Continuo firme na decisão de não mais visitar os consagrados e
mais badalados pontos turísticos da Europa.
Exemplo: Apesar de morar perto de Portofino (4 km) não visito
a famosíssima aldeia há mais de 6 meses e nem penso em voltar a colocar os pés
de Roma, Paris, Veneza, Londres, Madrid, Lisboa, Barcelona etc.
Cansei de ficar horas na fila para visitar museus, igreja, monumentos, pontos turísticos, ser mal atendido e ter a carteira estuprada em bares, restaurantes, hotéis, B&B. e similares.
Próximas de Santa Margherita Ligure, minha residência
italiana, há dúzias e mais dúzias de lindas aldeias medievais, desconhecidas,
livres da insuportável horda dos turistas “selfie-pizza-coca-cola”, que
merecem uma demorada visita.
Foi assim que, pesquisando com cuidado, conheci as interessantes Bobbio, Bardi, Vigoleno, Brugnello, Torrechiara, Castell’ Arquata, Campo Ligure, Pontremoli etc.
Semana passada resolvi passar um
dia na misteriosa e “desconhecida” Fosdinovo.
Fosdinovo, pequena aldeia medieval,
mergulhada nos Apeninos toscanos, quase na divisa com a Ligúria, guarda, em seu
território, um castelo do século XII que, por si só, vale a viagem.
Bem conservado, o castelo pertence, desde 1340, aos nobres
Malaspina.
Os descendentes dos
Malaspina e atuais proprietários, os Marqueses Torrigiani Malaspina, o
transformaram em uma refinada residência, onde eventualmente transcorrem
algumas temporadas, um museu onde os visitantes podem apreciar coleções de
moedas, cerâmicas, armas, instrumentos de tortura, quadros, móveis etc. e em um
refinado B&B
Como todos os castelos medievais o de Fosdinovo, necessita, também, de constantes manutenções e cuidados.
Os Malaspina, que desde o século XI não são bobos, cobram 10
Euros/pessoa pelas visitas guiadas e para aumentar o faturamento, na ala do
B&B, há um espaço para ricos e exclusivos casamentos.
Para se ter uma ideia, do valor de algumas peças expostas no museu,
os Marqueses Torrigiani Malaspina, quando resolveram construir o B&B e o
espaço para núpcias, decidiram vender um mosquete do século XVI.
O dinheiro obtido, com a venda da antiga arma, foi mais que
suficiente para realizar a reforma e decorar todas as novas instalações do
castelo.
Mistérios, lendas de bruxas, lobisomens, fantasmas etc.,
estão presentes em todas as aldeias medievais e Fosdinovo
não foge à regra......
N castelo dos Malaspina há inúmeras lendas, mas as duas mais
conhecidas e como quase sempre trágicas, são a de Bianca Maria Aloisia Malaspina e da Marquesa Cristina Pallavicini.
Diz a lenda que Bianca Maria, filha do marquês Malaspina, se
apaixonou por um criado do castelo (amor impossível na idade média).
Furioso, com aquele amor “plebeu”, Giacomo Malaspina matou o
amante da filha e a emparedou, em seu quarto, com cachorro e uma
cabeça de javali.
Conta, a lenda, que nas noites de lua cheia o fantasma de
Maria perambula pelo castelo acompanhada por um cão e um javali.
A Marquesa Cristina Pallavicini
era conhecida por ser malvada, traiçoeira e devassa.
Cristina, teve muitíssimos amantes que eram vistos entrar em seus aposentos, mas nunca e ninguém os viu sair...
No quarto da marquesa, até hoje, é possível notar, ao lado da
cama, a presença de um alçapão cuja função era esconder um profundo poço
repleto de laminas cortantes e pontiagudas.
Conta, a lenda, que depois de satisfazer sua luxúria carnal,
Cristina sorrateiramente abria a alçapão e empurrava o exausto e semiadormecido
amante no mortal buraco
Para não ter que conviver com maus odores dos corpos em
decomposição, a marquesa ordenava que jogassem, com muita frequência, abundante
cal virgem no poço.
Dois comoventes exemplos de “ternura “ praticada, com muita frequência,
pelos nobres na idade média.....
A visita matinal termina as 11 horas e permite um passeio pelas duas
únicas ruas da aldeia e suas três igrejas.
Outra atração, imperdível, em Fosdinovo é a “Trattoria Quinta Terra”.
Um antigo estábulo, localizado bem na entrada do castelo,
hospeda, hoje, um ótimo restaurante.
Preços convidativos, matéria prima boa qualidade, cozinha tradicional, mas com toques criativos, a “Trattoria Quinta Terra” é um endereço que recomendo com entusiasmo.
Ia esquecendo......Quinta Terra, também produz pouco mais de 7.000 garrafas de
seu próprio vinho.
No almoço provei o Vermentino dei Colli di Luni “Tziveta”, da casa e.... Gole vai, gole vem, bebi três taças.
Não sou um admirador dos “Vermentino” lígures ou toscanos,
pois os considero bem inferiores, em qualidade e complexidade, aos primos da
Sardenha, mas o “Tziveta” me surpreendeu,
assim, após infrutífera negociação para obter desconto, desembolsei 30 Euros e comprei 2 garrafas.
Confira
Bacco