A Itália, na companhia de grande parte da Europa, passa por um
período de crise que parece não ter fim.
A Itália do após-guerra, que conseguiu ressurgir dos
escombros, reconstruir a nação, alcançar bem estar social de rara qualidade, se
transformar em um dos países mais ricos do mundo, acreditou na eternização da
riqueza, se acomodou, deitou na cama e não se atualizou.
Ninguém (políticos,
sindicatos, empresários, população em geral etc.) quis encarar, com seriedade, as
reformas necessárias para modernizar o país, país este, que continuou agarrado
às ultrapassadas leis trabalhistas e a gastos nem sempre racionais ou
necessários.
Ninguém quis renunciar a nada!
Agora, a conta, do “empurrar com a barriga”,
chegou e chegou pesada.
A solução encontrada?
Para variar: aumento de
impostos e taxas, arrocho salarial, corte nas aposentadorias etc. etc. etc.
Não existe almoço grátis!!!!.
É uma choradeira generalizada.
Mas, nesse “mar de lagrimas”, há oásis de alegria, pujança e bem
estar.
Um desse “oásis” pode ser encontrado no setor turístico.
Quando falo em turismo, não penso naqueles massacrantes tours "8 dias-15
cidades” em que o turista, “pizza-coca-cola-arroto”, acaba desenvolvendo
“ônibus-fobia” após intermináveis horas de estradas e mais estradas.
O coitado, com Euro contado, não vê nada, entende menos
ainda e, após uma semana de “pizza-coca-cola-arroto”,
já não disfarça a saudade do feijão com arroz, bife e batata frita, prato
cotidiano lá na amada e saudosa Morrinhos.
Falo e penso no turismo
do vinho e da gastronomia.
Falo e penso no turismo, por exemplo, do tartufo, do Barolo,
do Barbaresco, da Barbera: O turismo na região de Alba.
Em minha última passagem pelas “Langhe”, encontrei uma Itália
que não dá bola e nem sabe o que é crise.
Alba, capital do eno-turismo piemontês, que conheço e
frequento há décadas, não para de me surpreender.
Na cidade, rainha das trufas, há sempre um novo endereço para
se beber um bom vinho, um novo restaurante para se conhecer, uma nova enoteca
para se comprar ótimas garrafas…. Alba e seu território não cansa o turista.
Os novos locais estimulam a sadia concorrência e obrigam os
tradicionais endereços a constante renovação.
Na Piazza Savona, uma das mais badaladas praças de Alba, os
bares aboliram as tradicionais mesas e cadeiras de plástico e adotaram
confortáveis sofás e poltronas todos padronizados com o estofamento na cor bege.
A Piazza Savona parece uma imensa sala de estar onde os bares,
como “La Brasilera”, “Savona”,
“Caffè Umberto”, servem vinhos em taças (Barolo, Barbaresco, Barbera, espumantes,
Champagne etc.) conquistando, assim, até os turistas mais experientes e
exigentes.
Bem no meio da “Via Maestra”,
rua que abriga as lojas mais sofisticadas da cidade, o “Vincafè” impera absoluto.
O “Vincafè” espalha suas
mesas, sempre lotadas de turistas, bem no meio da rua e oferece nas taças a
melhor seleção de vinhos da cidade (mais de 40
etiquetas).
Em uma ruazinha lateral, “Via Mandelli”, pouco antes do “Vincafè”, o
“Bar Hemingway”
é uma casa de rara sofisticação.
O “Hemingway” e um dos locais preferidos pelos jovens nas
baladas dos finais de semana.
No final da “Via Maestra” a prefeitura e a igreja matriz, com
seriedade e imponência, parecem vigiar os inúmeros bares que se espalham pela
praça central de Alba.
“Antico Caffè Calissano”, “Bistrot Pizzeria Duomo”, “Caffè Teatro”, “Caffè Rossetti”, “Enoteca
La Sagrestia” são validíssimo endereço, da
“Piazza
del Duomo”, para se beber e fazer lanches rápidos.
O meu ponto preferido?
“Enoteca la Sagrestia”!
Ótimos vinhos tintos e brancos (experimente uma taça do bom Timorasso da
carta), vários espumantes (prove o Mosnel),
bons petiscos, serviço eficiente e estacionamento fácil, fizeram da “La Sagrestia”
um dos meus endereços prediletos em Alba.
É bom lembrar que considero Alba “cidade do vinho” onde se
bebe melhor.
Quando falo “bebe-se melhor” não estou me referindo à qualidade
dos vinhos, mas ao conjunto da obra.
A qualidade dos bares, atendimento,
variedades de etiquetas, tira-gostos e, finalmente, mas não menos importante,
as taças
As taças utilizadas, em qualquer boteco de Alba,
matam de vergonha os turistas franceses.
Quem conhece Beaune concorda com minha afirmação.
Beaune pode ser
comparada, turisticamente, em tamanho e importância vinícola, a Alba.
Sem nenhum exagero,
posso afirmar, que em Alba bebe-se melhor, aliás, muito melhor.
Você já tentou beber, em qualquer bar de Beaune, uma taça de
“Bâtard Montrachet” ou de um "Chambertin-Clos de Bèze"?
Se já, não conseguiu.
Em Alba, se você tiver um cartão musculoso, com 10/20 Euro poderá,
na “La Brasilera”,
“Vincafè”, “Savona” e outros mais, beber, em taças de cristal, etiquetas de
Gaja, Conterno, Mascarello, Vietti, Voerzio, Rinaldi,
Biondi Santi etc.etc.etc.
É sempre bom lembrar que os vinhos franceses e as etiquetas italianas,
acima mencionados, tem preços semelhantes.
Na próxima matéria, os restaurantes.