Como disse, na matéria em que falei do
restaurante Fricska 2.0, comer bem em Budapeste não é difícil: ter uma refeição
excepcional, contudo, é mais complicado.
Mas há vários lugares em que a comida, embora
simples, é saborosa e mostra que a Europa Central tem seus grandes momentos.
Duas áreas em que os húngaros se sobressaem
são a charcutaria, com excelente produção de embutidos, e a confeitaria, que,
nos tempos de Áustria-Hungria, era o contraponto aos doces franceses.
Começo por recomendar o Belvárosi
Disznótoros, visitado pelo falecido chef Anthony Bourdain em seu programa de
TV.
Trata-se de um lugar simples, em que a
carne tem papel principal – seja nos grelhados, como o delicioso lombo de porco
da raça Mangalica, seja nos assados, como pato ou joelho de porco.
Para acompanhar, saladas de maionese,
purê de batatas ou repolho, entre outras opções.
O pedido é feito no balcão (grelhados, de um
lado; assados, de outro) e não há qualquer serviço de mesa, mas a comida é boa,
barata e farta.
Para beber, pegue uma cerveja ou uma taça de
fröccs, o spritz que mistura água com gás a um dos vinhos da casa.
Belvárosi Disznótoros
Király utca 1/d
Funciona todos os dias, no mínimo entre
12h e 20h, aceita cartões
Metrô mais próximo: Deák Ferenc
https://belvarosidisznotoros.hu/en/
Outro endereço interessante é o
Ferdinand, restaurante monarquista que serve especialidades de todas as regiões
da antiga Áustria-Hungria, como a sztrapacska (espécie de gnocchi com queijo de
cabra, de origem eslovaca) e o excelente schnitzel à moda de Viena.
Gosto bastante da sopa goulash deles, a melhor
que provei em Budapeste, e atenção: a carne ensopada que costumamos chamar de
goulash se chama, na verdade, pörkölt – na Hungria, goulash (pronuncia-se
güiásh) se refere à sopa feita com os mesmos ingredientes.
Assim como o Belvárosi Disznótoros, o
Ferdinand não prima pela variedade ou qualidade dos vinhos, mas, por outro
lado, faz a própria cerveja – que é deliciosa.
Ferdinand Monarchia
Király utca 76
Funciona todos os dias, entre 12h e
22h, aceita cartões. Recomendável reservar em caso de mais de cinco comensais
Metrô mais próximo: Oktogon
https://ferdi.hu/
O fast-food húngaro por excelência é o
lángos, um pão ázimo frito e servido com as mais diversas coberturas – a mais
famosa leva um pouco de molho de alho, sour cream e queijo em tiras.
Há diversos lugares em que se pode
provar lángos, e os melhores são os dos mercados de bairro (o que exclui o
Mercado Central, uma macumba para turista na qual você não deve gastar um
centavo), como o da praça Lehel (metrô Lehel tér).
Se você não tiver tempo, ou paciência,
para visitar um verdadeiro mercado hortifruti húngaro, o jeito é rumar para o
bom e badalado Retro Lángos, nas imediações da Basílica de Santo Estêvão, e
deliciar-se com as ofertas deles – há até opções sem glúten e veganas, se você
se preocupa com essas coisas.
Retro Lángos
Bajcsy-Zsilinszky út 25
Funciona todos os dias, entre 11h e
22h, aceita cartões
Metrô mais próximo: Arany János utca
https://retrolangos.hu/en/
O grande influxo de empresários e
estudantes chineses em Budapeste fez com que, junto com os restaurantes de
comida tradicional e da Europa Central, a cidade ganhasse uma série de lugares
com comida tailandesa, vietnamita, coreana e de vários outros pontos da Ásia.
Como você pode ter acesso a quase tudo
isso no Brasil (ou em várias outras cidades da Europa) e não sou especialista
em comida asiática, não farei nenhuma recomendação.
Mas, já tendo passado uns
meses em Tbilisi, capital da Geórgia, confesso que gostei bastante do
Hachapuri, restaurante de comida georgiana para onde levei vários dos meus
amigos em Budapeste – e todos, sem exceção, adoraram.
A comida georgiana é para a Rússia o que
a comida “mexicana” é para os EUA: a opção mais popular e mais enraizada na
cultura do país.
Se quiser provar um bom hachapuri (escrito com
ou sem a letra K no início), bons hinkali (idem) ou outras delícias do Cáucaso,
esse restaurante em Budapeste é uma opção bem interessante.
Hachapuri
Budapest, Bajcsy-Zsilinszky út 17
Funciona todos os dias, entre 12h e
23h, aceita cartões
Metrô mais próximo: Arany János utca
https://hachapuri.com/
Quanto à alta gastronomia, tive também
uma boa experiência no Caviar & Bull (Erszébet korut, 43-49), que tem uma
unidade em Budapeste e outra em Malta, mas a conta, ao redor dos 150 euros,
recomenda prudência.
Da mesma forma, comi bem no Borkonyha (Sas
utca 3, próximo ao metrô Deák Ferenc), mas, por ter-me restrito às entradas,
seria leviano fazer uma recomendação efusiva.
E, infelizmente, saí de Budapeste sem ter
visitado o Essência (Sas utca 17), restaurante luso-húngaro que me havia
despertado curiosidade.
Sobre as confeitarias: se você ou sua
cara-metade são celebridades do Instagram, já devem ter visto mil postagens
sobre o New York Café (Budapest, Erzsébet korut. 9-11, perto do metrô Blaha
Lujza tér), café do início do século passado que é, de fato, belíssimo.
Se quiser fazer a postagem número 1001, pode
entrar, mas saiba que vão pagar caro (cerca de 30 euros por pessoa) por uma
comida mediana e que, lá dentro, só a decoração e a arquitetura impressionam.
Fui apenas uma vez, com minha mãe, e
concordamos que a confeitaria, o café da manhã e as bebidas deixam muito a
desejar – mesma impressão que tive do também famoso Café Gerbeaud, na praça
Vörösmarty.
Ah, sim... há uma outra coisa que me
surpreendeu no New York Café: os turistas que lá se empilham (e formam fila na
entrada) são muito, mas muito malvestidos.
Dê uma banana aos dois e tome seu café
da manhã nas padarias Läget (Bajcsy-Zsilinszky út 49, perto da estação Nyugati
Pályaudvar) ou Lui (fechada aos domingos; Aulich u. 7, perto do metrô Kossuth
Lájos tér) e, na hora de escolher uma boa sobremesa, vá a uma unidade da
confeitaria Szamos, como a da praça Vörösmarty.
Lá, um mundo de tortas, bolos e
sorvetes te aguarda, com preços bem mais em conta.
LEMBRANÇAS GASTRONÔMICAS
Além disso, duas lembranças gastronômicas
costumam, merecidamente, ser levadas como souvenirs: páprica (em pó ou em
pasta) e foie gras, mais dois orgulhos da culinária húngara.
Boa parte do foie gras que abastece os
restaurantes europeus vem da Hungria, cuja produção antecede o período comunista,
e onde os preços são, vá lá, realistas.
Se você não tiver mala despachada,
deixe para comprar no duty free: a diferença de preço não é tão grande
e, por mais que foie gras não seja líquido, a segurança do aeroporto de
Budapeste, caso detecte um bloco na sua bagagem de mão, confiscar-te-á a
iguaria sem a menor cerimônia.
Sobre a páprica, pode comprar nos
supermercados, sem risco. Prefira a da região de Kalocsa (a palavra “kalocsai”,
nos pacotes de páprica, indica a DOC onde essa saborosa páprica é produzida).
Se quiser páprica doce, procure a palavra édes na embalagem; se quiser a
picante, procure as com a palavra csípős – no início do ano, levei uma
de cada para Dionísio, que ainda tem muitas recordações da picante.
WINE BARS E LOJAS (CULINARIS, DROPSHOP)
Com a boa produção de vinhos no país, é
natural que Budapeste tenha uma profusão de boas enotecas.
A primeira que
merece destaque é a Divino (Szent István ter, 3, em frente à Basílica de Santo
Estêvão, e em outros dois endereços na cidade), cujo repertório conta com umas
cinquenta opções de vinhos húngaros em taça, para todos os gostos e bolsos.
Pode ser turístico, mas a localização central e o sortimento tornam o lugar
recomendável.
Também merece destaque o elegante wine
bar Marlou (Lázar utca 16, atrás do prédio da Ópera), com alguns pratos
ligeiros bem interessantes; não esqueço do creme de cogumelos que lá provei uma
vez.
E que, em oposição ao New York Café, seus frequentadores se vestem muito
bem... será a proximidade com a Ópera e a glamourosa avenida Andrássy, a mais
bela via de Budapeste?
Outra enoteca bastante interessante é a
Dropshop (Balassi Bálint utca, 27, próxima à parada do bonde 4/6 na Jászai Mari
tér e não muito longe do Parlamento), que tem cerca de trinta opções em sua
carta e nela inclui vinhos estrangeiros – até mesmo champagne de pequenos
produtores, ainda que a preços não muito convidativos.
De premier cru da
Borgonha a tintos austríacos, passando por pérolas locais, também vale a
visita.
Prepare a carteira e não se assuste com o pouco movimento... nas minhas
incursões, nunca vi o lugar com mais de três mesas ocupadas ao mesmo tempo.
E,
importante: o Dropshop não abre aos domingos.
Mas o meu bar de vinhos preferido em
Budapeste, e o que mais recebeu minhas visitas, é o Bortodoor (Zichy Jenő, 32,
próximo ao metrô Oktogon), direcionado para os expatriados que vivem na cidade.
Comandado pela dupla Smike (americano) e Suze (britânica), o lugar tem uma vibe
bacana e vive lotado – sendo assim, chegue cedo ou, melhor, reserve uma mesa.
As opções de vinho em taça são em torno de vinte, mesclando o melhor da
produção húngara a umas garrafas estrangeiras, e, à parte um ou outro Primitivo
ou Malbec, uma seleção bastante inteligente.
Um bom dia para ir ao Bortodoor é
o domingo, quando a casa tem a promoção “Drink the Losses”, em que os vinhos
abertos nos dias anteriores são colocados com desconto até que suas garrafas
sejam finalmente secas.
Com isso, encerro (por ora) as
transmissões húngaras, ao menos por ora.
Zé