No começo dos anos 2000 a figura do enólogo “Pop Star” começou
a perder seu brilho e sua importância.
A figura do “mago dos vinhos”, que ganhara injustificado glamour,
nos anos 80, serviu, a bem da verdade, para popularizar o vinho em todos os
cantos do mundo, mas o preço pago, para atingir esta popularização, foi grande.
A ânsia de vinificar produtos, que pudessem obter altas
pontuações (95/100) nas revistas americanas, especializadas em promover vinhos
que agradassem ao seu maior guru, Robert Parker, os industriais do vinho, de
todos os cantos do mundo, não mediram esforços para “macdonaldisar” suas garrafas.
Enólogos, até então, anônimos trabalhadores das vinhas e das mal
iluminadas adegas, saíram das penumbras para ganhar o brilho dos holofotes e o
endeusamento da mídia especializada.
Começava a padronização do vinho.
Foi a gloria da “Merlotização”,
“Cabernetização” e da “Chardonayzação”
uniforme em todos os cantos do planeta.
Difícil distinguir um Cabernet Sauvignon chileno de outro sul
africano.
Impossível perceber a diferença entre um Merlot Argentino e um
australiano.
Chardonnay, então, é bom nem falar…todos exatamente iguais,
monótonos, cheios de madeira.
Os únicos diferentes, como sempre, os franceses.
Os da Borgonha, em primeiro lugar, que não se curvaram aos
Parkers da vida (fácil?)
Os vinhos “de autor” deveriam, obrigatoriamente, ter as mesmas
características: Muito alcoólicos, impenetráveis, potentes, concentrados e,
quanto mais madeira, melhor.
As barbaridades que os enólogos fizeram com as uvas, para
conseguir vinhos “premiáveis”, são inimagináveis e impublicáveis.
Querem uma pequena amostra do arsenal usados e abusados pelos
“winemakers”?
Concentradores, osmose inversa, taninos hidrolisáveis, barrique americana de primeira passagem, adição
de glicerina, os abomináveis chips de madeira,
aromas artificiais e uma infinita relação de incontáveis e inomináveis práticas
vinícolas.
O enólogo “consultor” me faz lembrar um ator pornô: O ator faz
sexo sem amor, o winemaker faz vinho pensando na cor de sua Maserati.
O enólogo mais “pontuado” era disputado por vinícolas
argentinas, chilenas, americanas, sul africanas australianas, neozelandesas,
italianas e pasmem, até, brasileiras.
Quem não recorda a parceria Miolo-Rolando
Lero?
O resultado foi aquele que sempre combati: Vinhos iguais,
monótonos, sem personalidade com muita adega e pouca vinha.
O Rolando Lero,
em uma antológica entrevista de 2010, afirmava que:”…se os
indianos querem vinho com sabor de curry nós o produziremos......O vinho deverá
ser como a Coca Cola e como a Coca Cola deverá adaptar seu sabor ao gosto e
exigências do mercado”.
O Rolado Lero era o profeta do apocalipse.
No começo dos anos 2000 a figura do enólogo, antes quase endeusada,
virou a “Gení”:
Ninguém mais queria os “Vinhos de
Autor”, ninguém mais
suportava a monotonia presente em todas os vinhos “Mac Donald”.
O mercado, especialmente o americano, reaprendeu a beber
melhor, acordou, de um quase pesadelo enológico, percebeu que estava sendo
manipulado e conduzido pelo cabresto por interesses comerciais e que consumia
vinhos que não refletiam território, cultura e características de cada casta.
Hoje o consumidor quer diversificação e foge da camisa de
força de um estereótipo sufocante ditado pelo enólogo da moda.
Abre-se o espaço para vinhos que revelam, sem complexos de inferioridade,
suas características territoriais, culturais e que tenham aromas, cores, personalidades,
diferenciadas.
Posso dizer uma coisa?
O enólogo “fashion”, o enólogo “star”, o enólogo ditador, a
serviço dos críticos americanos e dos arredores, morreu.
Viva o vinho do enólogo anônimo, o enólogo que sabe e quer
fazer vinhos com tecnologia moderna, mas sem violentar e soterrar a
característica, cultura e história do território.
Viva o vinho com sabor genuíno (não confundir com aquele do
mensalão...).
O Brasil de pouca, para não dizer, nenhuma tradição vinícola
permanece na contramão.
Os produtores tupiniquins, cuja seriedade consegue ser
inferior à qualidade de seus vinhos, continuam tentando impor o enólogo como
semideus das uvas.
A última tentativa de
endeusar um enólogo(a) foi praticada pela Carraro elogiando aquela coitada que
“inventou” o surubático (Scar)Faces.
Falta, como sempre, seriedade.
Dionísio
Como enólogo, vejo as duas possibilidades com tranquilidade: a do vinho reflexo do terroir, mais raro mais caro, mais trabalhoso; e o vinho "fabricado", padronizado, para vender barato e agradar à maior parte dos consumidores. O que não admito é fazer do segundo um "grande vinho". Discordo que seja mais fácil elaborar (fabricar?) o vinho mais comercial: ele exige uma boa expertise em que e em quanto corrigir para diferentes vinhos. Nesse sentido, vejo mérito do técnico que consegue fazer esse trabalho, mas não necessariamente no produto que resulta dele. Não nego aqui que elaborar vinhos com tradição e respeito ao terroir seja difícil, bem pelo contrário, apenas não tiro o mérito daqueles que conseguem "fabricar" o exato produto que o mercado ou críticos querem, não que, por isso, eu concorde com a qualidade e o mérito desses produtos. Sobretudo, discordo da equipe de marketing que projeta um vinho "construído" como quintessência da terra.
ResponderExcluirAdoro vinho que reflete o idolatrado terroir quando esse (terroir) é bom. Fazer vinho que emula o terroir de Goias é até fácil, mas o resultado final é vomitante. Como o vinho fezes.
ResponderExcluirSO RINDO
ResponderExcluirhttp://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/tres-vinhos-brasileiros-estao-entre-os-melhores-do-mundo
Só chorando.....
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