Nunca acompanhei, regularmente, o "Momento do
Brinde", programa da rádio CBN em que Jorge Lucki discorre,
sobre vinhos, com o âncora Carlos Alberto Sardemberg.
Já afirmei que não consigo acreditar na existência críticos que possam dominar, com segurança e conhecimento, todos os vinhos dos
quatro cantos do planeta.
Eu aprendi, com Bacco, tudo o que sei sobre vinhos e apesar disso, minha
cultura vinícola, mesmo após décadas de amizade, convivência e viagens, não vai
além de algumas etiquetas do Piemonte, Ligúria, Borgonha, Véneto, Toscana.
Os sommeliers italianos, franceses, portugueses , que eu
conheço, dominam sua praia, mas tem apenas noções superficiais sobre os vinhos
de outros países.
Os
italianos conhecem os grandes Bordeaux, Borgonha, o Vinho do Porto, Vinho
Madeira, mas, se perguntados sobre um Chateau Musar, ou um do Dão, olharão para
o interlocutor com cara de paisagem lacustre.
Com os profissionais portugueses e franceses o discurso é
exatamente igual: Todos conhecem o Brunello, Barolo, Chianti, mas se falarmos
em Taurasi, Gattinara, Timorasso, eles vão achar que estamos xingando a mãe.
O Lucki não tem limites, confins, barreiras.
Os conhecimentos do
Jorge são tão vastos que suas indicações passeiam com leveza e desenvoltura
pela França, Itália, Alemanha, Brasil, Argentina, Chile, Austrália, África do Sul,
Nova Zelândia..... e se mais mundo houvera, lá chegara!
Jorge é um gênio?
O Lucki, apesar de preparado, tem suas limitações e, volta e
meia, diz cagadas homéricas no "Momento do
Brinde".
Dia 30 de agosto, Jorge, em seu tour pela Itália, resolveu
falar da Úmbria, seus vinhos, sua gastronomia.
Já na primeira frase Lucki comete um erro bisonho quando
localiza Amatrice, a cidade que quase desapareceu após o terremoto, na Úmbria.
Não sei se o violento terremoto deslocou Amatrice, mas, até a
semana passada Amatrice era uma cidade da região Lázio e mais exatamente da província
de Rieti.
Sinto muito discordar do Jorge e lhe recomendo uma passagem
mais demorada pelo Google.
Na Itália há tartufi (trufas) em quase todas as regiões:Ligúria,
Lazio, Toscana, Campânia, Lombardia, Basilicata, Calábria, Veneto,
Emilia-Romagna, Marche etc.etc.etc.
E por falar em Marche, seria bom o Lucki experimentar o
maravilhoso "Tartufo
Bianco di Acqualagna" assim, quem sabe, a qualidade da trufa
marchigiana corrigia o desarranjo intestinal de nosso comentarista.
Mais uma coisa: Quando há escassez de "tartufi
bianchi", no Piemonte, os negociantes espertinhos de Alba e arredores, os importam
da Eslovênia, Croácia,
Romênia, Albânia, Marrocos, Espanha, Turquia e até da China.
Os turistas bocós, que não
entendem lhufas de trufas, compram, pagam uma grana preta e comem "lisoto com tlufas blanca" da China.
Jorge, não para e se supera quando indica vinhos da Úmbria.
Com tantos produtores de vinhos na Úmbria, Lucki indica quem,
quem, quem? "Castello della Sala"
O "Castello della Sala"
é uma das filiais das "Indústrias Antinori" e não produz, sequer, um único
vinho típico da Úmbria.
Confira!
Cervaro della Sala =
Chardonnay e Grechetto
Pinot Nero
Conte della Vipera = Sauvignon Blanc
Bramito = Chardonnay
Muffato della Sala = Sauvignon Blanc, Grechetto, Traminer,
Riesling
Nem o simples, comum e popular Orvieto, produzido pela "Castello
della Sala" escapa da adição de uvas francesas (Viognier).
Não contente, em empurrar os vinhos estandardizados da
Antinori, que não representam a Úmbria nem em sonho, o Lucki radicaliza ainda
mais recomendando as garrafas francesas da vinícola
Falesco.
Falesco, propriedade da família Cottarella, só
produz vinhos com uvas internacionais: Merlot,
Chardonnay, Viognier, Syrah, Cabernet Sauvignon etc.
O único vinho da Úmbria, produzido pela Falesco,
é o "Grechetto"
Perguntei ao Bacco se conhecia o "Grechetto" da Falesco
A resposta: "Fa
cagare" e continuou "Um bom branco, da região, é o Orvieto "Campo del
Guardiano" da vinícola Palazzone. Se quiser um tinto honesto vá de Rubesco
Lungarotti"
Não conheço nenhum dos dois vinhos, mas conheço Bacco, então....
Tchau, querido Jorge
Dionísio