Quando eu era jovem, a televisão engatinhava ensaiando seus
primeiros e tímidos passos.
Televisão era coisa de rico e não frequentava, como hoje, milhões
de casas brasileiras.
O livro era o rei; ajudava a imaginação e fazia sonhar.
Entre minha preferências literárias, daqueles anos, um
escritor inglês, Somerset Maugham, alimentava meus sonhos e fantasias com seus
belos contos.
Não lembro de todos, mas, sem dúvidas, “As Três Mulheres de Antibes”
era um dos meus favoritos.
Li o conto inúmeras vezes e a cada leitura aumentava o desejo de,
quando pudesse, conhecer Antibes.
Os anos correram, passaram e a juventude, também.
Maugham não era mais um dos meus escritores favoritos, já não recordava
claramente seus contos, mas Antibes, insistentemente, continuava em meus sonhos
de turismo.
Um belo dia, já residindo na Riviera Lígure, decidi conhecer o
torturante purgatório francês das três mulheres de Maugham.
Sem titubear, entrei no
carro, rumei para a Costa Azul e devorei os 250 quilômetros
de autoestrada para finalmente conhecer Antibes.
Eram os anos 1990.
A famosa costa francesa não agradou.
Muita fama, muita badalação,
muita propaganda (enganosa), apenas.
Endereços “produzidos” especialmente para aqueles que querem
ver e serem vistos, badalação “démodé”, turismo cheirando mofo…Pura e decadente esnobação
Monte
Carlo?
Um amontoado de prédios, um porto, onde quase não se vê o mar,
sepultado por milhares de iates milionários, preços “infartantes” e nada mais.
Um giro rápido, meias
dúzias de fotos dos edifícios mais importante e..... Adeus.
Cannes?
Pior, muito pior, do
que poderia imaginar.
Nice?
Uma cidade imensa, uma
da mais violentas da França, transito caótico.... Deplorável e dispensável.
Saint Tropez conservava algum charme, mas era fácil perceber
que havia “morrido” com “Brigitte Bardot”.
Seu brilho, já menor e
falso, parecia o de uma cinquentona depois de inúmeras aplicações de Botox.
Cagnes sur Mer?
Melhor nem conhecer.
Antibes e Juan le Pins, estas sim, me emocionaram.
Intactas, sofisticadas, muito bem conservadas e preservadas.
Esqueci os centros mais badalados e passei alguns dias
agradáveis na Costa Azul explorando Antibes e arredores: Vence, Saint Paul de
Vence, Grasse, Gilette....
Os anos voaram, minhas preferências já não eram as mesmas, mas
Antibes continuava sendo lembrança agradável.
Bela manhã, céu azul, sol…
Antibes e Cia. retornaram, batendo com força, em minha mente.
O carro, mais possante que meu antigo Renault, não tomou
conhecimento da distância, devorou o asfalto e pouco antes do almoço já
desfazia as malas no bom e quase barato hotel “Le Mas D’artigny” em Saint Paul de Vence.
Ansioso para rever os locais do passado resolvi tomar um
aperitivo e almoçar na vizinha Vence.
Vence com seu centro histórico muito bonito e preservado,
seus incontáveis bares e restaurantes que se esparramam por praças e ruas,
tranquila, mas pulsante, me impressionou bastante e foi a única cidade de região
que visitaria novamente.
Um senão: A quantidade de árabe é desproporcional.
Homens vestindo roupas típicas e ostentando olhares desafiadores,
mulheres usando burkas, incontáveis restaurantes étnicos, lojas ostentando
placas com dizeres em árabe ... Impressionante
Vence mais parece um bairro de Marrakesh, Casablanca ou Argel
Nada contra os árabes, mas se quisesse aprofundar meus
conhecimentos sobre costumes, gastronomia, cultura ou hábitos do Médio Oriente,
não procuraria a Provença e, sim, visitaria um dos países muçulmanos do norte
da África.
Resolvido em não aprofundar meus conhecimentos da gastronomia
marroquina ou algeriana, decidi passar a tarde percorrendo Saint
Paul de Vence e jantar em um
restaurante francês
Saint Paul de Vence, belíssima aldeia medieval!
O preservado centro histórico de Saint
Paul de Vence, apesar da impressionante quantidade de turistas
disputando aos empurrões algum espaço em suas poucas e estreitas ruelas, consegue
ser realmente charmoso.
Um senão: Saint Paul de Vence é um imenso e cansativo museu.
São incontáveis as
lojas e galerias de arte que expõem desde estatuetas baratas até obras de
artista renomados, muitas delas apenas acessíveis às carteiras recheadíssimas.
Há de tudo, mas repetitivo demais, quase sufocante.
A rua principal parece um corredor polonês de quadros, esculturas
e souvenires,
Não há uma quitanda, uma papelaria, um jornaleiro, um açougue.
Nada!
Nada além de dezenas e dezenas de galerias de arte.
Sem alternativa, sem
outra opção, arte e somente arte (as vezes de gosto mais que duvidoso), cansa
os olhos e enche o saco...
Sim, San Paul de Vence parece um shopping que aproveita o
“marketing” herdado de seus ilustres frequentadores, Picasso e Chagal, entre outros,
para quase sufocar o turista com estatuas, esculturas, quadros e muita
bugiganga falsamente artística.
Saint Paul de Vence: Três ruas e uma multidão de turistas suados,
cansados que, aos empurrões e quase como zumbis, tenta percorre-las sem saber bem
o porquê.
A Vence, de hoje, deixaria Chagal e Picasso putos de raiva.
Eu, também, fiquei.
Uma coisa boa: Restaurante “Caruso”.
O “Caruso”, pequeno aconchegante, nem um pouco comercial,
apresentou uma cozinha inventiva “ma non troppo”, e preços, apesar da tarifa
“Provençal”, contidos.
Confira.
Bacco
Na próxima semana: Costa Azul II.
Três ruas e uma multidão de turistas suados, cansados que, aos empurrões e quase como zumbis, tenta percorre-las sem saber bem o porquê.
ResponderExcluirFrase que reflete tudo que penso sobre muitos destinos imperdiveis no planeta. Todo ano as pessoas (burras) cometem os mesmos erros: Aeroporto lotado na ida, filas de espera, viagem cansativa, carrega mala para la e para ca, furtos, cancela cartao, filas, comida cara, mais filas, fila para ver um quadro de 20 cm2, mais filas, volta para o hotel cansado, briga com mulher, briga com cunhado, sai de noite sozinho puto, volta para hotel com sono, dorme, cafe no hotel meia boca, dores no corpo por causa da viagem e caminhadas, mais filas, passeio chato, ................... aeroporto lotado, fila de espera, eu tenho que carregar a porra da estatua que a mae dela encomendou, cafe quente do cara ao lado cai em mim, fila no duty free (a vaca tem que comprar perfume para irma), R$ 190.00 por um taxi, mais um voo de conexao, chega em casa, desfaz mala, dia seguinte tem que ir ao trabalho aguentar aquela rotina chata com gente mala ao lado. Que alivio.
Por que as pessoas sao idiotas e insistem em lugares que so dao desprazer eu nao sei. Talvez para impressionar vizinhos e amigos de facebook. E precisam tirar foto obrigatoriamente com roupa de pele.
Matou! Há alguns anos , não sei exatamente por qual motivo, resolvi colaborar com um amigo , proprietário de uma agência de viagens e programar roteiros turístico,s fora da rotina dantesca que você , com muita precisão , descreve (aquela da estátua da sogra e do perfume de R$ 190, me fizeram borrar de tanto rir). Minha presença, conduzindo pessoas para endereços charmosos , restaurantes idem, bares exclusivo, aldeias únicas etc. etc. custava 100 Euro X cabeça X dia. Uma viagem de 5 dia = 500 Euro.
ResponderExcluirOs caras começaram a discutir preço. Resultado abandonei minha natimorta profissão de cicerone , mandei todos à merda e não quero mais saber de acompanhar ninguém. Eu conheci todos os seus purgatórios , aprendi como fugir deles e hoje revelo dicas para os que querem fazer turismo inteligente. Quem quiser ir para a galeria Lafayette em julho, passear de gondola em Veneza em agosto, tem que se ferrar.
Desculpe, não é o perfume e, sim, o taxi
ResponderExcluirPegar um taxi em GRU é pedir para ser assaltado no taxi e depois fora dele. O que ha de malandro seguindo os taxis aqui....
ExcluirE concordou comigo? Depois de anos e anos em debates via comentarios nos afinamos em algo. Sarava! Aparentemente so "D" bate mais o santo dele com o meu. Sem magoas.