Bebi meu primeiro “Etna Bianco”, se não falha a memória, em 2006, como de costume, na casa de
Bacco.
O “Etna”, na ocasião, era um “Pietramarina” da vinícola Benanti.
Bacco, comentou
o Pietramarina
“O Marco, do Nanin, tirou da cartola uma garrafa como esta.
Quando provei fiquei boquiaberto. Um grande vinho! Tão grande que comprei,
apesar dos salgados 22 Euros, seis garrafas”.
Explicando: Marco é o proprietário, chef e sommelier, do
restaurante Nanin de Chiavari.
Marco, um dos maiores entendedores de vinho que conheço, nunca
erra uma e o “Pietramarina” era apenas mais uma de suas surpreendentes “descobertas”.
Bons tempos aqueles quando, ainda, podíamos levar para casa
uma garrafa do “Etna Bianco” da Benanti por humanos e razoáveis 22 Euros.
Hoje a mesmíssima garrafa de “Pietramarina” somente entrega
seus alcoólicos encantos por salgados 85/100 Euros.
O que aconteceu?
Os predadores-produtores chegaram!
Gaja, Farinetti
(Eataly), Giovanni Rosso, Marco de Grazia (Tenuta dele Terre Nere), Planeta,
San Gregorio, Donnafugata, Tasca D’Almerita, etc.,
farejaram as encostas do Etna e perceberam a possibilidade de um novo
“Eldorado” vinícola.
No Etna os predadores
perceberam que poderiam produzir bons vinhos.
As condições eram as
melhores possíveis: terras baratas, os pequenos produtores eram facilmente
“convencíveis” a vender suas vinhas e com a ajuda das costumeiras canetas de aluguel,
críticos venais, influenciadores de plantão e um bom marketing, o investimento
poderia retornar rapidamente.
Bingo!
Um hectare, de vinhas vulcânicas, que há 15 anos custava 10/15 mil Euros,
graças aos investidores-predadores, em 2021 já ninguém o vendia por menos de
150/200 mil Euros.
A “invasão” começou...
Gaja, que entrou pelo cano com sua “aventura” Toscana, quer
esquecer a “Ca’ Marcada” e faturar alto na Sicília produzindo o “Idda” em parceria
com Alberto Aiello Graci.
Farinetti (Eataly) que já comprou, entre outras vinícolas,
Fontanafredda, Borgogno, Vigne di Zamò, Serafini & Vidotto, Il Colombaio del
Cencio, ataca na Sicília e entra de sócio com o produtor local, Francesco
Tornatore e (a)funda a “Tenuta Carranco”.
Por falar em Farinetti o empresário conseguiu transformar uma
ótima Barbera em tremenda bosta: A Barbera Borgogno
A Barbera
Borgogno-Farinetti só não é pior do que aquele insulto à casta que a Perini
teima em comercializar.
Davide Rosso (Giovanni Rosso), modestíssimo produtor de
Serralunga D’Alba que, graças a milhares de garrafas de Barolo, deixadas em herança,
por seu primo em 2º grau, Tommaso Canale, que as vendia por 7/10 Euro e que ele
vende por 350/500 Euros, virou uma promissora vedete vinícola e predador de primeira
linha.
Davide sentiu o cheiro de bons e rápidos lucros e se mandou
para a província de Catania.
Marco de Grazia, que
fez fortuna nos EUA importando vinhos, fundou a “Tenuta dele Terre Nere" e
desponta como grande promessa no mundo dos predadores.
Quem entra, como de costume, pelo cano?
Nos, os consumidores
Alguns exemplos de preços praticados em 2007 e em 2021
“Etna Bianco Pietramarina Benanti” 23/30 Euros em 2007 – 80/100
Euros em 2021
“Etna Branco Graci”
20/26
O mesmíssimo vinho, mas ostentando a etiqueta
“Idda” custa 35/38 Euros.
Para quem não sabe, “Idda” é a etiqueta do vinho Gaja- Graci.
A etiqueta deve ter sido banhada nas águas de Lourdes, Ganges,
Jordão ou em outras fontes milagrosas qualquer, pois no exato momento em que é
colada na garrafa, que custava 20 Euros, voa para o paraíso dos predadores e
seu preço, acrescido em não insignificantes 75%, passa para 35 Euros.
Não há saída? Não há escapatória?
Há!
Algumas delas: Mandar solenemente à merda grandes, renomados,
badalados etc. produtores, mandar ao mesmíssimo endereço críticos, revistas, influenciadores,
Vivino e similares, migrar para o Google, ou seguir algumas dicas de B&B.
Em rápida pesquisa, no Google, será fácil encontra pequenos e
validos produtores.
As dicas de B&B: Cantina Ayunta, Cantina Murgo, Cantina Vivera, Tenuta
Monte Gorna, Azienda Falcone.
Bons produtores que não estuprarão seu cartão.
Mas é bom correr, pois os predadores não brincam em serviço e
em poucos anos é bem provável que os preços, de todos os vinhos do Etna,
alcancem a estratosfera.
Falando sério.... “Pietramarina
Benanti” 85 /105 Euros?
Prefiro comprar um “Chablis Grand
Cru les Blanchot” e com o
que sobrar adquirir um estupendo Lessona Sella que nada deve aos melhores “Etna Rosso”.
Chablis Grand Cru Blanchot 2008 - Daniel-Etienne Defaix
Boicotar os predadores é preciso, ser eno-tonto não é preciso
Dionísio