O verdadeiro tsunami de garrafas, de Romanée-Conti, armazenadas
nas adegas dos restaurantes e dos políticos, em Brasília, sempre aguçou minha
desconfiança.
No falecido Piantella havia uma dúzia, ou mais, do renomado
Pinot-Noir da Borgonha e nos estoques do “Dom Francisco” repousavam muitos mais.
Somando todos os RC, presentes nos restaurantes brasilienses, era fácil calcular que, mais ou menos, uma centena de garrafas de Romanée-Conti moravam na penumbra das adegas candangas.
Bebi somente três garrafas de Romanée-Conti e todas vieram da
mesma adega de um político local.
Tive acesso à adega e pude verificar que, entre outras preciosidades, havia numerosas ampolas de RC, de diversas safras, armazenadas à espera de uma nova e especial ocasião.
Impossível calcular quantas garrafas de RC se escondiam na penumbra dos
subsolos brasilienses, mas juntando os Maluf da vida, que moravam, à época, no
Planalto Central, não seria exagerado pensar em 500 ou mais.
Conclusão: Se apenas em
Brasília haveria aquela quantidade, mesmo aproximada, quantas mais “moravam”
nas adegas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Bernardo do
Campo, Atibaia etc.?
E as de New York, Los Angeles, Roma, Pequim, Londres,
Frankfurt, Paris, Moscou, Tóquio, Dubai etc. etc. etc., quantas seriam?
A conta não fechava!
Pelos meus cálculos nem
200.000 garrafas seriam suficientes para abastecer todas aquelas sedentas adegas......
Enquanto isso a Domaine de la Romanée-Conti continuava
produzindo 4.500/5.000 por ano…. Muito
estranho.
Um novo e moderno milagre da transformação da água em vinho?
Nada disso... o mágico tinha (e tem) um nome: Rudy Kurniawan
mais conhecido
pela alcunha de Dr. Conti.
A
especialista em falsificação vinícola, Maureen Downey, calcula que
ainda há, pelo valor atual, mais de 50 milhões de dólares de garrafas,
falsificadas pelo Dr. Conti, vagando pelo planeta.
Downey declara, ainda,
que pelo menos 20% de todo o vinho do mundo é, de uma forma ou outra,
falsificado.
As
10 etiquetas mais falsificadas do planeta são todas francesas: Château Petrus,
Domaine de la Romanée-Conti, Château-Lafite Rothschild, Château Mouton Rothschild, Château d’Yquem, Château
Lafleur, Domaine Comtes George de Vogüé, Domaine Henri Jayer, Château Haut
Brion e Château Cheval Blanc.
É sempre bom lembrar que Maureen Downey não é exatamente um dos críticos-patéticos-patetas-de-vinho que vagueiam pelas importadoras do Brasil mendigando uma
graninha.
Downey foi uma das testemunhas mais importantes no processo contra Rudy Kurniawan,atua como consultora nas
maiores e mais renomadas casas de leilão do planeta e é conhecida como a “Sherlock Holmes” dos vinhos.
Sem meias palavras, Downey, afirma: “ …os casos de falsificação estão aumentando e até
o crime organizado entrou fortemente no setor......infelizmente os compradores
dos mercados emergentes não estão suficientemente preparados e são os alvos
prediletos dos que criam e vendem garrafas falsificadas. Estima-se que 50% de
todos os vinhos de luxo, na China, sejam falsificados...estamos assistindo, agora
mesmo, a uma verdadeira invasão, jamais vista antes na Europa, de garrafas
falsificadas produzidas na França, Bélgica e Suíça …”
Voltemos ao anúncio das “Americanas”….
Quem garante que o “Petrus”, anunciado, é original?
Marcelinho
Coppelinho, Didu Bilu Teteia, Beato Salu, Diego Rebola, ou outro
vivaldino, insignificante, qualquer?
Qual repertorio olfativo e gustativo possuem, os
mencionados “experts”, para poder discernir, julgar e declarar qual o original
e qual o falsificado?
Afirmei ter bebido, há alguns anos, algumas taças
oriundas de três garrafas de Romanée-Conti e jamais poderia afirmar, com
segurança, se seriam originais ou “vinificadas” ou pelo Dr. Conti.
Três taças desse, daquele, ou de outro mais, vinho,
não são suficientes para criar repertórios, memória, seguranças olfativa e
gustativa, em ninguém (sem $$$$, nem Parker consegue…).
O outro lado: Se um belo dia, em um restaurante qualquer,
escolho um Barolo, mas o garçom me serve um Dolcetto, o mando imediatamente à
merda.
Bebi centenas de Barolo, Dolcetto, Barbera,
Grignolino, Freisa, Barbaresco, Lessona, Gattinara, Pelaverga, Gamba di
Pernice, Carema, etc. e minhas memorias olfativas, gustativas, dos tintos piemonteses,
estão mais do que consolidadas e me permitem distinguir, com segurança, qual
vinho estou bebendo, mas o que dizer, por exemplo, do “Château Lafleur”,
do qual nunca vi nem a garrafa?
E do Petrus que nunca bebi?
Resumindo: A imensa maioria dos jogadores de
futebol, políticos corruptos, influencers, novos ricos, velhos abonados e abobados,
ostentadores compulsivos, fãs de Gusttttavo Limmmma, etc., muitas vezes e sem
saber, gastam horrores e bebem “tremendas-bostas”.
Parabéns, são a alegria dos falsários, que agradecem....
Dionísio
Dessa mesma multiplicação a viticultura brasileira aplica nos preços.. com qualidade..
ResponderExcluirhahahahaha
ResponderExcluirDionísio, de curioso mesmo, as taças de RC foram marcantes? Por anos lendo o blog, quase uma década, nunca vi explanação desse momento, como foi? Adianto, somente curiosidade.
ResponderExcluirSua pergunta poderia originar uma bela matéria, mas vamos à resposta mais rápida: As duas primeiras garrafas , tenho a absoluta certeza, eram falsificadas e o vinho nem poderia ser comparado a um 1er cru qualquer. A terceira garrafa , aberta em outra ocasião, era muito melhor mas nada que lembrasse o "paraíso"..... Ótimo Pinot Noir , mas não superior ao Chambertin Clos de Bèze de Gerard Raphet.
ExcluirCaspita! A vinícola deveria manter o controle das vendas e dar a garantia ao consumidor final de que o pedaço de paraíso é verdadeiro
ExcluirComo afirmei, na matéria, a RC garante aos tradicionais clientes a qualidade e originalidade de seus vinhos, mas os falsificadores picaretas sabem que há milhares de idiotas prontos a gastar os tubos para beber um Romanée-Conti mesmo que seja um vinho de bosta qualquer
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ResponderExcluirConheco uns vagabundos que vivem de vender rotulo falsificado para ''ricos''. Povo com labia igual a da Elizabeth Holmes... labia no sentido figurado, nao fisico. Como tem trouxa no mundo, como tem espertalhao vagabundo. Trabalhar e estudar, nem ferrando