Todos os consumidores, que entram no
mundo do vinho, iniciam sua jornada sempre através de uma visão idílica, poética
e romântica.
Cachos pisados na cantina, fermentado
com a supervisão de um velhinho simpático, passagens por tonéis, barricas,
garrafas e finalmente á nossas taças.
“Veja que delicioso esse Tempranillo
espanhol”
“Que maravilha esse Barbera italiano”
“Que
delícia de Cabernet chileno”.
São frases elogiosas e declaradas para
todos os vinhos do mundo...
Certa feita um amigo meu, ao degustar
um vinho americano, revelou que sentia o aroma do solo da Califórnia.
Um belo dia, sem ter nada melhor para
fazer, fui passear e perder meu tempo perto da fronteira do Chile e Argentina
na província de Mendoza.
O número de caminhões, trafegando de lado para
outro, já deveria ter sido alvo de documentário digno de Oscar.
Ou um prêmio qualquer, tipo "Capivara
de Ouro" ou algo assim, do cinema nacional.
Proponho Sonia Braga, toda empoderada,
no papel principal e dirigindo um caminhão, cheio de vinho, do Maule até
Valparaiso.
De lá, o vinho, segue até a Espanha onde,
milagrosamente, se transforma em um vinho puro sangue espanhol e reenviado para
todos os lugares do mundo....
Nos USA, durante a entressafra do
leite, os mesmos caminhões que carregam o produto das vacas, são largamente
usados para transportar o vinho (capitalismo.... viva a economia de escala!).
Grandes vinícolas estão ganhando
fortunas abastecendo indústrias menores com containeres repletos de vinhos
A vinícola menor, sem capacidade de
aumentar a produção, compra vinho de outra, coloca seu rótulo nas garrafas e
sai vendendo vinho, "batizado", pelo mundo.... exclusividade tem,
agora, mais uma definição.
Digamos que dói saber que 25% dos vinhos
do mundo são transportados em caminhões-tanques para cima e para
baixo.
Alguém já percebeu que, em muitos
lugares do mundo, os vinhos com denominação geográfica não muito rígida, mas declarada
na etiqueta, nada tem a ver com seriedade?
O que acontece?
Muitas vezes é possível apresentar o vinho de "origem garantida" desde que a
percentagem (hipoteticamente 75%, um pouco mais, um pouco menos) seja realmente
de uma variedade cultivada na região.
O que acontece com outros 25% é mágica pura e......
containers?
O mercado de vinhos em container (bulk
in english) apresenta, atualmente, crescimento vigoroso.
BEM VIGOROSO: São quase 7 anos de crescimento
tipo chinês.
Motivos há muitos.
Vejamos alguns:
Crescimento de "private labels" por parte de
hotéis, restaurantes, importadores e distribuidores.
Cidadão entra numa churrascaria, de
uma rede qualquer, e pede o vinho da casa.
Alguém acha que um famoso Chateau de
Bordeaux destinou parte da produção com nome milenar deles para atender a esse
novo cliente?
acorda!!!!!!
Encomenda e compra vinho do Chile, da Austrália,
faz um blend qualquer e põe o rótulo que o cliente inventou.
È possível, todavia, explicar o vigoroso
aumento do comércio (e dos preços) de vinhos em containers: quedas de
produtividade no Chile, Argentina, Espanha, Itália e até na Califórnia, por conta do querido clima.
Por essas e por outras, que estou sem
paciência para gastar dinheiro com vinho do novo mundo.
Espero que você tenha entendido: Toda vez que receber
um e-mail com desconto de 80% (EU
QUERO!!) no vinho italiano, francês, espanhol etc. há uma chance enorme de
o seu vinho ter sotaque argelino, chileno, australiano...
Não configura crime vender vinho
produzido por outros portando minha etiqueta, mas soa, no mínimo, como
desconfortável omissão dos fatos...... Mais uma vez.
Em tempo: o mercado
de azeite padece dos mesmos males e comportamentos.
Bonzo