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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A VINGANÇA




Ao volante do carro, que voava e deixava para traz a Borgonha de minha mal sucedida viagem invernal, um pensamento me acompanhava insistentemente: "Julgamento de Paris 1976".
 
 
 

Sim, amigos, aquela palhaçada marqueteira americana ainda não saiu de minha mente.

Alguns fatos:

 Nenhum viticultor da Côte D'Or tem problema de vendas, aliás, tem dificuldade em atender todos os clientes.

Os grandes Chardonnay, produzidos em Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet, Meursault, Aloxe-Corton etc., apesar de seus preços inflados continuam se esgotando rapidamente deixando vazias as adegas da Côte D'Or.
 

Nas prateleiras de todo mundo os vinhos franceses fazem a festa.

Vinhos californianos são encontrados apenas, ou quase, no mercado  americano  e raramente são vistos em outros países.

Aquela palhaçada do Spurrier, então, não serviu para nada?

Não modificou nem abalou o mercado francês?

Acredito que o "julgamento" foi inventado para despertar e aumentar, ainda mais, o já inchado patriotismo americano.
 

 
 O mesmo manjado marketing é usado, descaradamente, pelos produtores de quase- vinho gaúcho, para convencer os brasileiros que devem estufar o peito e se orgulhar quando uma vinícola nacional ganha uma "merdalha" de ouro em um concurso qualquer.

Mais uma vez , em 1976, os americanos venciam, eram os "melhores do mundo" e até a França, que foi e continua sendo o modelo vinícola mais respeitado e imitado do planeta, havia sido humilhada pelas parreiras californianas. 

 
Os vinhos californianos frequentam quase e somente as prateleiras americanas, Spurrier continua leiloando seus palpites, a França continua vendendo seus vinhos por preços exorbitantes e eu, mesmo implorando, não consigo comprá-los.

Nada mudou?

 Cada um na sua e não se fala mais no assunto?

Errado!

B&B não publica press release de vinícolas, como faz a maioria dos críticos baba ovos, B&B busca aprofundar as notícias do mundo do vinho e repassá-las para os que já não suportam tantas babaquices e mentiras.

B&B foi fundo na pesquisa e descobriu algo muito interessante.

Os americanos, durante quase um século, investiram no modelo vinícola francês.

Castas, vinificação (madeira), nomes (château) etc. todo o sistema, desde a produção até a propaganda final, tinha sotaque francês.
 
Milhões e milhões foram gastos visando "educar" o consumidor americano para beber Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, Pinot Noir e outras castas francesas.

Décadas e décadas de investimentos pesados que estão indo, lentamente, para o ralo. 

A universidade de Stanford, em recente estudo, chegou à conclusão que as mudanças climáticas, a médio prazo, tornarão inviável o cultivo das castas francesas (Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir etc.) na Califórnia.
 

O estudo informa que as castas francesas não suportarão o aumento da temperatura na região (em torno dois graus centígrados).

 O impacto climático será tão devastador que, no máximo em 2040, a área cultivada com uvas francesas diminuirá entre 30% e 50%.

Os viticultores californianos, cientes do problema, já estão experimentando as castas mais "mediterrâneas" Nero D'Avola e o Negroamaro.

Todos os esforços, todos os bilhões gastos em propaganda e marketing para vender aos americanos Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Merlot etc. estão virando fumaça.
 

É bem provável que, até o final da década, aconteça o "Julgamento di Palermo" onde os Nero D'Avola californianos pulverizarão os primos sicilianos.
 

Enquanto isso, eu e muitos outros, continuaremos implorando para comprar os vinhos de Jean Claude Bachelet, Thomas Morey, Noel Ramonet, Bruno Collin, Lamy Pillot.......

Bacco

10 comentários:

  1. Mais um belo artigo, Bacconildo.
    É incrível como os americanos, umbigos do mundo, fazem de tudo para ficar bem na fita. E tem gente que acredita! Não duvido que logo plantem Aglianico, Nerello mascalese, Nero d'Avola etc. Sangiovese já estão plantando em Washington e Califórnia. Logo lançam um Brunello Mendocino. Obviamente, quando produzirem seus xaropes amadeirados, farão um julgamento no qual vão escorraçar sem piedade os italianos.
    SL2

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  2. Mui Estimados.

    Poucos minutos de conversa com qualquer produtor de vinho americano que PLANTE TAMBEM uvas ja dao como certo que nenhum produtor/viticultor conservador possa ter a cara de pau de falar que nao ha mudanca climatica (anteriormente conhecida como aquecimento global). Disse "plante" porque em muitos casos o viticultor meramente compra uvas nos USA.

    Tenho tido conversas agradaveis com gente que descreve com facilidade o tanto que as uvas tiveram os brix alterados (aumentados) em 30, 40 anos. 30 anos ja esta bom para construir uma media historica com precisao para o clima? Creio que sim.

    Mas o clima que bate em Francis, bate em Francois tambem. Ate a terra de Ozzy Osbourne voltou a ter vinhos decentes apos seculos sem poder plantar uvas. Certamente Borgonha tambem sofrera com os aumentos das temperaturas ao redor do mundo. Ainda que sofrerao depois dos americanos da California e Washington (clima muito quente tambem hoje). Oregon capaz de escapar depois.

    O que dizem os franceses a respeito? Quando (se) havera syrah ou cabernet sauvignon la? Ate quando os pinots e finos chardonnays aguentam a mudanca? Mais 50 anos? 60?

    De qualquer maneira nao estarei mais nesse lindo planeta quando chegar a epoca.

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  3. já aconteceram mudanças na Borgonha. Os grandes Chardonnay já estão prontos para beber em 5/6 anos e começam a declinar com10/15, mas são sempre grandes |Chardonnay.Os franceses, se estão modificando a vinificação ,certamente não plantarão Nero D'Avola em Gevrey-Chambertin ou Grillo em Puligny. Enquanto isso o californianos.....

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    1. Ba, dado o historico dos caras de enfrentar e vencer crises, eu acho que ainda vao dar um jeito de provocar alteracoes naquele nivel de microclima por vinhedo. De dia ou de noite. Nao sei se o custo justificaria, mas tecnologia existe. Infelizmente os vinhos-frankeinsten jamais atingiriam o nivel de outrora, mas ainda he melhor que a alternativa; plantar damasco.

      A California ficou 4 anos sem agua e o que surgiu? Uma novo estado-pais bem mais eficiente no reaproveitamento de agua, na dessalinizacao, no nao desperdicio. Hoje em alguns estados as garrafas de vidro sao limpas por dentro (claro) com ar comprimido.

      Eu duvido que perderao um faturamento tao grande sem fazer nada. Tudo aqui vira business.... ja ha gente em universidade alertando e se preparando para o que vem por ai.

      Baccobocca em 2036 vai ter que fazer um especial sobre o tema.

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  4. Em 2036 vou escrever: Como é gostoso comer capim pela raiz

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    1. Novamente mais sofrimento: O capim uruguayo, argentino, americano, ingles....bate de longe o capim brasileiro. Mentira, Terta?

      Talvez Jesus na terceira vinda dele resolva o Brasil. Tabula rasa neles. Reseta tudo.

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  5. Bons artigos para leitura sobre tema:

    http://www.slate.com/articles/news_and_politics/uc2/2015/05/how_climate_change_is_igniting_a_revolution_in_winemaking.html

    outro http://winefolly.com/update/climate-change-vs-wine-a-snapshot-of-year-2050/

    outro, de milhoes disponiveis http://www.academicwino.com/2015/10/climate-change-california-wine-somm-journal.html/

    Gosto do artigo primeiro que confirma as mudancas geneticas e de comportamento de todos. Inclusive com os novos hibridos que surgirao, e o goodbye a sauvignon a chardonnay. O vinho do futuro nas zonas quentes sera talvez como os tabajaras de hoje...os chilenoes e argentinos de supermercado. Se tivermos figado ate la, beberemos esses vinhos so para ficarmos altos.

    Finlandia DOC vem ai.

    Bom tema, meu passado glorioso de ex-agronomo ainda bate no meu coracao lotado de Ldl.

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  6. Olá amigos, já que o assunto aqui girou em torno da borgonha, tenho algumas dúvidas que quero tirar com vocês já que são bem mais experientes no assunto.
    Tenho algumas garrafas de Puligny-montrachet safra 2012, 1er cru La Garenne, produtor Louis Jadot e 1er cru Les Folatieres produtor Alain Chavy. Fora isso estou pensando em comprar algumas garrafas de brancos da borgonha safras 2013 e 2014. A minha dúvida é: esses vinhos ainda estão muito jovens para serem bebidos, ou já estão prontos? Quanto tempo devo esperar? Abraços.

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  7. Tente 2013. A colheita foi pequena ,mas de boa qualidade. Depende da sua idade...Se vc passou dos 70 , beba logo. Se vc ainda é jovem aguarde 4 ou 5 anos

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