No começo do mês resolvi passar dez dias na casa de Bacco, em
Santa Margherita, aproveitar seus conhecimentos, visitar algumas vinícolas do
Alto Piemonte e comprar alguns vinhos
Lessona, Gattinara, Bramaterra, Ghemme, minhas
preferências.
Bacco concordou imediatamente em visitar a região e acrescentou,
na rota, uma parada em Suno para conhecer um ótimo branco: “Costa
di Sera dei Tabacchei”.
A primeira parada seria em Lessona onde pretendia comprar o Bramaterra da “Colombera & Garella” e o Lessona da
“Prevostura”
Quem quiser aprofundar seus conhecimentos sobre o Bramaterra
Colombera & Garella poderá acessar o link
Confesso que meu principal interesse era conhecer a vinícola “Prevostura” que, muitos críticos italianos, insistem em
classificar como a melhor produtora de Lessona.
Se quiser conhecer a Prevostura prepare um ótimo GPS: O
caminho é difícil de encontrar e percorrer (há 3 km de estrada de terra).
Alguns buracos e muitas curvas depois, finalmente encontramos
a “Prevostura” e
Marco Bellini, seu proprietário.
Após as apresentações de praxe e sem muitas delongas, Marco
abriu as portas da adega e apresentou seus vinhos: O bom rosé “Corinna”,
Bramaterra, Coste del Sesia, “Guinot” e Lessona.
Degustamos apenas o “Corinna”
e o surpreendente “Guinot” que poderia
definir como um Lessona menos complexo, menos estruturado e mais simples.
A mesma diferença que há entre um Nebbiolo e um Barolo.
O Lessona, Marco, nem fez menção de abrir.
Quando revelei minha intenção de comprar algumas garrafas e
ele declarou o preço, entendi o porquê: 35 Euros.
O Lessona “La Prevostura” custado
mais do que um bom Barbaresco ou Barolo?
Há alguma coisa errada....
Mais algumas perguntas, o papo fluido, descontração aumentando
e.....finalmente o “PORQUÊ”.
“No próximo ano, com
entrada de capitais, oriundos da venda de parte da vinícola aos De Marchi e
Zegna, aumentarei os atuais 5 hectares de vinhedos e também a produção”
Os 35 Euros dos Lessona “La Prevostura” estavam
explicados.
Os De Marchi são piemonteses que nos anos 1950 compraram, por
preço de banana, uma propriedade falida em Barberino Val D’Elsa e aos poucos a transformaram
na rica “Isole&Olena”.
“Cepparello”, um Supertuscan, que custa nada módicos 65 Euros,
“Chardonnay Collezione Privata” de 45 Euros e o “Chianti Classico Gran
Selezione” de 190 Euros, fizeram a fortuna dos De Marchi que, cheios da grana,
voltaram para o Piemonte e compraram, mais uma vez, por preço de banana, terras
em Lessona.
Acostumados com preços altos e apostando na eno-idiotice dos
consumidores abonados, de cara saíram com um Lessona, “Proprietà Sperino”, por 60
Euros.
É sempre bom lembrar que o ótimo Lessona, da “Tenute Sella”,
custa 20-22 Euros.
Como se não bastassem os De Marchi, um membro da família
Ermenegildo Zegna, também, injetou dinheiro na “La
Prevostura”.
De Marchi + Zegna = Lessona “La Prevostura” (por enquanto) 35
Euros.
Minha opinião?
Não vale nem a metade.
Abri uma garrafa de “La Prevostura” 2015 e já no primeiro gole
senti saudades do “Lessona Sella”
Os aromas são até agradáveis, característicos, mas um
insistente odor, que lembra o de um armário fechado há meses, compromete
totalmente a analise olfativa.
Na boca o álcool é muito presente, os taninos são angulosos, agressivos,
um final amargo e desagradável torna o “Lessona La
Prevostura” um vinho cansativo.
Não vale os 35 Euros pagos por ele nem a dificuldade de
transitar por uma estrada esburacada para encontrar a vinícola.
Na viagem de volta passei por Gattinara e, na enoteca da
cidade, comprei algumas garrafas do Mauro Franchino por 20 Euros.
Um último aviso aos eno-tontos-abonados: Ao lado do Gattinara
do Franchino, de 20 Euros, descansava placidamente uma garrafa do mesmo vinho
com a etiqueta “
Nervi - Conterno 2014” por
imbecilizantes, 82 Euros.
Dois detalhes: em 2014
a Conterno ainda não estava presente na vinícola e vinho foi produzido pela
Nervi.
A Conterno produziu apenas a etiqueta.
A etiqueta “mágica” já valorizou o Gattinara Nervi quase 300%.
Como disse anteriormente e reafirmo, corra para o Alto
Piemonte e compre o que puder.
Quando os De Marchi, Zegna, Conterno etc. “invadem” um
território...... não há KY que baste.
Dionísio