Enquanto Bacco escrevia, mais uma série de lamúrias, a respeito dos grandes ex-vinhos de Borgonha e da taxa de câmbio, eu pensei na relação, muito próxima, que há no mundo do cinema e dos vinhos.
Numa década de 50 qualquer, se gastava um tempo enorme para pensar,
escrever, projetar, fazer e lançar um filme, mas a espera geralmente era
recompensada.
Grandes nomes faziam grandes filmes.
Passou o tempo e os estúdios foram se modernizando, incorporando tecnologia
às filmagens, massificando roteiros e lançando filmes à velocidade da vida
moderna.
Se não desse certo no cinema,
mandariam tudo para VCR e/ou (mais tarde) DVD.
E hoje temos Netflix (entre muitas outras) parindo séries medianas a
cada semana e com atores de baixo orçamento.
Giro, giro, giro........
Capitalismo do fluxo de caixa,
antes, preocupação com qualidade, depois.....
Com um pouco de sorte e muita boa
vontade, no meio do furacão de lançamentos, podemos achar algo que permaneça na
memória por alguns parcos meses ao invés de três únicos dias.
Não!
Afinal, não conheceram o que não perderam, tampouco tem paciência para mais
de 80 minutos de filme.
As novas gerações querem filmecos
sem nenhuma profundidade, sem interrogações, de consumo rápido, mas com muita
militância da moda (que será esquecida em tempo também recorde).
Kubrick deve estar girando no túmulo no ritmo de cada lançamento de “Velozes e Furiosos’’ ou do milésimo filme de super-herói militando por uma sociedade
mais justa, menos assédio sexual na sala de justiça e salario igual para a
Mulher Maravilha e Super Homem
Onde entra, então, a Borgonha de Bacco?
Ninguém que seja proprietário em vinícola pro-lucro está hoje focado em
fazer vinhos que são grandes e o serão pelos próximos 30 anos, tendo em conta
que o mercado atual não quer isso.
O consumidor “eno-mala-militante”
não sabe nem que saber da riqueza histórica, filosófica, agronômica e cultural
em consumir um vinho seco e intacto depois de 30 anos na garrafa, mas, sim,
adora falar em vinho green, sustentável, vegano (Enoloide que enche a
paciência, faz barulho na internet e nem compra tanto assim para ter essa fama
toda).
Conheci Borgonha em 2002 e fiz glut-glut com os vinhos da Côte D’Or sem
ter a mínima noção do que estava fazendo.
Quando amadureci, um pouco mais,
já não tinha condições de pagar pelos grandes vinhos da terra santa.
Não sei o que não estou perdendo.
Lamento pelos que o sabem.
A boa notícia, depois de tudo isso?
Para cada ex-vinho épico de Borgonha podemos comprar com o mesmo custo
umas 6 garrafas (no mínimo) de vinhos muito agradáveis da Austrália,
Nova Zelândia, África do Sul, Espanha, Grécia, Portugal, Itália, Sul do Chile,
das altitudes da Argentina, e inúmeras
regiões produtoras dentro da própria França.
Quando os consumidores aprenderão a buscar alternativas excelentes a
vinhos com qualidade e preços fora da realidade?
Quando saci-pererê cruzar as pernas.
Percamos as esperanças.
Bonzo