Quatro anos de insistência, muitas visitas à vinícola,
inúmeras negativas, sempre acompanhadas de um malicioso sorriso, não me desanimaram:
No mês passado, em minha última passagem pela Borgonha, consegui, finalmente, comprar
4 garrafas de Bienvenues-Bâtard-Montrachet do viticultor Jean Claude Bachelet.
Muitos perguntarão: “Por que tanta insistência? Não há outro
produtor na região?”.
Há muitos, mas existe uma pequena história por trás de minha
quase obsessão, aliás, o vinho tem histórias e não “pontos”.
Há alguns anos o proprietário de um restaurante em Chiavari,
que se encontrava em sérias dificuldades, resolveu se desfazer de parte de seus
vinhos de sua bem fornida adega.
Escolhi algumas, mas o proprietário do local, não satisfeito com
minha tímida compra e querendo faturar um pouco mais, me ofereceu 3 de Bienvenues-Bâtard-Montrachet
2001 do Bachelet.
Elogios fartos e entusiastas ao vinho, muita insistência, bons
descontos, que resultaram em preço muito convidativo.... Acabaram me convencendo,
assim, as três garrafas juntaram-se às outras e voaram para o Brasil.
Um belo domingo resolvi abrir um Bienvenues-Bâtard-Montrachet
do Bachelet.
Rolha perfeita, cor dourada com alguns reflexos esverdeados, aroma….
Bem, com o aroma começou a festa.
Eu nunca bebera Chardonnay melhor!
Aos poucos e quase religiosamente, sequei a garrafa.
Impossível parar de
beber!
Olhando para a garrafa
vazia e naquele momento, resolvi que deveria, urgentemente, conhecer Jean Claude Bachelet, seus vinhos
e sua vinícola no pequeno distrito de Gamay na também minúscula Saint-Aubin.
A vinícola de Jean Claude Bachelet e de seus filhos, Benoit e Jean
Baptiste, não é exatamente fácil de ser encontrada e, as vezes, nem o GPS
ajuda.
É preciso perguntar, percorrer estradinhas que passam pelas vinhas,
entrar em ruelas (muitas sem saídas), fazer manobras complicadas (se o carro
for grande, então...) para encontrar (ufa....) a pequena e quase invisível placa
que indica, finalmente, a vinícola e casa dos Bachelet.
Se encontrar a casa de Jean Claude já é complicado encontrar
os Bachelet, em horário de trabalho, é quase impossível e não recomendável.
Os três homens estão sempre trabalhando em seus 10 hectares de
vinhas e a esposa de Jean Claude não é exatamente uma referência de gentileza.
“Não temos mais vinho. Se quiser algumas garrafas para o ano que
vem o senhor deve reservar agora e confirmar antes de novembro próximo”.
“Bienvenues-Bâtard Montrachet? Vendemos tudo e agora somente na próxima
safra. Reservar seis garrafas? Impossível: Duas no máximo”.
A mulher é uma fera!
Não adianta insistir...
Certa vez consegui comprar seis garrafas de Chassagne-Montrachet Premier Cru “La Budriotte”,
parte de um pequeno lote ainda não vendido.
Na hora de pagar (na
hora de pagar quem recebe é sempre a madame Bachelet) apontei para um pilha de garrafas
empoeiradas, que repousavam em um canto da adega, e quase sem esperança
perguntei: “A
senhora poderia me vender algumas daquelas garrafas mais velhas”.
A fera Bachelet me olhou espantada como se tivesse ouvido um palavrão
e respondeu: “Aquelas são para o nosso consumo”.
Fulminado pelo olhar, esbocei um sorriso amarelo, paguei,
entrei no carro e me mandei, rapidamente, com medo de apanhar....
Uma, duas, três, quatro, e não sei quantas mais, visitas, me ensinaram
como “enfrentar” os Bachelet.
1º Nunca chegar entre 8 ou 10 horas da manhã.
2º Nunca telefonar com antecedência
3º Nunca pedir o Bienvenues-Bâtard-Montrachet,
mas perguntar o que eles tem para vender e comprar (no final eles vendem o
filé).
4º Chegar na vinícola após o pôr do sol ou aos domingos quando
os Bachelet não estão trabalhando.
Alguém, intrigado e justamente, perguntará: “Todas estas precauções, exigências, regras
para comprar o vinho deles? Vá procurar outro produtor”.
Tá bom!
Tente comprar, na mesma Saint-Aubin, uma garrafa de Bâtard-Montrachet do Marc Colin, ou, em Chassagne, uma de Dents
de Chien do Thomas Morey e
verá que na Côte D’Or há dois caminhos: Ou você se sujeita às condições que os viticultores
impõem ou paga o dobro, pelo vinho, nas enotecas de Beaune.
Esta escolha é sua.
Na próxima semana minhas degustações e impressões sobre os
vinhos de Jean Claude Bachelet.
Bacco
PS. Insisto: Vinho tem história. Quem pontua vinho
escolhe o caminho mais fácil e seguro para disfarçar falta de conhecimentos
mais profundos.
Uma garrafa de Bienvenues-Bâtard-Montrachet
não pode ser descrita apenas e através de 90-92-89-94 pontos.
Pontos = babaquice!
Esse artigo ganha 5 pontos, de 5 possiveis.
ResponderExcluirPontual.....
ResponderExcluirExcelente artigo , ou melhor experiência vivida, daquelas que a gente nunca vai ver escrita numa dessas revistas de vinho famosas, o Sr Parker nunca foi muito bem recebido para aqueles lados, jamais esses produtores entregariam suas jóias para serem pontuadas como qualquer vinho banal, mais uma fez Parabéns !!!
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