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segunda-feira, 30 de maio de 2016

CAREMA



A Nebbiolo é uma das uvas mais prestigiosas e importantes e do planeta.

A Nebbiolo não é uma uva de "vida fácil" como a Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot etc., a Nebbiolo é uma casta complicada, difícil, que raramente revela todo seu potencial fora de seu quintal, o Piemonte.

  A Pinot Noir, outra grande uva , assim como a Nebbiolo, detesta "viajar": Ama seu "habitat", seu terroir.

Não por acaso, então, que estas duas variedades somente se exprimem com total elegância e grandeza em suas regiões de origem: Piemonte e Borgonha, mais precisamente, na Côte D'Or e Langhe.

Há exceções.

Ótimos Nebbiolo, também, nascem no norte piemontês em Gattinara, Fara, Sizzano, Ghemme, Boca, Lessona e outras aldeias da região.

Os vinhos, das localidades mencionadas, que nossos sommeliers quarto-mundistas pouco o nada conhecem, são de rara qualidade e muito apreciados por aqueles que entendem de boas taças.

Um dos mais raros e heroicos Nebbiolo , que eu conheço, é o Carema.
 

Quem viaja pela E25, indo ou voltando do Monte Bianco, mal percebe a pequena aldeia, de pouco mais de 700 habitantes, bem na divisa do Piemonte e Val D'Aosta.

Apenas uma curiosidade chama a atenção dos viajantes: As vinhas e o singular método de cultivo.

Desde tempos remotos, as raras vinhas de Carema, são cultivadas em terraceamentos nas ríspidas encostas das montanhas e com sistema latada, ou pérgula como queiram.

Colunas de pedras sobrepostas sustentam as grades de madeira em que se apoiam as videiras.
 

É interessante imaginar o incrível trabalho efetuado pelo homem, ao longo de séculos e séculos, para conseguir extrair uma pequeníssima quantidade de vinho daquele lenço de terra, frio e inóspito,

É mais que sabido que grande parte da viticultura do "Alto Piemonte" (norte do Piemonte) sofreu muitíssimo com a industrialização da região.

No início do século passado a vida dos viticultores italianos nada tinha de róseo.

O baixo preço do vinho, trabalho pesado nas vinhas, dificuldade na comercialização e outros inconvenientes, levaram milhares de camponeses a trocar a pobreza e a incerteza das videiras pelo trabalho mais seguro e melhor remunerado na florescente indústria automobilística de Torino e arredores.
 
 

Para se ter uma idéia do apetite da mão de obra da indústria automotiva torinesa, é bom lembrar que, em1900, a Fiat, produziu 30 veículos empregando 150 operários.

 Em 1930 os trabalhadores já eram 22.000 e a produção alcançava as 113 mil unidades.

Mas não era somente a Fiat que precisava de mão de obra: Lancia, Itala, SPA, Lux, Diatto, Taurinia e outras indústrias automotivas absorviam mais e mais trabalhadores.
 

Como se não bastasse, além dos carros fabricados em Torino, Biella, com sua grande indústria têxtil, sugou os camponeses que sobraram.  

Com a migração dos viticultores, para as grandes cidades industriais, o abandono das vinhas não pôde ser refreado: Dos antigos 42 mil hectares cobertos por vinhas em Lessona, Bramaterra, Ghemme, Gattinara, Boca, Fara, Sizzano etc., restam, atualmente, pouco mais de 700.

Carema teve mais sorte: O Carema continua sendo produzido, desde sempre, em seus pouco mais de 16 hectares.

Qual a "sorte" do Carema?

Enquanto a indústria automobilística de Torino e a têxtil de Biella buscavam mão de obra nas cidades acima mencionadas, Carema se beneficiou coma proximidade da Olivetti.
 

A Olivetti, fundada no início do século passado, estava localizada na vizinha cidade de Ivrea (15 km).

A proximidade, entre as duas cidades, permitiu que os trabalhadores de Carema exercessem sua atividade na indústria e, nas horas de folga, trabalhassem em suas vinhas.

Um fator foi decisivo para o sucesso da dupla atividade: O tamanho das propriedades.

Para que se tenha uma idéia mais clara é preciso lembrar que a maior propriedade vinícola, de Carema, não ultrapassa os 5.000 metros (1/2 hectare).

A Olivetti, em seus tempos áureos, presenteava os visitantes (compradores, distribuidores, comerciantes, representantes etc.) de todas as partes do mundo com garrafas de Carema.

 A grande fábrica, de máquinas de escrever, ajudou, assim, na divulgação do Carema, mas a propaganda de pouco adiantou: Até hoje a produção de Carema oscila entre 60/70 mil garrafas.
 

 A dificuldade na produção, o inóspito território, a pulverização das propriedades, nunca animaram grandes vinícolas em investir no Carema.

Resultado: O Carema é produzido apenas por três vinícolas: Cantina Produttori di Carema, Orsolani e Ferrando.

Bacco

PS Aguardem Carema II


2 comentários:

  1. Ciao Peste.

    Da meio um desgosto ver o grupo de estados que virou Italia perdeu o barco completamente na historia do progresso. Durante um tempo tinham astronomia/fisica/artes, mas a revolucao industrial passou batida e foi num periodo curto do petroleo e do automovel que viraram algo importante. Mas fragil. O sul da Italia nem descobriu o fogo ainda.

    Por que uma olivetti nao se preparou para informatica? As montadoras ja ja vao perder o bonde dos carros hibridos e eletricos.

    E o pais viver somente de turismo, como Espanha, Croacia, Grecia?

    Se nao me engano havia uma forte presenca na Italia de alguma coisa chamada catolicismo. Estado papal? Sera que isso tem a ver com o tremendo atraso hoje?

    Andiamo. Aspettiamo ma Carema. Auguri.

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  2. mais um vinho sobre o qual tenho muita curiosidade. que pena que não vendem por aqui... mas tem jeito de ser daqueles que receberiam uma etiqueta de R$ 800, no mínimo.

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