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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

9.430 II


 


Já ouviu falar da Basilicata?

Provavelmente não, mas a Basilicata, pequena região do sul da Itália, merece atenção especial no "Almanaque Biotônico Fontoura Nível 3 WSET".
 

Apesar de seu ótimo "Aglianico del Vulture", no panorama vinícola italiano, a Basilicata é de limitada importância e não pode ser comparada à Lombardia, Emilia-Romagna e Sardenha.
 
 

A Lombardia, região mundialmente conhecida por seus espumantes "Franciacorta" e "Oltrepò Pavese", por seus grandes vinhos da Valtellina (Sfursat, Grumello, Sassella, Inferno), não merece uma linha sequer no livro do "Biotônico Fontoura Nível 3 WSET".
 

O que dizer, então, da "esquecida" Emilia-Romagna e de seus 7,9 milhões de hectolitros de vinho?

O Lambrusco, um dos vinhos mais populares do planeta, não merece uma palavra sequer?

O ótimo Sangiovese di Romagna, idem?

A milenar viticultura da Sardenha, com seus Cannonau, Vermentino, Carignano, Vernaccia, não existe?
 

Para nós existe, mas a WSET só pensa na Basilicata.

Mais algumas perolas do "Almanaque Biotônico Fontoura Nível 3 WSET"

"A região de Barbaresco, mais pequena (sic) do que Barolo, também é conhecida pela Nebbiolo. Tem encostas com orientação sul, mas a menores altitudes do que as de Barolo (200 - 400 metros). A menor altitude e a influencia de um rio local fazem com que a Nebbiolo emadureça mais cedo aqui do que em Barolo...."

Já vi afirmações imbecis, mas essa é "hors concours"; típica afirmação de quem pescou informações no Google e pescou errado.

 
O rio da região é o Tanaro (pronuncie Tánaro).

O Tanaro é um rio que passa mais bem mais próximo das vinhas de Nebbiolo, em Roddi e Verduno, aldeias da DOCG "Barolo", do que as da DOCG Barbaresco (Barbaresco, Treiso e Neive).

O Tanaro não influencia em nada as vinhas de Nebbiolo de Barbaresco e de Barolo.

A composição do solo, esta sim, é a grande responsável pela diferença entre as duas DOCG.

A composição do solo das onze aldeias onde nasce a DOCG "Barolo" é prevalentemente argilosa.

O solo nas quatro cidades da DOCG Barbaresco apresenta exatamente o contrário: maior presença arenosa.

Nada mais simples, nada mais revelador: O terreno, somente o terreno, determina as pequenas diferenças que distinguem os vinhos das duas DOCG

Querem mais uma idiotice do "Almanaque Biotônico Fontoura Nível 3 WSET"?
 

O curso informa, erradamente, que a menor altitude das colinas, da DOCG Barbaresco (200 - 400 metros), faz emadurecer a Nebbiolo antes que cachos da DOCG Barolo.

No disciplinar do Barbaresco a altitude máxima permitida, para o plantio das vinhas, é de 550 metros.

No disciplinar "Barolo" os vinhedos não podem ultrapassar os 540 metros.

É fácil perceber que as colinas de Barbaresco são tão elevadas quanto às de Barolo.

O "Almanaque Biotônico Fontoura Nível 3 WSET" nem consultou o disciplinar das duas DOCG para perceber que não há diferença de altitude nas colinas das duas denominações.
 

A mais bela pérola do "Almanaque do Biotônico Fontoura Nível 3 WSET" foi reservada à DOC Soave.

Os mestres, da renomada escola inglesa, escrevem: "A região de Soave fica a leste de Verona e abrange duas partes distintas: o sopé das montanhas, no norte e a planície rasa perto do rio Pò"

Erro 1: Não há montanhas em Soave. Há apenas colinas cuja altitude não ultrapassa os 500 metros.

Erro 2: O rio, próximo da planície de Soave, é o Adige. As águas do rio Pò correm, alegremente, 70 quilômetros mais ao sul.
 

 Meus parabéns..... Você, que desembolsou R$ 9.430 para "compreender o vinho", vai receber o título de eno-palerma WSET.

Há muitíssimas outras bobagens, mas gastaria muito tempo para enumerá-las e meu saco não aguentaria.

Minha crítica se limita apenas (nem todas) às bobagens "italianas", mas uma pequena incursão pela Borgonha revelou mais uma idiotice.

O "Almanaque Biotônico Fontoura Nível 3 WSET" comete mais dois inacreditáveis erros: "Existem várias denominações village na região do Mâconnais, de entre as quais, as duas mais famosas são Pouilly-Fuissé e Saint-Veran....... As videiras estão implantadas nas encostas calcárias da Roche de Solutré e gozam de exposição este e sudeste".

Ok, tudo bem, mas as vinhas da AOC não estão implantadas, também, na pouco distante (1,2 km) encosta da Roche de Vergisson?

Os "professores" do "Almanaque do Biotônico Fontoura WSET" nunca foram a Puilly-Fuissé.
 

Comentar as vinhas da Roche de Solutré e "esquecer" de mencionar aquelas da Roche de Vergisson é uma colossal piada, tão colossal quanto à imponente Roche de Vergisson.

Se os alunos brasileiros tivessem feito um curso "nível 3" no Google teriam obtido melhor resultado e economizado R$ 9.430 que poderiam ter sido gastos na compra de ótimos vinhos.

Mais uma informação: Se você quiser cursar o nível 1-2-3 na "Accademia del Vino WSET" em Milão, Viale Monza nº 8, gastará 1.860 Euros (R$ 8.370).

Um pequeno detalhe: A renda per capita de 2016, no Brasil, foi de R$ 30.407.

 
Na Lombardia (Milão) 37.258 Euros (R$ 172.160)

Dionísio.

 

6 comentários:

  1. Caro Dionísio,

    Acabo de fazer o WSET 3 (justamente na Itália, na Accademia Vino por você citada) e, não digo que me arrependo, mas quase. De fato achei muitas falhas também. Por outro lado devo fazer algumas necessárias ressalvas:

    - O curso é feito por ingleses e destinado principalmente ao mercado britânico (ou anglo-saxão em geral), portanto dá prioridades a regiões vinícolas que vendem mais por lá e se eles falam em Basilicata ou Soave (quase desconhecidas no Brasil) é porque por motivos mercadológicos se encontram mais facilmente nas prateleiras de lá, mais do que Franciacorta ou Sangiovese di Romagna. Afinal é claro que em 200 páginas algo tem que ser cortado (por exemplo na Cote d’Or nem uma citação a Chambolle-Musigny!), lembrando que, embora avançado, o nível 3 é ainda um intermediário e que as outras regiões são abordadas e aprofundadas no nível 4.

    - Verdade que o disciplinare de Barbaresco permite altitude até 550m, mas sabemos que a maioria dos vinhedos (pelo menos os melhores) não supera os 300m.

    - A proximidade do Tanaro influencia sim o desenvolvimento das uvas de Barbaresco (o tal do microterroir de vinhedos como Rabajá, por exemplo).

    - Sobre Soave o que está errado é a tradução em português: no meu texto original, em inglês, está escrito “foothills”, ou seja aos pés das colinas, e não se fala em montanhas em momento algum.

    Enfim, concordo que pode ser melhorado (e muito!), mas eu não seria tão “cattivo” assim e afinal podemos dar um desconto a eles sobre estas questões.

    Un abbraccio!

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  2. Um abbraccio anche a te, mas devo discordar. Oferecer um curso, em 60 países, visando apenas o mercado britânico é fazer piada com os 59 restantes. Soave desconhecido no Brasil? Não há Lambrusco nas prateleiras inglesas? O Tanaro não influencia nada especialmente o Rabajà que está há muitos km. Poderia influenciar, talvez, o Starderi que é mais próximo. O rio Pó? Você não comentou o rio Pò nem a denominação Asolo DOCG. Continuo afirmando que o WSET é um curso caro , dispensável e ridículo.

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    1. Olha que não estamos discordando, eu disse que de maneira geral concordo contigo, apenas fiz uma ressalvas onde achei necessário. Por isso não comentei sobre Po e Asolo, justamente porque você está certo.
      Tampouco não disse que eles são donos da razão, apenas tentei explicar o ponto de vista deles, que é restrito ao consumo tradicional da bebida por lá. Está errado, sem dúvida, mas é assim, fazer o que, pegar ou largar. Por incrível que pareça o Lambrusco lá nunca emplacou, está apenas começando a ter um discreto sucesso só nos últimos 2-3 anos. Eles são os maiores consumidores de Champagne do mundo, por isso Franciacorta nem pensar. Já para o dia-a-dia é muito Prosecco, e ocasionalmente Cava.
      Sobre o Tanaro, dê uma lida aqui: https://www.cn.camcom.gov.it/sites/default/files/uploads/documents/Promozione/Marchi_qualita/FormazioneMOI/Barbaresco%20e%20Barolo.pdf
      Enfim, não estou aqui para fazer a apologia do WSET, pelo contrário, como já disse provavelmente eu não o faria novamente, mas não achei tudo ruim. A minha humilde opinião, depois de ter feito o curso, é a seguinte:
      -Dispensável? Certamente (embora para trabalhar no setor muitas empresas estão começando a exigir como requisito).
      -Caro? Bastante, mas tem que considerar também o nível das garrafas degustadas (90 vinhos em 1 semana) do mundo inteiro com vários top (não sei no BR, mas na IT degustamos Grand Crus de Bordeaux e Borgonha, Barolo, Amarone, Brunello, Rioja Gran Reserva...) o que acrescenta o custo.
      -Falhoso? Sem dúvida! Muito melhorável sob este aspecto!
      - Visão anglo-céntrica? Demais, mas até agora é o único curso alternativo aos de sommelier que dá uma visão aceitável sobre o mundo do vinho, reconhecido mundialmente.
      -Genérico e superficial demais? Sim, mas para aprofundar existe o nível 4 (que não pretendo fazer)
      - Ridículo? Não. Apesar de tudo, o curso é sério e é punk para estudar. As horas do curso são 28 (e não 18) que devem ser acompanhadas de no mínimo mais 55-60 horas de estudo em casa. Os testes finais não são nada simples e não te dão o certificado só porque está pagando. A média de superação do teste no mundo é de 45%, ou seja, a cada 10 alunos só passam 4.
      Tire as suas conclusões.
      Con affetto!

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  3. ok ,mas continuo achando tudo muito estranho. Um curso , que comete tantos erros deveria restituir o dinheiro aos alunos. Imagine um curso de enfermagem onde se ensina que os batimentos cardíacos oscilam entre 120 e 180...... Mais uma coisa é difícil acreditar que os italianos aceitem , de bom grado, que o Pò passe por Soave. Continuo achando que o Tanaro não é o fator que determina a diferença entre o Barolo e Barbaresco. Afirmo que as diferença , entre as duas DOCG, sejam determinadas pelo solo. No mais.....Amici come prima, mas vou pedir ao Bacco que encontre uma apostila do WSET italiano para PODER comparar.

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    1. Amici sempre!
      Os italianos não fazem o WSET (io sono l’unico fesso! Rsrs), na verdade mal conhecem, pois são muitos presos aos vinhos locais. O que, se por um lado é compreensível vista a enorme quantidade de vinhos italianos, por outro eles não se abrem muito ao mundo e ignoram o que acontece lá fora. Pense que a maioria dos vinhos degustados no curso, especialmente os do Novo Mundo, o professor compra diretamente em Londres...
      Em italiano por enquanto só nível 1-2, já o 3 é ainda só em inglês. Aliás, me pergunto como na versão brasileira permitam que um cara (que obviamente deve ter uns 2 diplomas em línguas estrangeiras, mestrado, doutorado e pós...) consiga traduzir a palavra “hills” com “montanhas”...
      É la fine! Siamo fritti!
      Cari Saluti!

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  4. Vou meter o bedelho. Se você acha que os italianos são presos aos vinhos locais não deve ter muita intimidades com os franceses : Nos bares de Beaune se quiser beber um vinho de Bordeaux vai morrer de sede kkkkkkk. Gastar dinheiro coma WSET é bobagem . Se tivesse pedido uma indicação poderia tê-lo ajudado apresentando meu amigo Alex Molinari , presidente da AIS Chiavari. Fica pra próxima
    Bacco

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