Semana passada, um leitor, com uma ponta de nostalgia, lembrou
antigas matérias (2003/2010) em que B&B criticava, sem dor nem piedade, os
templos, da então, “gastronomia” candanga.
O certo seria escrever “GASTO-NOMIA”, pois
as panelas de Brasília nunca mereceram, nem do mais benevolente crítico, um
voto de excelência.
Aventureiros, funcionários públicos aposentados, empresários,
ex presidiário, dondocas, cozinheiros de 5ª categoria, socialites, etc.
acreditaram que as panelas brasilienses poderiam abrir as portas (de saída?)
do glamoroso mundo estrelado Michelin
Estrelas?
Nem pensar... não conseguiram nem uma lua minguante, mas desacreditaram,
para sempre, as frigideiras da capital.
Se alguém tentar recordar quantos restaurantes abriram e fecharam
as portas, nos últimos 20 anos, na capital brasileira, precisará da ajuda de
uma eficiente calculadora....
Hoje os paladares de Brasília são torturados em
estabelecimentos administrados por antigos maitres, garçons, sommelier, ajudantes de
cozinha etc. justamente daqueles restaurantes que fecharam as portas.
Se os paladares dos brasilienses são “torturados” o que dizer,
então, dos bolsos candangos?
Depenados, esvaziados, estuprados, violentados…
Escolha qual adjetivo preferir…. Não errará, nunca.
Acredite: para almoçar ou jantar, em Brasília, se gasta mais
do que nos restaurantes da sofisticada e exclusiva Santa Margherita Ligure, uma
das localidades turísticas mais caras da Itália.
Meu dinheiro não é capim e deixar R$ 300 na mesa, de um dos restaurantes administrados pelos ex funcionários dos finados “Gero”, “Porcão”, “Piantella”, “Piantas”, “Alice”, “Cielo”, “Viene Qua”, “Antiquarius” etc., não é exatamente meu mais recôndito e irresistível desejo, assim, quando quero comer algo diferente (uma ou duas vezes por semana), ativo minhas lembranças de viagens, entro na cozinha e tento reproduzir receitas que me impressionaram.
No último final de semana resolvi realizar uma receita de “pasta”,
muito interessante, que provei em uma ”trattoria”, bem popular, nas
proximidades de Gavi.
Antes de continuar é preciso informar que, na Itália, os
endereços gastronômicos se dividem, basicamente, em três categorias: osteria, trattoria, ristorante.
“Cantina” (adega em italiano) é uma
invenção brasileira.
Na adega se produzem e se estocam vinhos e na Itália ninguém,
a não ser Drácula ou seus descendentes, come em “cantina”
As “trattorie” são locais simples, informais, decorações rusticas, que propõem pratos fortemente ligados à culinária local ou regional.
É justamente nas “trattorie” e “osterie” onde, com frequência,
encontro pratos baratos, interessantes e inusitados (várias destas receitas podem
ser revistas pesquisando antigas matérias de B&B).
É preciso informar que, no almoço, a clientela das “trattorie”
e “osterie” é composta basicamente por trabalhadores, bancários, funcionários,
vendedores etc.
Para cativar e seduzir a freguesia são oferecidos menus fixos cujos
preços contidos raramente ultrapassam os 10-12 Euros.
A fórmula: 1 “primo” (prato de massa) + 1 “secondo” (peixe ou carne) +uma taça de
vinho da casa = 10/12 Euros.
A “Trattoria del Borgo”
propunha, para aquele almoço, uma receita de massa que jamais havia
experimentado: “Tagliatelle al Vino”
INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS
300/350 gr de tagliatelle (italianas, se possível)
1 garrafa de vinho tinto encorpado, mas pouco tânico
Queijo ralado, salsinha, sal
PREPARO
Leve uma panela, com agua, ao fogo, adicione um punhado de sal
grosso, deixe ferver e em seguida junte a massa.
Enquanto a massa cozinha (normalmente 10-12 minutos), em uma
frigideira de bordas altas, derrame o vinho tinto (utilizei um Merlot chileno)
e leve à ebulição.
Deixe o vinho ferver durante 3 ou 4 minutos até a total evaporação
do álcool e adicione, em seguida, uma concha da água de fervura da massa.
Coe e jogue a massa na frigideira do vinho, adicione o queijo
ralado (Parmigiano ou Grana), misture bem e sirva, sem esquecer de juntar mais um pouco de queijo e a salsinha picada.
Receita simples, mas de grande efeito visual e gustativo.
Para beber?
Um belo tinto….Barbera, Dolcetto, Chianti ou outro qualquer, mas
nunca as deploráveis e caríssimas garrafas nacionais.
Bacco
PS. Para não deixar "barato" resolvi prepara este antepasto que era o Pièce de Résistance no restaurante dos meus avós
Dia desses publico a receita...