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sábado, 24 de junho de 2017

SUSUMANIELLO II



"Na próxima semana vou preparar, para você, as "monacelle" que trouxe da Puglia"

Marco, cozinheiro e sócio do restaurante "Nanin", de Chiavari, acabara de voltar de rápidas ferias no Salento.

Os sócios de Marco, Giovanna e Luigi, são originários do Salento (o salto da bota) e sempre que podem retornam para aquela região da Puglia que, além das belezas naturais, é famosa por seus azeites, vinhos, gastronomia.

Um dia ainda comentarei a imensa bobagem daqueles que escrevem e comentam a "Cozinha Italiana".
 

A cozinha italiana não existe: existe a cozinha regional italiana.

Em uma nação, que antes de 1861, era dividida em mais de uma dúzia de nações-estado, apenas 2,5% da população falava italiano (na Itália há 38 línguas e dialetos) e exibia enormes diferenças culturais, não poderia existir uma única cozinha.
 

Exemplo: Na década de 1950 nenhum piemontês havia provado sequer uma fatia de pizza e um siciliano nem sabia o que era risotto.

Voltando às "monacelle" (freirinhas).....

"Monacelle" é uma variedade de escargot, típica daquela região.

Pequenas (do tamanho de uma unha do polegar), "carnosas" e saborosas, as "monacelle", são uma verdadeira iguaria.
 

"Vou deixá-las na água por um dia, para que saiam do letargo, as cozinho e quando você voltar estarão prontas".

Dois dias depois voltei e Marco me serviu um prato de "monacelle", tão farto, que demorei mais de vinte minutos para saboreá-lo.
 
 

Fantástico!

Quase no final do almoço Marco apareceu com uma garrafa e disse: "Quase esqueci...... Prova este vinho pugliese".

Marco derramou um pouco em uma taça e me ofereceu.

Brilhante cor rubi escuro, perfumes importantes e envolventes anunciavam um vinho nada banal.
 

De banal, o "Susumaniello" (burrinho), não tem nada.... muito pelo contrário, o Susumaniello é um vinho com boa estrutura, delicioso e fácil de beber.

 Cor rubi com reflexos violáceos, floral, gosto cheio e harmônico, taninos elegantes é interminável no paladar.

 O Susumaniello é mais uma prova que os italianos cultivam vinhas francesas por puro modismo e comodidade.
 

O Susumariello, praticamente esquecido e abandonado, no passado era vinificado com outras uvas e somente nos últimos anos, alguns viticultores de visão, decidiram lhe dedicar a atenção merecida.

Hoje o Susumaniello vem conquistando mais e mais espaço entre os apreciadores dos bons e autênticos vinhos regionais.

O Susumaniello veio para ficar.....
 

Quem viajar pela belíssima Puglia, além do Primitivo, Negroamaro e os Rosés locais, não pode esquecer o Susumaniello e, se o enófilo tiver a mente o paladar abertos, vai abandonar, de vez, os "Merlot e Cabernet Sauvignon italianos, da vida".

Susumaniello, grande vinho que indico com entusiasmo.

Bacco.

 

 

 

segunda-feira, 19 de junho de 2017

SUSUMANIELLO


 


Quando constato a facilidade e desenvoltura que nossos críticos e blogueiros revelam ao comentar vinhos da França, Itália, Espanha, Argentina, Chile, Austrália, todas as garrafas do mundo, enfim, rio para não chorar.

Sem o Google, 90% desses "especialistas", não sobreviveriam nem ao segundo "Cabernet Sauvignon" chileno.
 

Para poder comentar vinhos italianos percorri, varias vezes, todas as regiões da Bota e, mesmo assim, devo confessar que meus conhecimentos, sobre o universo vinícola da península, são muito limitados.

Piemonte, Ligúria e Toscana são os três territórios que mais percorri e que melhor domino.

Um domínio, todavia, que não recomenda vôos "Icarianos".
 

Uma dica: Somente no Piemonte há, entre DOC e DOCG, 64 denominações.

Deu para perceber a complexidade?

Vamos fazer o jogo da honestidade?
 
 

 Sem consultar o Google alguém saberia comentar os seguintes vinhos piemonteses? Avanà, Rubino di Cantavenna, Gabiano, Loazzolo, Ruché, Brachetto, Doux d' Henry.

Duvido..... Nem o "Marcelinho Pão e Vinho Copello", com suas 6.000 declaradas e inúteis degustações, saberia dizer do que se trata sem consultar o Google ou B&B.
 

Os vinhos mencionados são uma pequena amostra do universo vinícola piemontês que, se e quando, comparado ao restante da Itália empalidece.

Os viticultores italianos, e não somente eles, por comodismo ou modismo, abandonaram antigas e pouco rentáveis castas autóctones para percorrer a fácil e lucrativa estrada das uvas internacionais.

Para alguns, que investiram os tubos (leia-se: pagaram caras canetas de aluguel), deu certo: conseguiram emplacar meia dúzia de etiquetas que continuam fazendo a alegria dos eno-tontos.

A grande maioria, todavia, que acreditou no "Eldorado Maremma" encontra muita dificuldade em vender seus Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah etc.
 
 

Se retirarmos do palco os atores principais: Sassicaia, Masseto, Ornellaia, Solaia e Tignanello, sobram apenas anônimos coadjuvantes...... nem Angelo Gaja, com sua "Ca' Marcanda", conseguiu grande sucesso.

Resultado um: É comum encontrar, nas gôndolas dos supermercados, garrafas de Merlot e Cia. por 2/3 Euros.
 

Resultado dois: Há uma frenética corrida para os braços de antigas e quase desaparecidas castas autóctones.

Algumas das primeiras e hoje consagradas "descobertas": Verduno Pelaverga, Gamba di Pernice, Timorasso, Oseleta, Nascetta, Pecorino.
 
 

No incrível universo vinícola italiano há mais de 600 espécies autóctones muitas das quais ainda totalmente desconhecidas além das fronteiras regionais.

O gosto e a moda estão mudando e é fácil perceber que os consumidores, há alguns anos, determinaram o constante e inexorável abandono aos vinhos impenetráveis, quase mastigáveis, com muita madeira, "parkerianos".

O consumidor quer vinhos italianos com "sabor" italiano, vinhos que "falem" de território, cultura e tradição tricolor.

O mercado, que não é bobo e não dorme em berço esplendido, já percebeu a tendência, deixou de apostar em castas internacionais e voltou seus olhos para antigas castas autóctones abandonadas.
 
 

Escrevi todo este preâmbulo para poder dedicar, a próxima matéria, a uma nova descoberta: "Susumaniello".

Bacco

sexta-feira, 16 de junho de 2017

OS "AMIGOS" DO BAROLO



Cada país tem os ladrões que merece!

No Brasil os marginais se especializaram em assaltar os cofres públicos, estatais, bancos de investimentos, fundos de pensão, estádios, olimpíadas, metrô etc.

 

Nas "Langhe", pátria de grandes vinhos, como não poderia deixar de ser, as preferências dos gatunos são garrafas.

Semana passada a tradicional vinícola, de Barolo, "Fratelli Serio & Battista Borgogno" foi visitada pelos amigos do alheio.

 

Os ladrões, com precisão cirúrgica, subiram uma colina através das vinhas, encostaram um furgão na única área não coberta pelas câmeras e surrupiaram "Barolo Cannubi" 2013, "Barolo" 2013 e "Barbera" 2013 num total de 1.200 garrafas.

Os viticultores da região estão alarmados, pois o acontecido não foi um fato isolado; no mês passado os marginais roubaram 3.000 mudas de Barbera, recém plantadas, de uma vinha de Mauro Sebaste nas colinas de Vaglio.

 

Se formos pesquisar os furtos anteriores encontraremos a vinícola "Parusso" de Monforte D'Alba que foi aliviada em 1.400 garrafas de "Barolo Riserva Etiquetta D'Oro 2006", Barolo Bussia Etiquetta Nera 2012 e "Barolo Bussia Etiquetta Nera 2011"

 

Os "Amigos do Barolo dos Outros" também visitaram a "Cordero di Montezemolo" em La Morra, onde roubaram quase 4.000 garrafas, a "Fontanafredda" 2.000, a "Cantina Sobrero" 1.900.

 

O pessoal, que não brinca em serviço, deve ser altamente especializado: Ninguém foi preso!

Será que algum político brasileiro está morando no Piemonte?

 

Dionísio

 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

CARO ADOLFO LONA


 


Adolfo Lona, semana passada, em sua página no Facebook, analisou, com muita propriedade, alguns problemas da viticultura brasileira.
 
 
 

Concordei com a maior parte, do que Lona escreveu, mas não totalmente.


Lona acredita que a grande culpa, pelo risível consumo de vinho no Brasil, deve ser atribuída aos altos preços "vitaminados" pela excessiva tributação.

 
 Eu concordo que o governo é um predador insaciável, mas boa parcela da culpa deve, também, ser atribuída à ganância dos produtores.

 Discordei e escrevi o seguinte comentário.

"Adolfo, é verdade, mas apenas uma parte dela. Os industriais nacionais mais importantes e maiores há anos se preocupam muito mais com lucro do que qualidade e melhoria do produto. Pagam uma miséria aos produtores de uva e descem a lenha nos preços. Se preocupam com salvaguardas, protecionismo etc. e continuam produzindo aquela merda de vinho proveniente de uvas americanas. Não se conseguirá atrair novos consumidores enquanto o vinho for produzido visando apenas consumidor de bom poder aquisitivo. É uma vergonha que se coloque no mercado garrafas de vinho nacional de R$ 150/250 e de até 475 . O consumidor não é burro , já percebeu que se bebe medianamente melhor e mais em conta comprando etiquetas estrangeiras. O que resta fazer?°Você mostra o caminho , dá a dica ,mas , creia, vai continuar tudo na mesma: Uma garrafa de vinho Canção suave custando , no Brasil mais do que uma garrafa de Dolcetto , na Itália".

Inúmeros comentários, sugestões, opiniões diferentes.

  Uma delas, por sua total alienação, chamou minha atenção:

"Em 2008 Fiz uma palestra no Ibravin e mencionei isto , ja a dez anos atras Mestre Adolfo...e coisa segue igual...para mim mostra mais uma vez a falta de Patriotismo e obvio falta de consideracao do governo estupido taxando nosso Vinho o que torna mais caro nas prateleiras...eu sugeri um boicote total aos importados...obvio o preco atrativo fala mais alto e o pior muitos ainda acham que nosso vinho precisa de mais qualidade...aqui o Californiano ainda detem 70% do mercado disparado tudo ajuda Patriotismo,em primeiro lugar!Grande abraco, bom o teu comentario"

 


Incrível!

 "Patriotismo" e vinho, na cabeça de muitos, andam juntos.

No passado, os militares, incentivaram o mesmo "patriotismo" em vários segmentos da economia e, sempre que o "patriotismo" falou mais alto, o atraso se fez presente.

Acreditar que ao consumirmos vinho, "Canção", "Chalise", "Cantina da Serra", Miolo, Salton, Aurora etc., agimos patrioticamente, é a vitória da imbecilidade.

Miolo, Salton, Lidio Carraro, Aurora, Valduga e outros, não estão interessados em produzir qualidade, com preços competitivos, estão interessados, apenas, em faturar, faturar, faturar e nos ferrar.
 

Acreditar, por exemplo, que a Salton, que produz, entre outras merdas, o quase-vinho "Chalise", se preocupa com qualidade é acreditar na pureza, seriedade e probidade de........ (escolha um político de sua preferência).

Acreditar que, ao comprar "Maria Valduga", "Lote 43", "Luiz Valduga", "Singular Nebbiolo" e outros vinhos nacionais, todos custando mais de R$ 300, o patriotismo verde amarelo invadirá nosso corações, é ganhar um passaporte para a eno-idiotice total.
 

Caro Adolfo, o governo é ganancioso, os impostos brecam o setor vinícola (e outros), mas os produtores nacionais são piores e ainda mais gananciosos que o pessoal de Brasília.

Algumas considerações: Há, no mercado, etiquetas francesas, italianas, portuguesas, espanhola etc. caras, caríssimas, mas, para conseguir alcançar valores significativos para suas garrafas, os produtores elencados demoraram décadas, às vezes séculos.

Além de boa dose de marketing foi preciso vinificar com maestria as uvas colhidas em parreirais cultivados em terrenos e micro climas únicos, excepcionais.
 

Não nasce uma etiqueta Romanée-Conti, Gaja, Coche Dury ou Dom Pérignon Oenothèque toda semana....

No Brasil, sim.

No Brasil, a cada semana, aparece um gaiato que, ao perceber a presença de um exército eno-idiotas no mercado vinícola, aproveita para surfar na onda dos Carraro, Valduga, Miolo, Pizzato, Pericó, Tormentas, Don Laurindo, Geisse e Cia. e lança sua "obra prima", invariavelmente, cara e dispensável.

Está sentado, tranquilo?

 Nenhuma nova operação da "Lava Jato" revoltou seu estomago durante o café da manhã?

Ótimo!

Então posso informar que o Marcelo de Souza, médico da Polícia Militar, que resolveu cultivar vinhas em Cocalzinho (Go) e em 2010 lançou seu primeiro vinho, já em 2017 brinda o mercado com uma nova etiqueta: "Seleção Pessoal"
 

O "Seleção Pessoal", um Tempranilo 2014, com nada menos do que 14,9º de álcool, custa modestos R$ 450,00.

Para justificar os R$ 450,00 nosso capitão médico descreve sua "obra prima, assim:

 "A busca incessante pela qualidade quando combinada com as condições climáticas ideais gera como resultado a expressão da excelência. Este vinho 100% Tempranillo é um exemplo marcante do flerte com a grandeza, revelado pelo "terroir da Serra dos Pireneus". De Goiás para o mundo revelamos a Coleção Pessoal Marcelo de Souza, ícone de qualidade em vinhos brasileiros".

O mundo vinícola já pode dormir tranquilo: O otorrino, Marcelo de Souza, finalmente, libera sua obra, gestada e parida na Serra dos Pireneus, em Cocalzinho, que poderá encantar os paladares de todos os patriotas que pagarem R$ 450.
 

Eu, que de patriotismo não entendo nada, continuarei bebendo Barolo do Alessandria, que Bacco me traz na mala, por 30 Euros.

Adolfo Lona, um abraço e continue sua quixotesca luta, mas não acredito que possa vencer; os tentáculos das indústrias, que dominam o mercado, são fortes. 
 
Dionísio.