Os números do turismo europeu, de 2024, são estonteantes.
A Espanha foi “invadida” por mais de 320 milhões de turistas
estrangeiros, a Itália por mais 250 milhões, a França por 138 milhões e,
pasmem, o pequeno Portugal, por 88 milhões.
Se adicionarmos o turismo interno os números alcançam a
estratosfera: Espanha 501 milhões, Itália 458 milhões, França 450 milhões.
Se compararmos o recorde dos 6,6 milhões de turistas, que em
2024 visitaram o Brasil, percebemos quão ridículo é o ufanismo oficial que
comemora o número como mais uma grande conquista.
O ufanismo
é sempre direcionado aos mesmos parvos que acreditam viver em um paraíso
terrestre onde se bebe os melhores espumantes, os vinhos ganham prêmios em
todos os concursos do planeta, se produzem os melhores queijos, tem o melhor futebol,
o povo mais alegre do mundo e somos os maiores nisso, naquilo etc
A realidade é outra, assim, “6,6 milhões de turistas” é mais
das muitas piadas sem graça que já conhecemos e não fazem mais sorrir.
Voltemos aos incríveis números do turismo europeu.
Se nossos números são ridículos os do continente europeu não
podem ser vistos nem admirados como se fossem um mar de rosas e prosperidades.
Na última década
assistimos, impotentes, ao crescente fenômeno do “turismo-masoquismo”.
O turismo trouxe, sim, riqueza para alguns, mas os problemas,
provenientes e gerados pelo hiper-turismo, são muito maiores e já começam a
causar até revolta nos moradores de inúmeras cidades europeias.
Exemplo: A prefeitura de
Portofino instituiu multa de até 275 Euros para os turistas que pararem por
muito tempo à procura de um ângulo perfeito para o “selfie”.
As paradas longas dificultam e impedem a circulação dos
visitantes nas três estreitas ruelas, na única pracinha e cais da aldeia.
Portofino, aldeia de pouco mais de 350 habitantes, durante o
inverno parece um cemitério, mas na primavera, verão e outono é invadida,
diariamente, por uma horda de turistas (12/20 mil, média diária) que mal
consegue se locomover em suas três minúsculas ruelas e na única pracinha.
Portofino é apenas uma entre centenas de localidades onde o
turismo “escorraçou” os habitantes e se transformou em um grande “Airbnb”
Em Portofino já não é possível comprar um quilo de carne ou de
peixe, café, caderno, toalha de banho, detergente, desentupidor de pia,
parafusos etc.
O pequeno comércio local desapareceu totalmente, cedeu seu espaço
a bares, restaurantes, lojas de caríssimos e falsos souvenires (todos Made in
China), boutiques de “griffe” famosas e até uma igreja exilou Jesus e hoje vende
roupas de etiquetas famosas.
Portofino é apenas um pequeno exemplo do que aconteceu nos
centros históricos de Roma, Firenze, Barcelona, Paris, Veneza, Madrid, Londres
etc.
Os centros das cidades
se transformaram em enormes redutos de B&B e Airbnb onde milhares de apartamentos são
“abandonados” pelos proprietários que, visando aumentar suas rendas, os alugam por
breves períodos e preços salgadíssimos.
Os turistas
substituíram os moradores e sem moradores o comércio local vai aos poucos, mas
inexoravelmente, definhando.
Resultado 1: Nos centros históricos das cidades há inúmeras
lojas de portas fechadas ostentando o cartaz de “aluga-se”.
Resultado 2: Todas as cidades eminentemente turísticas se
tornaram iguais, previsíveis, enfadonhas.
O turismo trouxe a riqueza, bonança, bem-estar?
Para alguns poucos donos de imóveis, sim, mas para a maioria
dos moradores sobram apenas migalhas e custos sempre mais elevados.
Exemplo: estacionar um carro em Paraggi, distante 2 km de Portofino,
custa 8 Euro/hora
(R$ 52).
Se para os moradores de renomados centros turísticos a vida
se transformou em um purgatório, os turistas não encontraram o Éden.
Já nos aeroportos os turistas-masoquistas são severamente
torturados.
Longas esperas em intermináveis filas nos embarques, atrasos
ou cancelamento de voos, aviões sujos, poltronas sempre menores, serviço de
bordo inexistente ou ridículo, mas nada se compara aos “torturantes” controles
de imigração.
Exemplo: no aeroporto
de Lisboa, onde os brasileiros, depois de longas horas de voo e empalados nas
poltronas “Tap-Masoch” são tratados como gado pela imigração portuguesa.
Quando o turista, depois de horas, consegue passar pelo “suplicio-imigração”,
acredita que o pior já passou, que nada poderá ser pior do que sua passagem
pelo aeroporto de Lisboa, corre saltitante e alegre para visitar museus, igreja,
monumentos históricos etc. das grandes capitais do turismo europeu.
Em poucos dias, depois de visitar, ou pelo menos tentar, os
monumentos, museus, igrejas, pontos turísticos de Paris, Barcelona, Madrid,
Roma, Veneza, Florença, Londres etc., chegará à conclusão que aeroporto Salgado
Filho não era tão ruim assim....
Mais uma coisinha: Com Euro beirando os R$ 6,6 o brasileiro normal,
comum, classe média, deve absolutamente evitar as ruas, Condotti (Roma), Monte
Napoleone (Milão), Champs-Elysées (Paris) …. Vai se sentir um borra-bosta.
O Brasil, com seu imenso território, sua natureza exuberante,
suas belíssimas praias e outras incontáveis e encantáveis atrações, poderia ser
uma válida e interessante opção turística, mas, para não correr maiores riscos, oturista deveria con$eguir um salvo-conduto, emitido pela facção dominante local, para não ser
assaltado, perder celular, relógio, aliança, correntinha e , quem sabe, a vida
Mais um “aviso aos navegantes”: Na Itália inúmeros
restaurantes e bares estão assaltando os enófilos cobrando preços astronômicos
pelos vinhos.
Um estudo, recente, informa que, na "viagem" do produtor até a taça, o
vinho pode aumentar em até 600%.
O verão europeu está chegando.
Boa viagem, então......se puder e tiver sorte.
Bacco