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sexta-feira, 29 de junho de 2018

L'AGAVE


 


Em 2013 escrevi esta matéria onde comentava e recomendava um passeio pelos túneis que de Framura serpenteiam, beirando o mar,  até Levanto (se pronuncia Lévanto).
 

Domingo ensolarado, turista por todos os lados e saindo pelo ladrão ..... Resolvi deixar a super badalada Santa Margherita Ligure, almoçar em Framura no espetacular "L'Agave".
 
 

 


Já havia conhecido o "L'Agave", ano passado, quando meu amigo Franco Bertolone ,cansado de meu "imobilismo", me obrigou a entrar em seu carro e somente parou no pequeno porto de Framura bem ao lado do restaurante.

 
Marco Rezzano, grande sommelier e professor da AIS, teve a genial idéia de arrendar uma antiga a abandonada casinha que, no passado remoto, era utilizada como deposito de ferramentas para a manutenção de ferrovia.

A casinha, reestruturada, abriga a cozinha, o caixa e apenas três mesas.

Com muita visão e sapiência, Rezzano construiu dois terraços para abrigar mais mesas.
 

Não preciso dizer que, das mesas nas sacadas, é possível apreciar um panorama de tirar o fôlego.

A natureza incontaminada, o pequeno porto no fundo do penhasco, as enseadas paradisíacas e o mar azul que parece não ter fim, são impossíveis de descrever: é preciso conhecer.

É preciso conhecer, também, a ótima cozinha do "L'Agave".
 

Peixes e moluscos fresquíssimos, sabores da Ligúria preservados, mas apresentados com um toque de moderno bom gosto, uma pequena, mas sábia quantidade de pratos e, para finalizar, uma monumental carta de vinhos.

 
Monumental, não no número, mas na perfeita escolha dos produtores.

Carta que explora sapientemente todo o território lígure, se alastra até a Sicilia passando pelo Piemonte, Veneto, Marche, Campânia, Toscana e todas as regiões italianas.
 

Framura, suas belas paisagens, sua natureza não contaminada e o "L'Agave" merecem uma visita.

Mais uma dica: Vá de trem!

Deixe o carro e esqueça a estrada perigosa e cheia de curvas (mais de cem).
 

 O trem é mais seguro, mais rápido e a estação fica bem próxima do mar e do "L'Agave"

Confira

Bacco

 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

COMBINARAM COM OS RUSSOS?


Dizem que, na copa do mundo de futebol na Suécia, em 1958, o Brasil se preparava para enfrentar a URSS.

 O técnico da seleção reuniu o elenco e falou, durante longo tempo, sobre estratégia, como fazer, onde fazer, quem faria o que, como o time atacaria os soviéticos e...... por aí vai.
 

Feola, no final da preleção, perguntou se todos haviam entendido o que deveriam fazer.

 Silêncio total.

Neste exato momento Garrincha levantou a mão e, com sua natural simplicidade, perguntou: "Ta legal seu Feola, mas já combinou tudo isso com os russos? 
 
 

Brilhante, Garrincha.

Todo esportista, dito meio lerdo da cabeça, é capaz de tiradas geniais.

Recentemente li alguns artigos que comentavam a revolta dos Joaquins e Manueis (nomes fictícios) incomodados com preços muito baixos dos vinhos portugueses.

 Resumindo: Os vários artigos, que li, afirmam que Portugal precisa parar de vender barato e iniciar um levante, uma revolução nos preços.
 
Qualquer garota de programa (ou traveco, sejamos incluidores e igualitários aqui) à beira da Belém-Brasília gostaria de vender o corpinho por bem mais que R$ 10.00 (se aceita cartão de débito).

Todo restaurante gostaria de subir os preços em 200% sem aumento nos custos;

A Lada e o Vlad Putin adorariam vender os carros russos por 80% de um Pagani;
 

A Bic adoraria cobrar por uma caneta o mesmo que a Montblanc cobra pelas Meisterstück ...

Todo produtor de espumante gaúcho adoraria vender o espumante pelo preço de Champagne... (este é um mau exemplo, pois alguns tem a cara de pau de tentar e vender (!) espumante gaúcho como se fosse Champagne).

Os portugas vão descobrir que, num mundo de escolhas e com muita competição, os consumidores estão saturados de marcas, regiões, estilos, nomes, críticos tentado se passar por isentos e ou competentes, e que fazemos nossas escolhas, nem sempre, baseados em “qualidade e preço”.

Vinho, também, é em grande parte uma compra emocional que, como tal, vem carregada de erros e acertos aleatórios.

 Portugal oferece muito pouco, em emoção, para nos convencer em pagar mais pelos vinhos que produz.
 
 

Saber precificar e cobrar, caro, por produto ou serviço é possível somente para quem:

1) entende da arte/ciência de “branding” e “marketing", elasticidade de preços e demanda. Isso exige escola, educação ou cara de pau e sorte em alguns casos,

2) tem muito dinheiro para comprar demanda e fama,

3) tem produto e serviço que “entregará” o que realmente promete.

4) tem paciência e tempo (e dinheiro) para ficar contando lorotas e mentiras pelo mundo afora sobre o a nobreza da família, mergulhar os vinhos no fundo do mar, inventar algo sobre ETs e alienígenas que amassaram as uvas antes da fermentação durante anos.
 

Portugal faz relativo sucesso, entre nós, porque é uma ótima alternativa para turismo bom e barato, para vinhos bons e baratos, para comer um queijo bom e barato, para comprar telha e porcelana boa e barata, para pegar uma temporada na praia (adivinha?) na Europa boa e barata.

Tirando isso falta, à patota portuguesa, glamour, nobreza, lugares paradisíacos que até o Chile tem.

Há ótimos vinhos portugueses (inclusive espumantes) que se escondem e não saem do território e das aldeias em que nasceram.

Alguns conseguem irem além-mar, mas sejamos honestos, alguém vai comprar vinho verde pelo mesmo preço do equivalente italiano ou francês?

 Podem ter certeza que os produtores do "Franga Manca" gastaram muito para criar a demanda que existe por aquele vinho bem mediano.

 
 É uma baita exceção à regra (Barca Velha, também)

Desconfio que Porto e Douro conseguem vender mais caro porque houve muita mão estrangeira ali.

Em defesa de Pedro, Joaquim e Manuel, devo admitir que os argumentos, pró-aumento, até que são bem fundamentados e bem intencionados (para eles).

Exceto que.... Esqueceram de combinar com os russos.

 

 Podem aumentar os preços à vontade, mas cuidado: haverá sempre alternativas....... vinhos gaúchos, exclusos, que parecem desafiar todas as leis da química, física esoterismo e bom senso.

Bonzo

 

sábado, 23 de junho de 2018

O NÚMERO UM


 


Saiu o resultado anual que premia os melhores restaurantes do planeta e, mais uma vez, "L'Osteria Francescana", de Massimo Bottura, se consagrou como o melhor do mundo.
 
 
 
 
Se "L'Osteria Francescana" é, ou não, o melhor do mundo, jamais saberei: Não tenho suficiente saldo bancário para frequentar 30-50 ou 100 restaurantes, espalhados pelo planeta, gastando, em média, 200 Euros, em cada um deles, para emitir minha opinião.

Continuo comendo em locais onde se gaste, no máximo, 50/60 Euros.

Se e quando, o Sergio Cabral sair da gaiola espero um convide para uma nova farra dos guardanapos, desta feita, para comemorar sua liberdade.

Prometo levar o meu guardanapo......
 

É fácil perceber, então, que não poderei opinar seriamente sobre o assunto, mas posso comentar o quanto valem e faturam as estrelas Michelin.
 

Na Itália há 8 restaurantes com 3 estrelas, 41 com 2 estrelas e 306 com uma estrela Michelin.

Um instituto de pesquisa avaliou que, em 2017, os restaurantes estrelados faturaram, em 2017, aproximadamente, 400 milhões de Euros o que representa um aumento de 10,30% sobre o ano anterior.

O mesmo instituto afirma que, ao obter a primeira estrela Michelin, o restaurante incrementa seu faturamento em mais de 50%.

Quando se obtém a segunda estrela o incremento é de quase 19% e da segunda para a terceira o faturamento aumenta em 26%.

A estrela Michelin demonstra sua força, também, no número de clientes que a guia vermelha mobiliza: Um restaurante estrelado é visitado, em média, por 6.300 clientes/ano e gera, no território, nada desprezíveis 2.800 pernoites de turistas gastronômicos.

Quanto custa comer em um restaurante estrelado?

Nos templos gastronômicos com uma estrela + ou - 112 Euros

Nos bi-estrelados + ou - 178 Euros
 

Para comer em um 3 estrelas, prepare psicologicamente seu cartão..... Em média 250 Euros

Bom apetite

Bacco

quinta-feira, 21 de junho de 2018

ADIEU BORDEAUX


Já tive, na vida, o grato prazer de tomar ótimos Bordeaux tintos, brancos e passando por Sauternes.
 

Alguns deles, nem nos sonhos mais eróticos, eu imaginaria serem tão bons.
 
 
 

Acho bonitinha toda aquela classificação dos "Grands Cru Classés" de 1855 (não sou apto a dizer se a seleção foi tão isenta e correta como uma licitação da Petrobras).

 Empolgante, também, toda a tradição e história, o porto que salvou a França, a proximidade com Inglaterra (ingleses sedentos salvaram Porto e Bordeaux seguramente), as lojas que orgulhosamente anunciam um “depuis 1700 e bolinha” etc. etc.

Os vinhos de Bordeaux constam em mercados de derivativos, movem a economia, dão pilares às pragas-pagas críticas bem remuneradas, publicações mil, filmes e documentários que emocionam até quem tem Alzheimer.

Tudo seria lindo se os preços cobrados pelos Bordeaux refletissem a realidade do que há na garrafa.

 
Francês há tempos finge (bem, até) ser bobo, mas eles cobram sempre exageradamente pelo que apresenta na garrafa, na taça, no prato, na roupa, cinema (quanto diretor blefe há por lá)... Francês adora contar historinhas sobre terroir de manteiga, sobre terroir de queijo, sobre o imperador tal e tal que abençoou o produto e....... nós pagamos.

Falando em terroir, outra coisa curiosa, em relação à Bordeaux, é o fato que o mundo do vinho tende, hoje, a valorizar o terroir.

O "terroir" dificilmente pode ser defendido em Bordeaux.

Bordeaux é o paraíso dos blends e dos laboratórios onde muitas mágicas tecnológicas acontecem.

 
Diferentemente do que pensam os enófilos, doutrinados à base de blogs especialistas em vinho chileno ou da "Serra Santa", no mundo civilizado há escolhas.

Pelo mesmo preço, ou bem menos do que os bordoleses “pedem” pelos "Grands Crus Classés" básicos, temos portugueses, italianos, espanhóis e até franceses, de sonho (dos melhores sonhos).

Só na França há um caminhão (época difícil para falar em caminhões.....) de apelações que produzem super vinhos com preços melhores.

Se entrarmos em Itália, a conversa não tem fim.

O que há para justificar os preços de Bordeaux?

 Longevidade na garrafa, classe, reputação, certeza de boa qualidade, exclusividade?
 

Ok, mas nem mesmo sendo torturado com um discurso do Suplício-Suplicy, pagaria $ 200, ou bem mais, por uma garrafa de "Grand Cru Classé" somente pelo prazer de parecer “especial” fazendo cara de expert e alardear que comprei um vinho realmente espetacular.

 
Vou viver muitíssimo bem sem Bordeaux.

B&B há anos implora os felizardos a buscarem alta qualidade (quase todo mês há alguma dica de uva ou vinhos desconhecidos) fora das regiões adoradas pela massa brega e preguiçosa.

Creio ter aprendido bastante coisa com eles, além de vinhos que podem conter aroma de ouriço, peixe de rio, esparadrapo (saudades) e outras sandices.
 

Que tremam os mercados, que soprem as cornetas das falências, quero que o Luisque e todos os políticos corruptos brasileiros morram na cadeia se eu comprar mais um Bordeaux famoso ou um grand-cru-classé-da-vida, novamente.

Goodbye, Bordeaux!

Hora de gastar meus bolivares com Portugal, Espanha, França, Itália e, se entrar na pauta dos caminhoneiros, até vinhos da "Serra Santa".

 
Bonzo

 

terça-feira, 19 de junho de 2018

MEA CULPA.....MEA MAXIMA CULPA


Há pouco mais de um mês critiquei, severamente, um vinho de Bruno Colin: Chassagne-Montrachet 1er Cru "La Boudriotte" 2014.
 

Na ocasião, o excesso de madeira, manteiga, baunilha etc., me haviam impressionado negativamente e comparei o vinho do Colin aos Chardonnay californianos.
 
 


Ontem, decidido em acabar o estoque de garrafas, do Bruno, resolvi abrir uma de Chassagne-Montrachet 1er Cru "Les Chaumées".

Enquanto derramava, um pouco de vinho na taça, já me preparava para ser soterrado por um tsunami de manteiga, madeira, álcool etc..

Sem nenhum entusiasmo levei "estoicamente" a taca ao nariz.

O que se apresentou ao olfato foi uma onda de elegantes e sofisticados aromas florais, cítricos e uma leve e contida nota amanteigada.

Por um segundo pensei ter aberto a garrafa errada, mas ao verificar a etiqueta constatei que aquela era, sim, uma garrafa de Chassagne-Montrachet 1er Cru "Les Chaumées" de Bruno Colin.

Pude perceber claramente o aroma de "biancospino" (espinheiro branco) que agora, na primavera européia, invade minhas narinas.

 
Os outros aromas, tantos e tão elegantes, mudavam a cada instantes, se confundiam e seria impossível, pelo menos para meu olfato, conseguir reconhecê-los em sua totalidade.

Para decifrar todos os "odores e olores" seria necessário um nariz privilegiado, olímpico, como o de nosso escalador de cruzes medievais: Beato Salu.

 
Beato, "o escalador", é o único ser humano com capacidade e coragem para encontrar até "aromas de ouriço do mar" em uma taça de vinho.

Na boca a surpresa foi maior.

A opulência, típica dos Chassagne-Montrachet, a "californização", o excesso de manteiga, madeira, baunilha etc., presentes no "La Boudriotte" do Colin, que eu criticara e detestara, sumiram e apareceu a rara fineza, elegância, equilíbrio e muita classe.

Não tenho receio em classificar o Chassagne-Montrachet 1 er Cru "Les Chaumées" de Bruno Colin como um dos melhores brancos provados em 2018.

 
Uma nota negativa: 56 Euros são muitos.

Uma garrafa, como esta, no Brasil, dos enófilos estuprados, custaria hiperbólicos R$ 1.000/1.200.

Bacco

 

 

 

 

sexta-feira, 15 de junho de 2018

PICOLIT 2º


 
 
 

 
 
Bacco dando uma verdadeira aula de Picolit e ainda há alguns críticos que afirmam não ser necessário conhecer o território para poder falar de vinho.

 






Na manhã seguinte, após um belo descanso no “La Sorgente”, agro-turismo bem na entrada do "Valle Cialla", saí à procura do Picolit dos tempos perdidos.

Não precisei me deslocar muito: já sabia, perfeitamente, onde procurar.

Subindo as colinas do vale Cialla, alguns quilômetros e muitas curvas depois, encontrei a vinícola "Ronchi di Cialla".

A Ronchi di Cialla era a minha meta da DOCG Picolit Cialla. (“ronchi” é a versão italianizada de “roncs” que em dialeto Friulano significa: colinas)

 
Os cônjuges, Paolo e Dina Rapuzzi, me receberam, em sua bela propriedade, com rara gentileza e simpatia e ministraram uma verdadeira aula de Picolit e de outros vinhos do Friuli.

Havia reencontrar o verdadeiro Picolit.

No vídeo anexo mesmo aqueles que não entendem o italiano não terão grandes dificuldades em perceber o que aconteceu com o Picolit.

 Na entrevista, Paolo explica com clareza e objetividade quais foram os erros que quase acabaram com o Picolit e como este grande vinho foi salvo.

Quem não possui grandes conhecimentos da língua poderá acompanhar, mais facilmente, lendo meus comentários.
https://www.youtube.com/watch?v=JxBKqeMldWM

Iniciei perguntando sobre o Tocai e Paulo me surpreendeu ao me declarar que o Tocai é uma sub-variedade do Sauvignon é foi implantado no Friuli após a primeira guerra mundial.

Quando o provoquei, perguntando o que havia acontecido com o Picolit, Paolo deu uma risadinha e me mostrou o caminho das pedras.

 
Comentou que, a verdadeira uva Picolit, sofre um aborto floreal e acabava produzindo cachos com pouquíssimos bagos.

Este “defeito” é, na realidade, a razão da grande qualidade deste vinho maravilhoso e raro.

Em seguida o viticultor me mostrou dois cachos de uva Picolit que ilustram perfeitamente o porquê do vinho ser tão raro e... tão caro.

Como sempre ocorre, a ganância, o ganho fácil, a falta de seriedade e o pouco caso com a tradição, falaram mais alto.

 Nas décadas de 50/60 foi selecionado e plantado um clone chamado “Picolit R3” que não sofria o aborto floreal.

A produção aumentou, mas a qualidade foi para o espaço.

Paolo, apesar de odiar o “Picolit R3”, não encontrando mais mudas da casta original, o plantou, assim como fizeram todos os outros viticultores e vagarosamente, mas de modo inexorável, o verdadeiro Picolit foi desaparecendo.

Nos anos 80 Paolo recebeu um telefonema, do centro de experimentação agrária da região, informando que haviam encontrado quase uma centena de velhas videiras Picolit na propriedade de um viticultor mais que octogenário.

Os técnicos estavam preocupados com o estado físico do viticultor e temiam que , quando não mais pudesse cuidar delas , a vinha poderia desaparecer.

Paolo tinha acabado de comprar um hectare com vinhas de Tocai, mas não estava interessado em produzir aquele vinho.

O Tocai não estava nos planos  do viticultor e queria extirpá-lo para plantar, em seu lugar, Ribolla Gialla.

Quando surgiu a oportunidade, dos enxertos “Picolit", Paolo não pensou duas vezes e  , naquele hectare de Tocai, começou a produção de seu “Picolit Cialla”.
 

Nos primeiros seis anos o fracasso foi total.

Os cachos doavam dois ou três bagos, no máximo, e acabavam sendo misturados com as uvas provenientes da variedade Picolit R3.

No décimo ano as vinhas começaram a dar um pouco mais de si.

Neste ponto, Paolo, separa os dois cachos e os mostra.

Continua dizendo que para fazer uma garrafa, de 500 ml de Picolit Ronchi di Cialla, são necessárias uvas colhidas em seis videiras.

Com o sucesso do seu vinho, apesar da baixa produtividade, Paolo erradicou todas as vinhas de Picolit R3 e hoje, em sua propriedade , há 3,5 hectares de Picolit que proporcionam, pasmem, uma produção de 2.000 garrafas de 500 ml. (na verdade são produzidas 2.800 de meio litro)

A vinificação é igual àquela relatada pelo conde Asquini que, no século XVII, produzia o Picolit com 50% de uvas frescas e 50% de uvas-passa.

Neste ponto a esposa, Dina, abre uma garrafa de um belíssimo Schioppettino di Cialla.
 

Salute e..... como faço para voltar a Cividale del Friuli?

Bacco

 

quinta-feira, 14 de junho de 2018

PICOLIT 1º


 


Mais uma matéria, escrita, por Bacco, há mais de 10 anos, que merece ser reeditada ainda mais agora que nossos sommeliers retornaram do Canadá com zero medalha e tentarão melhor sorte (hahahahaha) no campeonato mundial.

É bem provável que o Picolit não faça parte dos itens de um concurso que só interessa a quem dele participa.

 O campeonato "dos pavões das taças de cristal" (Riedel?) se interessa mais pelas regiões vinícolas da Bélgica (hahahaha) e uvas autóctones da Etiópia (hahahahahahahahahaha), mas sempre e melhor prevenir que se ferrar.
 

Nenhuma importadora patrocinará, uma viagem ao Friuli para que nossos sommeliers possam conhecer o Picolit.

  B&B, sempre presente e interessado em aumentar o consumo de vinho de ridículos 1,7 litros-ano para 1,74 litros-ano, traz, gratuitamente, o Picolit ao Brasil
 

Bom proveito

Dionísio

Nos, agora quase esquecidos, anos 1970, eu considerava o Picolit um dos grandes vinhos italianos.

Não um entre os 50 – 60 -100, mas um entre os 10 melhores e, felizmente, bebi naquela década algumas garrafas extraordinárias.

Com o passar dos anos, não sei qual a razão, a qualidade do Picolit foi diminuindo vertiginosamente e atualmente não é nem a sombra daquele vinho que permanece armazenado na parte mais recôndita e exclusiva da minha memória vinícola.

O Picolit dos tempos modernos deixa saudade do Picolit d’antan.

Não quero ser leviano, mas tenho a impressão que o Picolit de hoje é um vinho produzido com cachos não tão “Picolit”.

Há um, ou vários, estranho no ninho...

O estranho, entre outros, tem um nome: Ramandolo.

O Ramandolo não é certamente uma casta qualquer, mas não pode ser comparado, em qualidade e nobreza, ao Picolit.

Infelizmente o Picolit é uma uva atacada por um aborto floreal que limita cachos em apenas 10 ou 15 bagos.

Esta “pão-duragem” resulta em uma produção que não ultrapassa os 500 hectolitros de vinho obtidos em, aproximadamente, 70 hectares de vinhas espalhadas por um pequeno território quase na divida da Itália e Eslovênia.

É fácil perceber, então, que o Picolit é raro, caro e, por esta razão, nem sempre 100% honesto...

O disciplinar DOCG determina que 85% das uvas, com as quais é produzido, sejam de Picolit e, os 15% restantes, uvas brancas locais com a exclusão do Traminer Aromatico.

Apenas um pequeno cru, denominado “Cialla”, localizado no município de Prepotto, é autorizado pode vinificar o Picolit com 100% de uvas homônimas.

Sou da opinião que não se deve falar de vinho sem conhecer sua história, o povo que o produz, a geografia da região, a cultura local, como é vinificado etc.

Em meados de outubro iniciarei uma viajem para redescobrir o Picolit e, como sempre, estou certo que encontrarei ,assim como ocorreu com o Verdicchio,quem produz com seriedade e paixão o grande vinho friulano.

 
Em Cividale del Friuli montarei minha base logística dando maior importância ao território que circunda esta belíssima cidade medieval.

Aguardem

Bacco