Se alguém ainda dúvida que os dias gloriosos das etiquetas
caríssimas, glamorosas, parkerianas etc., que dominaram a mundo do vinho nas
últimas cinco décadas, estão a caminho do inclemente declínio, pode começar a
esquecer os Gaja, Pera Manca, Masseto, Vega Sicilia, Dal Forno etc.
É bom ir se a costumando com a ideia que no futuro próximo
vinhos leves, fáceis de beber, baratos descompromissados, como Lambrusco, Prosecco,
Beaujolais, Bardolino, Grignolino etc., que foram desprezados, abandonados,
quase ridicularizados, mas se e quando comparados aos vinhos sem álcool, da
mais recente moda vinícola são verdadeiros Romanèe-Conti.
Semana passada, ziguezagueando pelas gondolas de um
supermercado, tentava descobrir promoções para reabastecer minha quase
espartana geladeira.
Um presunto, aqui, um salmão defumado, ali, algumas fatias de
peito de peru, acolá e.....Espumante sem álcool?
A nova moda, dos vinhos desalcoolizados, que está avançando na
Europa, de forma implacável e irrefreável como as hordas hunas, chegou às
gondolas dos supermercados italianos.
A curiosidade venceu a prudência e, sem pensar muito,
acomodei, no carrinho, ao lado de salmão, peru, presunto, etc., uma garrafa de “Z&RO”, espumante
produzido na Alemanha e importado pela “COOP”, maior rede de supermercados da
Itália.
Impaciente, curioso, ao chegar em casa abri, imediatamente a
garrafa de “Z&RO” (se alguém estiver sorrindo
maliciosamente e já pensando em me criticar por não ter refrigerado a garrafa,
informo que a temperatura, naquele dia, não superava o 5º, então...)
A primeira impressão visual já não me convenceu positivamente.
A cor, amarelo pálido esverdeado, mais próxima a do refrigerante
(Sprite/7up) do que a clássica do vinho Riesling, com a qual o “Z&RO”
que fora produzido, anunciava que os 11,50 Euros, desembolsados pelo espumante
alemão, haviam sido hiperbólicos.
As bolhas, grosseiras, parecendo bolinhas de gude, mais uma
vez me trouxeram à mente os refrigerantes mencionados.
Na taça, o aroma surpreendeu positivamente.
Interessante, elegante, delicado, ao nariz, o “Z&RO”
emanava sutis aromas cítricos.
Um pouco mais animado e esperançoso levei a taça à boca
e...... Se eu acrescentasse um pouco de vinho branco, barato, comum, ao Sprite
o resultado seria quase o mesmo com um custo bem menor.
O “Z&RO” é uma interessante opção para os que, por razões de saúde (diabete,
por exemplo) não podem beber alcoólicos, não querem engordar, precisam dirigir,
jovens, etc., mas o espumante-refrigerante está ainda tentando encontrar uma
maior qualidade e personalidade.
Outro grave defeito do “Z&RO” é que “desaparece” ao acompanhar até um simples pão de
queijo: Não tem estrutura para ser consumido com comida.
Um vinho para beber na praia, à beira da piscina, em um dia de
intenso calor tropical, mas nada além disso.
Há uma verdadeira “invasão” de vinhos sem álcool ingressando
no mercado e alemães, espanhóis, franceses, italianos etc., estão apostando
alto na nova moda e a cada dia aparecem mais e mais etiquetas de tintos, rosés,
brancos e espumantes.
Restrições, sempre mais rigorosas e severas, para quem dirige
“bebum”, estão aconselhando os enófilos a mudar de hábitos e diminuir
significantemente o consumo de bebidas alcoólicas.
Os jovens, os mais visados pela blitz da polícia, estão
fugindo, sempre mais, dos super-alcoólicos e aproando nas taças de vinhos
desalcoolizados.
O “Z&RO”, parcialmente
desalcoolizado (0,5%) e gasificado, não vale a metade dos 11,5 Euros que paguei
para satisfazer minha curiosidade, mas abriu um caminho que voltarei a
percorrer sempre com maior frequência.
Bacco
PS. Não tenho dúvidas que, muito
em breve, nossos produtores de “vinhos-tremendas-bostas”,
insuperáveis no oportunismo, na química, manipulação nas adegas e na propaganda
enganosa, lançarão os melhores vinhos
sem álcool do mundo”.
É só aguardar.....
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