostra del Vino” (O Carrossel do Vinho).

“La Giostra del Vino” nasce, em 2002, na Argentina, pelas mãos e cabeças dos Italianos Giuseppe Franceschini, Dario Maurigh e o holandês Jacques Hoogeveen.

Os dois enólogos italianos cuidam da produção e o holandês se encarrega da comercialização.



”La Giostra”, depois de alguns anos na Argentina, produzindo Malbec, desembarca no Friuli e Eslovenia onde inicia a produção de Pinot, Noir, Sauvignon, Ribolla, Malvasia, Friulano, Refosco etc.

O mais interessante que a empresa possui pouquíssimos hectares próprios, mas, depois de cuidadosas seleções, aluga pequenos vinhedos onde com extremo cuidado, desde a manutenção, poda, colheita e finalmente vinificação, produz verdadeiras joias enológicas.



Quanto custa a Malvasia Saltimbanco?

Matteo, que não me cobrou um centavo pela degustação, revelou ter pago 13 Euros pelos 2021 e 14 Euros para levar à adega 18 garrafas de 2013.

Mais uma coisinha: A produção anual da “Malvasia Saltimbanco” não ultrapassa as 1.000 garrafas.



Você, que comprou um “Vista do Bosque Viognier”, da Gua$pari, por R$359,00, um “Semillon” da Pizzato por R$ 190,00, um “Chardonnay la Cave” da Luiz Argenta por R$ 210,00 é visto, pelos predadores nacionais, como um perfeito eno-pateta

Bacco

segunda-feira, 30 de junho de 2025

LA NUOVA CESARINA

 




Como todas pequenas cidades praianas, eminentemente, turísticas, Santa Margherita Ligure não foge à regra: é um “purgatório” gastronômicos.

Restaurantes apresentam pratos triviais, prosaicos, sem imaginação, onipresentes em todos os cardápios e que só perdem, em banalidade, para a pizza.



Fritto Misto, Spaghetti alle Vongole, Trofie al Pesto, Pesce alla Lígure, Tagliatelle ai Frutti di Mare, Polpo e Patate, etc., pratos que carecem de imaginação e também, muitas vezes, de qualidade.

Quanto mais próximos do mar, mais salgados os preços.





No pequeno e característico molhe da cidade, os preços alcançam as estelas e caso o incauto e inocente “turista-selfie-instagram” resolver almoçar, ou jantar, admirando os majestosos iates lá ancorados, é sodomizado sem dó nem piedade.



 Nos restaurantes à beira mar, com vista para os super-iates dos milionários, uma entrada, um prato principal e uma taça de vinho da casa, aliviam, facilmente, o intrépido turista, em 70/80 Euros.

Até 2022 os três melhores restaurantes da cidade eram o “Antonio”, La Insolita Zuppa” e “Rêve”.

Antônio, titular do homônimo restaurante, faleceu e seus sucessores (filhas e esposa) não conseguiram manter o mesmo padrão de qualidade.



La Insolita Zuppa” continua sendo uma válida opção, mas sua localização deixa a desejar.

Matteo, vendeu seu charmoso “Rêve” e, sem remorso algum, deixou, durante dois anos, seus clientes e amigos na saudade.



Matteo, de natureza irrequieta, não resistiu por muito tempo aos apelos do fogão, panelas, garrafas etc. e voltou, finalmente, à luta, para consolar os mais exigentes paladares, reabrindo as portas do histórico restaurante de Santa Margherita Ligure “La Cesarina”

Pratos banais, preços estrelares, vinhos comuns?

Nem pensar....



No cardápio do “La Nuova Cesarina” há: Tartar de Atum com Queijo Robiola eTrufas Pretas 



Gnocco Fritto (uma espécie de pastel) com Gorgonzola e Presunto”



Anchovas com Burrata (um misto de queijos mozzarella e stracciatella) e Tomates

Ravioli di Nasello (um peixe do Mediterrâneo) com Molho do Chef”



Lulas com Ervas e Abobrinhas Marinadas



Cima alla Genovese com Molho Verde 

E por aí vai.......

Os preços?

Dois pratos + duas taças de vinho = 25/35 Euros.

E por falar em vinhos......

Matteo, além de bom sommelier, é um experto e incansável “fuçador” de etiquetas raras, mas não caras, e sempre me surpreende.


Matteo não erra uma e..... “Recebi algumas garrafas de Malvasia Istriana de duas safras diferentes. Um vinho impressionante e tenho certeza que é bem do seu gosto. Prove!”

Levei a taça, de Malvasia Istriana de 2021, ao nariz e.....Fica para a próxima matéria

Bacco

 

 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

CAPITEL TENDA

 



 Quando você acredita que, depois de longos anos seus sentimentos “calejaram”, nada mais poderá ainda lhe surpreender, a vida já desfilou todas suas belezas e também horrores, eis que aparece, à sua frente, Edward Murphy que, sorridente e irônico, murmura: “Bacco, relaxe…tudo sempre pode piorar”.



Apesar de não conseguir imaginar um Brasil pior, Murphy está certíssimo... continuamos ladeira abaixo.

Após quase duas semanas sem inspiração, sem assunto e pior, sem a mínimo vontade de escrever, eis que o patético Brancaleone , que mora no amago do meu ser, volta a empunhar sua espada, monta seu “infiel” Aquilante e retorna à luta para falar de Picolit, Boca, Carema, Pelaverga, Timorasso, Avanà , Gamba di Pernice, Rossese Bianco, Rossese di Dolceacqua, Carica l’Asino, Freisa, Susumaniello, Passerina, Pecorino e dezenas de outros vinhos raros, mas não caros, para uma plateia que, em sua maioria (80%), bebe Chalise, Dom Bosco, Cantina da Serra, Pérgola, Chapinha , Catafesta, Campo Largo, Country, Mosteiro e outras “tremendas bostas”.



Murphy tem infinita razão....

Vamos tentar “suavizar” um pouco meu amargor etílico e não somente etílico, descrevendo a agradável surpresa que Valéria, sommelier da “Vineria Machiavello”, de Santa Margherita Ligure, me proporcionou ao indicar e quase impor, uma taça do “Capitel Tenda”, um ótimo Soave da vinícola Fratelli Tedeschi.



Não conheço outro vinho que possua um nome tão delicado e perfeito como o “Soave”.

Soave, estupenda aldeia veneta, nasce há mais de 1.000 anos, mas os séculos não conseguiram diminuir o grande fascínio da aldeia que conserva, dentro de suas majestosas muralhas medievais, um belíssimo castelo e um centro histórico de tirar o folego



Não sei quantas vezes visitei Soave na tentativa de descobrir sempre algo mais de seu território, vinho, cultura etc.

Recomendo ao eno-turista, que elegeu Verona como meta principal, uma parada na pequena Soave para descobrir, com calma, todos seus encantos medievais, suas paisagens e naturalmente, seu grande vinho.



O Soave sempre foi um dos meus brancos prediletos e minha preferência, após várias comparações, "repousou" nas garrafas produzidas por Imana, Suavia, Prà, Tamellini, Pieropan.

Na lista dos “meus prediletos” faltam, todavia, os insuperáveis “Capitel Croce” e “Capitel Foscarino” vinificados pela “Azienda Vinicola Anselmi”.



Anselmi, por não concordar com as limitações impostas pelo “Consorzio Tutela Vini Soave, ” decidiu abandonar a DOC e DOCG e adicionar, à “Garganega”, uvas internacionais e engarrafar sem a denominação “Soave”.

Com DOC ou sem a DOCG, Anselmi, produz alguns dos melhores brancos da Bota.... Confiram.



Voltemos ao “Capitel Tenda”, mas antes vamos “ajudar nossos “sommerdiers”, crítico$, influencer$, youtuber$ e outros eno-ignaros a descobrir o que significa “Capitel”



Capitel, em dialeto véneto, é uma pequena capela dedicada a um santo ou divindade por devoção ou graça recebida.

Quem quiser aprofundar seus conhecimentos da região, recomendo um percurso, conhecido como “I 10 Capitelli di Soave”, que serpenteia entre vinhas e campos e simula, também, a “Via Crucis”.



O “Capitel” vinícola, todavia, tem um significado totalmente diferente: “Capitel” é o cru do Soave.

O “Capitel Tenda”, da Tedeschi, é um vinho que considero o “companheiro de todas as horas”.



Sua cor dourada, seus aromas delicados e florais, suas notas minerais, o paladar fresco harmonioso e longo final, fazem do “Capitel Tenda” o companheiro ideal desde o aperitivo matutino, o almoço com peixes ou massas leves, a tradicional taça no final da tarde e finalmente o jantar.

O “Capitel Tenda” da Tedeschi não oferece a mesma estrutura e complexidade dos primos Prà, Pieropan, Suavia, Imana etc., mas é mais fácil de beber e custa a metade (8/10 Euros).



Soave “Capitel Tenda DOC”?

Imperdível.

Bacco

quarta-feira, 4 de junho de 2025

CAPE TOWN

 


Enquanto Bacco guia turistas da China e Estados Unidos pelas ruas de Portofino, eu piquei a mula para um dos poucos destinos que ainda oferecem a rara combinação –bom preço, ótima comida, nível de segurança aceitável, ótimos vinhos, natureza, exuberante, hotéis baratos. 

 

Pensou na Chapada Diamantina?

 

Ushuaia? Macedônia? Baghdad? Rio De Janeiro?

Errou. 

Poucos lugares me alegraram tanto quanto uma visita de 10 dias a Cape Town.  

O que tem de bom?



 A lista é infinita. 

Uma região enorme com vinhos para todos os bons gostos a preços ridículos.



Alugue um carro sem medo e percorra todos os lugares que quiser.  

DENTRO de Cape Town a margem do oceano do lado oeste já se encontra várias vinícolas que servem vinhos espumantes, não no mesmo nível de Champagne, mas muito frescos, alguns potentes...perfeitos com a comida local. 


 


Um pouco mais ao interior há muitas regiões com vinhos (e comida) de chorar.  

Alugue uma casa no ‘’interior’’ (na verdade muito perto de Cape Town).

Os preços são fabulosos. 

A comida?

Entre as melhores que já comi, só que para minha surpresa os ingredientes básicos, elementares tinham qualidade altíssima.

Coisas como carne, ovos, laticínios, leite, café...e tudo muito barato.  



Restaurantes com estrelas Michelin também custam uma pechincha. O nível da comida massacra vários restaurantes badalados no mundo...e os vinhos são um sonho (daqueles bons).  

Eu recomendo o Sausify, mas há muitos outros do mesmo nível.  

Uma “vinícola-haras’’ que gostei foi a Cavalli Estate.

 


Criada para satisfazer o ego de um Eike Batista, da África do Sul, que deu certo.

O lugar entrega uma vista maravilhosa, uma comida de altíssimo nível.  

Para os guerreiros que querem diminuir a glicemia após a esbórnia, há muitos passeios por parques por toda a região. 

Uma ida até o Cabo da Esperança vale seu tempo. 



Não se anime nos selfies....até o Vasco Da Gama  já passou por lá há mais de 500 anos.  

Para mim um sinal de civilização mais avançada é o fato do povo tomar espumante na praia.




 Cerveja, “queijo” de “coalho” e chup-chup chup roxo são coisas do bananal e outros lugares ainda mais subdesenvolvidos.

 Cape Town tem espumante na praia.  


Ao recomendar Cape Town me vem à mente como a nossa Ilha do Bananal oferece pouco, por muito caro. 


A Partir de:
R$ 725,00


Não temos segurança, os vinhos são pavorosos, caros, cansados, a comida ora um blefe, ora caríssima, os hotéis caros para dedeu. 

Me passam sempre a mão na bunda e nunca como alguém.  


No auge da era dos egos frágeis e do mau gosto, vários amigos ainda se sujeitam a várias horas no consulado americano para pagar uma fortuna por vistos e ainda pegar fila na Disney.




De prêmio, o infeliz ainda leva sogra e crianças.  

Perca as esperanças, você já nasceu errado.

 Ou no lugar errado. 

 Bonzo