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segunda-feira, 30 de julho de 2018

9.430


 


O título da matéria revela quantos Reais são necessários para se cursar os níveis 1- 2- 3 da WSET e obter o "Certificado Avançado em Vinhos e Destilados".

Na página da WSET, que se diz presente em 60 países, o famoso (e caro) curso inglês garante que, o nível 3,

Proporciona um conhecimento profundo em vinhos e destilados. 
É o curso ideal para capacitar aqueles em posição de supervisão com a autoridade e confiança para 
tomar decisões inteligentes em uma ampla variedade de situações comerciais.

Conversando com alunos, que já haviam frequentados os níveis 1 - 2 e 3 notei que os eno-conhecimentos eram superficiais e beiravam o ridículo.

De tudo um pouco, mas nada de realmente profundo, apenas conhecimentos superficiais, conhecimentos de almanaque "Biotônico Fontoura"

 
Certo dia bebericando com um "aluno", que havia terminado o nível 3 da WSET,  o papo descontraído enveredou, como previsível,  para o vinho.

 Várias taças e algumas risadas depois... "Estou com o livro do nível 3 no carro. Você quer dar uma olhada?"

Quase 200 páginas, centenas de vinhos, inúmeras regiões vinícolas; impossível ler tudo em poucos minutos.

"Você me empresta?"

Sem nenhuma objeção o amigo me cedeu o livro e, ao chegar a minha casa, dei uma olhada com calma

 
Levei um susto.

A WSET não brinca em serviço e ataca, em 45 capítulos, de tudo, de todos os vinhos e não deixa pedra sobre pedra.......Arrasa.

Técnica Sistemática de Prova de Vinho -Vinho e Comida -Armazenamento e Serviço do Vinho

A Videira- Meio Onde a Videira Cresce - Gestão de Vinha - Elementos Comuns na Vinificação e no Envelhecimento - Elaboração de Vinho Branco e Vinho Doce - Elaboração de Vinho Tinto e Vinho Rosé - Fatores que Afetam o Preço do Vinho - Vinho e Legislação.

A WSET não deixa barato e ataca de Borgonha, Dordogne, Beaujolais, Alsácia, Alemanha, Áustria, Itália, Espanha. Portugal Califórnia, Oregon, Canadá ,Chile Argentina , África do Sul etc.etc.etc.
Estranhei, na relação de países produtores, a ausência do Brasil e seus grandes vinhos sempre elogiados por nossos "professores" e sommelier.

Mas, a WSET não para por aí e continua sua impressionante incursão no mundo dos vinhos: Produção de Vinho Espumante - Vinhos Espumantes do Mundo

Nada e ninguém segura a WSET que continua e ataca de Xerez - Vinho do Porto - Moscatel Fortificados.

Não escapa nada e ninguém e todas as informações devem entrar na cabeça dos alunos em pouco mais de 18 horas.
 

Viu como é fácil entender de vinhos

R$ 9. 430 e algumas horas depois você já poderá exibir o certificado WSET e iniciar sua gloriosa caminhada de eno-pentelho (os que frequentam cursos de vinho são potencialmente eno-pentelhos)

A página 196 da WSET é dedicada, ainda bem, aos agradecimentos

Ufa..... Eu  agradeci ao verificar que meu saco ainda não havia explodido.....

Mas, o WSET realmente informa com precisão? É confiável?

 
Vou deixar a resposta para a próxima matéria, mas aqui vai uma pequena amostra.

No capítulo "Vinhos Espumantes do Mundo" a WSET dedica ao "Prosecco", o espumante mais produzido do planeta, menos atenção e linhas descritivas que reserva aos famosíssimos espumantes australianos.

Não contente, em rebaixar o "Prosecco" para a terceira divisão, a WSET cancela, do mundo vinícola, uma denominação do famoso espumante.

Segundo a WSET ".... Existem duas regiões delimitadas: Prosecco DOC, que abrange uma ampla área do Vento e Friuli, e Conegliano-Valdobbiadene DOCG, que é de maior qualidade.

O aluno "nivel3" , quando sentado no "Caffè Centrale" , da belíssima Asolo, pedir um Prosecco e o garçom servir uma taça de "Asolo Prosecco DOCG", não deverá pensar naqueles R$ 9.430 e nem amaldiçoar a WSET, apenas relaxe e..... beba.
Dionísio
 

quinta-feira, 26 de julho de 2018

BAROLO CORDERO DI MONTEZEMOLO


 


La Morra é uma das onze aldeias que fazem parte da DOCG Barolo.

La Morra, no contexto "Barolo", é muito importante: Seu território abriga 33% das vinhas da famosa denominação.

Seus vinhos, na minha opinião, são mais elegantes, harmônicos e mais prontos para beber.

Os viticultores "concorrentes", especialmente os de Serralunga, Monforte D'Alba e Castiglione Falletto, consideram o Barolo de La Morra "um vinho para mulheres".

 
Que as garrafas das três aldeias mencionadas exprimem mais potência, robustez, longevidade, ninguém duvida, mas há certo exagero em classificar "femininos" os vinhos lamorresi (de La Morra).

Cerequio, Marcenasco, Brunate, Rocche, Manzoni, Monfalletto são alguns crus que doam garrafas de sonho.

Em recente jantar, na casa de parentes, entre outras garrafas importantes (Capitel Croce Anselmi, Timorasso Claudio Mariotto, Chassagne-Montrachet 1er Cru Clos Des Murées Fontaine Gagnard, Barbera D'Alba Fratelli Alessandria) o anfitrião abriu, para acompanhar um risotto de funghi, um Barolo "Monfalletto" 2002 Cordero di Montezemolo.
 

Encontrar os crus de La Morra, ou de outras aldeias, não é tarefa fácil e para identificá-los é necessário um bom conhecimento do território vinícola.

O único cru que salta imediatamente aos olhos é o "Monfalletto".

No cume de uma colina, um imponente e maravilhoso cedro do Líbano, plantado em 1856, identifica o cru "Monfalletto".
 

O Barolo 2002 da Cordero di Montezemolo com sua elegância, harmonia, complexidade aromática e grande estrutura, dominou, com folga, os "concorrentes" e foi o melhor vinho da noite.

Vou além: Um dos melhores Barolo que provei dos últimos tempos.

Não sei se é encontrado no Brasil, mas recomendo, aos enófilos que viajam para o exterior, um largo espaço nas malas para abrigar algumas garrafas do excelente "Barolo Cordero di Montezemolo"

Grande vinho.

Bacco

quinta-feira, 19 de julho de 2018

PINOT BIANCO


 


Com muita freqüência leio matérias, comentários, elogios e tudo mais, sobre a Pinot Noir, mas raríssimas vezes, no patético mundo vinícola brasileiro, encontro algo informativo, sério, didático, sobre a nobre casta.

Semana passada, percorrendo a extraordinária gôndola de vinhos do supermercado "Esselunga", encontrei, em promoção, algumas garrafas de Pinot Bianco da vinícola Mario Schiopetto.
 

Falar de Schiopetto é falar de Friuli.
 
 
 

O  Pinot Bianco da Schiopetto, que nasce em Capriva Del Friuli, há poucos quilômetros da Eslovênia, honra a tradição vinícola da região.

Mas vamos falar um pouco de Pinot.

O principal e ancestral da Pinot Blanc é, sem duvidas, a Pinot Noir.

A "Pinot Noir", casta originária da Borgonha, já era cultivada há mais de 2000 anos antes, até, da colonização romana.

Casta delicada e sujeita às mutações, deu origem, através dos séculos, à suas diretas descendentes: Pinot Gris, Pinot Blanc, Pinot Meunier.


Todas as tipologias da Pinot preferem climas frios, condições climáticas constantes e sem mudanças repentinas de temperatura

Na França, seu berço, onde melhor adaptada e é mais bem interpretada, doa vinhos insuperáveis na Borgonha, Alsácia e Champagne.

A Pinot Blanc, durante muito tempo, foi confundida, por suas características e semelhanças, com a Chardonnay, mas hoje a dúvida já não existe.

A pátria dos melhores vinhos desta casta é, sem sombra de duvidas, a Alsácia.


Nesta região francesa é produzido o ótimo "Gros Pinot Blanc".

A Pinot Blanc é cultivada em todos os continentes com resultados não mais que razoáveis.

Razoáveis até quando começará a ser vinificada pelo Dani-dos-mil-nomes, agora em seu "new Look" PAVÂO-BMW-320! .
 

Nosso PAVÃO-BMW-320i conseguirá, certamente, produzir o "Piúlia" (Pinot-Fúvia) bem superior ao "Gros Pinot Blanc" alsaciano (risos, risos, risos, risos..... Parem, por favor)

Os Pinot Blanc italianos nunca me entusiasmaram, mas, como salientei no começo da matéria, a promoção da "Esselunga" me seduziu e comprei algumas garrafas por 12,50 Euros.

Dinheiro bem gasto.

O Pinot Bianco da Schiopetto, de rara elegância tanto no nariz quanto na boca, revela muito frescor, boa acidez e uma razoável estrutura.

O Pinot Bianco da Schiopetto é um perigo..... Impossível parar na primeira taça.

 
Fácil de beber como aperitivo, acompanha, maravilhosamente,  peixes finos e delicados.

Com o consentimento do proprietário do ótimo restaurante "L'Approdo" , de Santa Margherita, levei minha última garrafa de Pinot Bianco da Schiopetto para acompanhar o melhor prato da casa (um dos melhores já provados): Linguado à Belle Meunière.

 
Grande vinho, ótimo peixe.

Pinot Bianco Schiopetto: recomendo com entusiasmo

Há momentos em que a vida não é uma merda....

Bacco

 

terça-feira, 17 de julho de 2018

VELHO OU JOVEM? II


Antes de morar em Santa Margherita, Alba era minha cidade preferida na Itália.

Durante longos anos percorri a região circunstante e não há aldeia vinícola, das Langhe, que não conheça.

Barolo, Verduno, Novello, Monforte D'Alba, Serralunga D'Alba, Cherasco, Castiglione Falletto, La Morra, Roddi, Grinzane Cavour, Treiso, Barbaresco, Diano, etc.
etc.etc..


Conheço e frequentei inúmeros restaurantes, bares, produtores de vinho (bons e picaretas), em todas as aldeias da região.

O aprendizado foi longo, caro, mas valeu cada Euro gasto com a grande eno-gastronomia das Langhe

No começo, da "exploração", uma mania, típica dos neófitos, me "perseguia": "O vinho, quanto mais velho, melhor"


Não recordo quantas "entubadas" levei, mas, sem dúvida, foram muitas.

Com o passar dos anos, finalmente, aprendi que o vinho nasce, envelhece e morre exatamente como, por exemplo, os humanos.

Demorei e entrei pela tubulação inúmeras vezes, mas compreendi que, apesar do grande fascínio, garrafas com 30-40-50, ou mais anos, são mais peças de museus, para colecionadores e que nas taças, quase sempre, decepcionam.

As minhas últimas "entubadas" foram exatamente em Alba, mais exatamente, na "Enoteca Grandi Vini" dos meus amigos Enrico e Pier Lorenzo.


Já escrevi algumas matérias sobre a "Grandi Vini" e as notícias serviram para torná-la bastante popular no Brasil, especialmente, em Brasília, São Paulo e Rio.

Garrafas de grande prestígio, boa variedade de etiquetas, preços razoáveis, transformaram a "Grandi Vini" em um endereço quase obrigatório dos turistas brasileiros em Alba.

Mas vamos aos fatos...

Certo dia, no início dos anos 2000, passeando pela "Via Maestra" resolvi visitar Enrico e Pier Lorenzo.

Abraços, algumas piadas, muitas risadas e...: "Você conhece a nossa nova adega de vinhos antigos?".

Quando Pier Lorenzo mencionou "vinhos antigos", meus olhos brilharam.

Descemos, com alguma dificuldade, uma pequena e estreita escada caracol e, quando Pier Lorenzo acendeu a luz... Havia encontrado os vinhos da arca de Noé.

No subsolo da loja, muros de época romana guardavam garrafas de importantes: Gaja, Conterno, Borgogno, Marchesi di Barolo, Fontanafredda, Barale, Giacosa, Cappellano, Cavallotto, Damilano, Cordero di Montezemolo, Oddero, Marcarini, Pio Cesare, Ratti etc.

Garrafas dos anos 1940-1950-1960, 1970, 1980..... Uma seleção de sonho (que depois virou pesadelo).

Naquela mesma noite agendara um jantar em Verduno, no "Dai Bercau", com os proprietários do restaurante e meus grandes amigos, Gianni e Massimo.

Olhado para aquelas garrafas empoeiradas não resisti e, planejando surpreender meus amigos, comprei, para a ocasião, uma garrafa de Barolo Prunotto e uma de Barbaresco Pio Cesare.

Honestamente não recordo a safra exata, mas creio fossem dos anos 1960.

Todo prosa, cheio de moral e sorridente, na hora do jantar, abri a primeira garrafa..... Morta .

Um pouco sem jeito, sorriso amarelo, peguei a segunda e.... Outra defunta 

Com um sorriso maroto, Massimo foi até a adega, pegou e abriu uma garrafa de Barolo, do Gian Alessandria e, finalmente, bebemos.

No dia seguinte voltei para a "Grandi Vini" e relatei o ocorrido.

Pier Lorenzo, sem pensar muito, falou "As garrafas apesar de bem armazenadas, como você viu, são para colecionadores ou turista que acreditam que o vinho seja eterno. Garrafas com 40- 50 anos são loteria. Escolha duas de safras mais recentes e não me encha mais o saco".

Sorrisos, abraços e..... Nunca mais comprei etiquetas com mais de 20/25 anos.

Como conseguir garrafas antigas?

Enrico e Pier Lorenzo dominam, com rara eficiência, o mercado de antigas garrafas e são especialistas em "limpar" velhas adegas.

Uma pequena informação.

Os italianos, tradicionalistas, como poucos, não jogam fora nada.

Guardam montanhas de velharias sem utilidade pelo simples prazer de acumular recordações.

Livros, jornais, brinquedos, sapatos, malas, roupas, terços, estampas e..... vinhos.

Quando os velhos morrem a primeira providência dos herdeiros: se desfazer daqueles montes de bagulhos.

 Para se livrarem de tudo contratam, pasmem, empresas especializadas em "sbarazzo" (limpeza de depósitos) .

A maior parte das bugigangas vai para o lixo e a algumas velharias acabam nas inúmeras feiras de antiguidades que uma vez por mês ocupam as ruas de muitas cidades italianas.

Quando há notícia de algum "sbarazzo" os proprietários da "Grandi Vini" e de centenas de outras enotecas especializadas , se antecipam , correm e arrematam, muitas vezes por preço irrisório, todas as garrafas.

Aqui, também, muita porcaria, mas às vezes, naquelas velhas adegas, há a verdadeiras peças de museu.

Os compradores?

Colecionadores e os que acreditam, como eu acreditei, no "quanto mais velho, melhor".

Para entender melhor o mercado de velhas etiquetas anexo dois links.

O primeiro, da "Grandi Vini", traz de tudo um pouco (clique no link e depois em VINI-LISTA COMPLETA)

O segundo é, também, interessante.
https://www.grandibottiglie.com/it/62-vini-d-annata-anni-50

No link da "Grandi Vini" há safras novas, velhas, velhíssimas.

 Seguindo a ordem alfabética é possível encontrar o Barolo de Marcello Scarzello de 1970 por $ 62,11 ou 52,23 Euros.

Scarzello é o mesmo produtor da garrafa degustada por Diego Arrebola.

Quando Arrebola vier à Itália e me der o prazer de sua visita, não será tão difícil encontrar garrafas empoeiradas nas prateleiras da "Grandi Vini" ou em outras dezenas de enotecas especializadas.

Difícil será encontrar algumas ainda bebíveis.


Bacco.

PS. É muita coincidência encontrar o Barolo Marcello Scarzello na "Grandi Vini".

A coincidência me faz pensar que o amigo do Arrebola comprou as garrafas justamente na loja de Enrico e Pier Lorenzo.

Se assim for, minhas dúvidas, quanto à qualidade e integridade do vinho, aumentam.


 As velhas garrafas viajaram e chacoalharam, por mais de 9.000 quilômetros, passando calor e frio, depois mais frio e mais calor e..... ainda apresentavam aromas terciários?

Será?







segunda-feira, 16 de julho de 2018

VELHO OU JOVEM?


 


Li um breve comentário do Diego Arrebola, no Facebook, que me deixou estupefato.


8 h · Instagram ·

E isso aconteceu durante a semana... Com frequência evito responder a inevitável pergunta sobre quais seriam meus vinhos favoritos, mas cada vez mais Barolo tende a ser a resposta. Barolo é amor!!!
Esses dois foram abertos mais de 24hrs antes, e quando os degustei com a @gabifrizon estavam sublimes! O 75, com um pouquinho de oxidação além do ideal, mas ainda com muita fruta e vivacidade, embora de caráter marcadamente terciário. Já o 57... definitivamente um dos vinhos da vida! Que vinho, senhoras e senhores, que vinho! Terciário, deliciosamente evoluído, complexo, vivo, com seus taninos ainda presentes, e acidez equilibrada, com final interminável... um vinho para sonhar acordado, para ficar na memória por mais tempo ainda do que ficou na garrafa!
Agradecimentos ad eternum ao @gabrielraele pela graça enológica alcançada.
#entrecopos #barolo #piemonte #vinho #wine #winetasting #sommelier #somm #profissaosommelier

Dionísio, como de costume, respondeu

Dionísio Ramos \Me perdoe, mas abrir um vinho de 1957 24 horas antes de bebê-lo é uma tremenda cagada: Um vinho com 60 anos se já não está mais que morto , morre em menos de uma hora

 


Diego e Dionísio continuaram postando e eu lendo.

Duas coisas me intrigaram de imediato:

a idade dos vinhos.

abrir vetustas garrafas 24 horas antes de consumi-las.

Não acredito que alguém, com um mínimo de conhecimento, se atreva a desarrolhar, 24 horas antes de bebê-las, garrafas com 43 e 61 anos de idade, respectivamente.
 

É sabido, notório, que vinhos muito velhos, se já não dobraram o cabo da boa esperança, "morrem" em poucos minutos após a abertura da garrafa.

Deixar, então, respirar por 24 horas é uma loucura sem par.

Arrebola respondeu.

Diego Arrebola o vinho foi aberto em restaurante, e o cliente não consumiu tudo. Foi um amigo que nos deu, e só pude buscar um dia depois. O vinho estava vivíssimo, e segundo meu amigo, que provou logo após aberto, melhor do que antes . Já tive essa mesma opinião que vc manifestou, mas não é a primeira vez que provo vinhos dessa idade, mais de um dia após aberto, e encontro um vinho maravilhoso. Há vinhos e vinhos, e alguns nos surpreendem...
 


Apesar da justificativa, continuo não acreditando que garrafas de Barolo de 43 e 61 anos possam resistir por 24 horas depois de abertas.

Olhando a foto, com cuidado, percebi que nenhum dos dois produtores é conhecido, renomado, tradicional e que, na realidade, são ilustres desconhecidos.

O Barolo de Scarzello, que foi produzido em Serralunga D'Alba, tradicional aldeia que prima pela longevidade de seus vinhos, tem alguma possibilidade de durar no tempo, mas 61 anos me parecem demasiados.

O outro, da "Fratelli Torrengo" de Cherasco, vinícola que já não existe, nem é produzido com uvas locais (os cachos são de Monforte D'Alba).

É bom salientar que Cherasco é uma das onze aldeias que podem ostentar a denominação "DOCG Barolo", mas as vinhas, da única vinícola da cidade, a "Cantina Fracassi", estão localizadas bem na divisa de Cherasco e La Morra.

Há poucos meses provei, mais uma vez, o Barolo Fracassi e, como sempre não me entusiasmou.

Dito isso, vou além....

Um vinho, no nosso caso, o Barolo, para ter vida longeva, precisa repousar em um ambiente muito particular: A temperatura deve ser constante, entre 11° e 14°, a umidade pode variar de 65% a 70% e, para evitar o mofo, necessita de bastante ventilação.

 
É bom não esquecer, também, que um dos maiores inimigos do vinho é a luz então...... blackout total.

Vamos à origem das minhas dúvidas

Todos os produtores de Barolo são unânimes em declarar que o famoso vinho piemontês atinge seu apogeu aos 10 anos de vida.

Algumas garrafas mais, outras menos, mas 10 anos são mais que suficientes para desarrolhar um bom o Barolo.

O Barolo é longevo?

 
Sim , assim como o são o Brunello , Taurasi, Amarone, Barbaresco, Chianti Classico etc., mas todas as denominações citadas, raramente conseguem expressar suas melhores qualidades após 20/25 anos.

Exceções há?

Sim, mas raras e nunca totalmente seguras.

 Prefiro a normalidade e a segurança de um bom beber e como diz um antigo ditado: "Meglio tre anni prima che tre mesi dopo....." (Melhor três anos antes que três meses depois...)

Arrebola termina o dialogo com a seguinte postagem
Diego Arrebola quando voltar a Itália caçamos uma garrafa dos anos 50 e abrimos juntos para tirar a prova !
Abraço 

Na próxima matéria tenho algumas surpresas sobre o assunto da "caça" de garrafas antigas.

Bacco

terça-feira, 10 de julho de 2018

JÓIAS RARAS FINAL


 
 
 

Apesar do otimismo e do esforço de Arrebola e seus seguidores, para promover o vinho e seu consumo, o panorama vinícola do Brasil continua uma piada.
 
 

A piada começa na própria America do Sul onde somente a Bolívia bebe menos vinho do que o Brasil.
 
 
 A piada continua quando verificamos que até as taças paraguaias são muito mais abundantes do que as brasileiras.

Onde está o erro?

Qual o problema?

O que fazer?

O coro dos produtores é uníssono em apontar os "culpados": O governo e os altos impostos.
 

Pode até ser verdade, mas nossos produtores de quase-vinho, quando defendem a redução dos altos impostos, como forma de aumentar o ridículo consumo de vinho no Brasil, esquecem, ou melhor, omitem algumas informações.

O vinho é taxado em 55% até chegar ao consumidor?

Sim!

Mas o pobre consumidor, também, não paga 56% para tomar cerveja e 82% para encher a cara com cachaça?
 

Sim!

Como explicar, então, a enorme diferença entre o consumo de vinho (1,7 litro/ano per capita), o da cachaça (11 litros/ano) e o da cerveja (61 litros/ano)?

Não sei qual a justificativa encontrada pelos dos defensores do vinho nacional, mas certamente não será a o de sua baixa qualidade e do preço irreal.

Minha opinião: enquanto produzirem 80% de vinho com uvas "americanas", cobrarem preço insultuosos, insistirem na propaganda fajuta e a lenga-lenga de sempre, o vinho no Brasil será consumido apenas por uma ínfima fatia da sociedade e a grande massa da população continuará bebendo cerveja e cachaça apesar dos, também, altos impostos.
 

Enquanto nossos sommeliers, que por sinal somente ministram cursos com vinhos importados (porque será?), formadores de opinião, críticos, revistas, blogueiros etc. encherem a bola de vinhos ridículos o panorama continuará negro.

Das "31 jóias raras e caras", apontadas por Guilherme Rodrigues, não há nenhuma que deixe de estuprar o bolso do enófilo nacional.
 

Uma última observação: Na matéria anterior afirmei que apenas possuidores de paladar de epóxi poderiam considerar os vinhos tormentosos, do "pavonesco" Dani-dos-mil-nomes, como excelentes.

Não é possível, então, que o coro seja uníssono e que todos os elogiem.

Qual o segredo?

Ode está o pulo do gatuno?
 
 

Simples..... Nas garrafas degustadas pelos críticos o vinho não é aquele das garrafas comuns, as garrafas que chegam ao consumidor.

Bebi todos os vinhos do pavão e nenhum ultrapassou a soleira da mediocridade.

Os vinhos foram comprados anonimamente e nas garrafas havia a realidade do "Atelier Tormentas".

Nas garrafas endereçadas aos críticos, divulgadores, imprensa, etc., certamente  a realidade não é a mesma e fala com sotaque francês.

Enquanto isso o nosso pavão, com seu new-look , agora na versão BMW, nos enche de ternura
 

Dionísio