Sabem há quantos anos se produz vinho na Itália?
Ninguém sabe ao certo, mas há provas que os etruscos o
produziam já no século XII A.C.
Os etruscos viviam no centro da Itália, mais precisamente nas
atuais regiões do Lazio, Toscana e Úmbria.
Há muitos documentos que atestam atividades etruscas na
extração de cobre, prata e ferro nas “Colinas Metalíferas” da Maremma toscana,
mas raros e de pouca importância, os da viticultura na mesma região.
É presumível, então, que a Maremma, desde a antiguidade, não
fosse conhecida e reconhecida por sua excelência vinícola.
A Maremma sempre foi famosa por seus pernilongos e pela
malária.
É bom lembrar que no final do século XIX a expectativa de vida,
na Maremma, era de apenas 23/25 anos (uma das menores da Europa).
Durante séculos a malária foi parte integrante e o fantasma na
vida dos agricultores da região.
Acreditava-se, no passado, que a malária se difundisse através
das aguas estagnadas e malcheirosas do imenso pântano “maremmano”.
Somente no final do
século XIX descobriram que o pernilongo era o transmissor da doença.
No final dos anos 1890 calculava-se que 40% da população local
fosse afetada pela malária.
Pobreza, analfabetismo, “brigantismo” (uma espécie de cangaço local)
e malária, eram os principais causadores da miséria na Maremma onde a população,
além de malária, morria de fadiga, frio e fome.
Para ter uma ideia, do
drama da Maremma, é preciso lembrar que em pleno 1970 ainda foram registrados casos
de malária na região.
É fácil deduzir, então, que o preço das terras fosse baixíssimo
e que ninguém as quisesse nem para plantar batatas.
Em 1980 um hectare, em
Bolgheri, custava 15/20 milhões de Liras (7,5/10 mil Euros).
Depois da “descoberta” do Sassicaia, graças a Mario Incisa
della Rocchetta, os mesmíssimos 10 mil metros, nas terras dos “Aias”
(Sassicaia, Solaia, Ornellaia, Piastraia, Brancaia, etc.) custam, míseros, 300/500 mil Euros.
Os preços incharam graças aos “Zé
Manés” que continuam comprando, por 200-500-1.000 Euros, vinhos
franceses feitos na Toscana.
Que beleza......
Mas falemos algo sobre o marquês Mario
Incisa della Rocchetta.
Em 1960, na Maremma, só
havia pernilongos e talvez batatas, mas por entre nuvens de insetos e toneladas
de túberos, surgiu o “Cristóvão Colombo” das vinhas: Mario Incisa della Rocchetta.
O marquês, Incisa della Rocchetta, em 1930, levou ao altar,
Clarice della Gherardesca, filha do conde Giuseppe della Gherardesca.
Clarice trouxe, como dote, 600 hectares em “San Guido” no
distrito de Bolgheri (Castagneto Carducci).
Mario, sem saber o que
fazer com aquelas terras cheias de pedras (Sassicaia pode ser traduzido: terreno pedregoso),
de pouco valor e na malárica Maremma, resolveu plantar videiras para produzir
vinho para o consumo da família.
Não Sangiovese, como seria o normal na Toscana vinícola, mas
Cabernet Sauvignon.
Em tempo......Os marqueses Incisa della Rocchetta produzem
vinho no Piemonte e mais precisamente em Rocchetta Tanaro, desde a idade média
e Mario estudou agronomia na universidade de Pisa.
Mario Incisa della Rocchetta, que de viticultura entendia
muito, sabia perfeitamente que jamais poderia obter um grande vinho vinificando
o Sangiovese na Maremma.
A Sangiovese é uma casta que nunca deu ótimos resultados na
região, aliás nunca e nenhum vinho fez história na Maremma.
Terra barata e que ninguém queria, visão, perspicácia, muita grana,
críticos amigos, canetas influentes......
A opção mais acertada: Vinho
internacional para o mercado americano e para estrangeiros com muita grana e
pouco conhecimento.
A caminhada é longa (deveria escrever 10 matérias...), mas, um
belo dia, Mario encontra uma caneta para ninguém botar defeito: a caneta, do grande amigo Luigi Veronelli, o mais renomado crítico
italiano daqueles anos, que assim descreve, em 1974, o Sassicaia de Mario
Incisa della Rocchetta: “Um êxtase para
a mente”
O resto é o resto....
Hoje os nobres
produtores de Bolgheri e arredores, somente entregam seus “preciosos” Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot, Syrah, etc. com sabor madeira,
baunilha, chocolate, impenetráveis, mastigáveis, alcoólicos etc., por nada míseros
200/300/500/1.200 Euros.
Masseto 2015
75clParabéns!
Souberam comprar as canetas certas, no momento certo e criar o
exército de Zé Manés certos.
Alguém argumentará: “Mas descobriram
em tremendo terroir que deu vida a grandes vinhos”.
Sim, está certo, mas o interessante é que, desde os etruscos, passando pelos romanos e chegando aos anos 1980, o único vinho da Maremma que despertou um pouco, mas pouco mesmo, interesse foi o “Morellino di Scansano” que custa 10/12 Euros.
Sempre é bom lembrar, também, que nossos queridos e nobres
toscanos produzem vinho na região há séculos
Veja desde quando:
Antinori = 1385
Mazzei (Castello di Fonterutoli) = 1435
Frescobaldi = 1300
Guicciardini-Strozzi
= 994
Ricasoli = 1141
Incisa della Rocchetta – Gherardesca = 1300.
Pois é, que interessante.... Demoraram quase 1000 anos para
“descobrir” que Bolgheri era o paraíso das vinhas.
Falando sério: Bastou que Mario Incisa Della Rocchetta
molhasse algumas mãos e transformar seu Sassicaia, que até 1972 era apenas para
consumo da família e “faceva cagare”, nos icônicos vinhos dos Zé Manés.
As mãos abençoadas?
Luigi Veronelli, Hugh Johnson, Robert Parker etc.
Os Zé Manés?
Um monte.
Bacco
Hahahahaha! na mosca, ou seria nos pernilongos
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