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sábado, 5 de dezembro de 2015

O FUTURO DO VINHO



Encerrando a série, "Os Enólogos", gostaria de escrever algo sobre o futuro do vinho.

Vencerá o "vinho-vinha" tradicional ou vencerá o "vinho-adega", da química, da biologia, da manipulação?

Minha opinião: O "vinho-vinha" perderá e perderá feio.








Em algumas regiões européias, cito, como exemplo a Borgonha e o Piemonte, com milhares de pequenos produtores espalhados pelo território, será sempre possível encontrar "vinho-vinha".

Em outras regiões, especialmente as do novo mundo, ou as dominadas pelas grandes vinícolas, será mais difícil encontrar vinhos não maquiados, manipulados, pasteurizados.



   Explico: O pequeno produtor, que vende seus vinhos, todos os anos, para os mesmos e fieis clientes, não pode ser dar ao luxo de picaretar suas garrafas.

Exemplo: Eu compro (às vezes imploro para comprar), com muita frequência, de uma dúzia de pequenos produtores: Jean Claude Bachelet, Thomas Morey, Jean Raphet, Claudio Mariotto, Valter Bosticardo, Gian Alessandria, Pierre Antoine Jambom, Ka Macinè, Rocche del Gatto, Cá del Baio, Colombera, Baricci e outros....

.
O meu paladar, de tanto provar, anos após ano, as mesmas etiquetas, conhece, muito bem, o que há por trás de cada uma delas.

Se um dos produtores, acima elencados, manipular uma safra, imediatamente percebo.


É a educação do paladar

 É a memória do paladar.

Ano passado provei um vinho de um viticultor amigo de quem compro regularmente.

O vinho, em questão, havia conseguido 90 pontos parkerianos
No primeiro contato o aroma já não agradou.

Desconfiado, mas ainda não convencido, provei um gole.

Na boca, um mar de chocolate tomou conta do paladar.

Sem titubear exclamei: "Você vinificou esta safra na Ferrero Rochet?" (para os que não sabem, a Nutella nasceu em Alba).

O dialogo foi evoluindo, eu fui apertando e, finalmente, veio a confissão.....



O filho do viticultor, após uma viagem aos Estados Unidos, retornara convencido que, para fazer sucesso naquele mercado, seria necessário maquiar, aveludar e render o vinho pronto para beber.

Era preciso apresentar um vinho mais fácil para paladares pouco exigentes, nada sofisticados, imediatistas.

Brigas homéricas!

Pai e filho não se falaram durante semanas.

 No final, o velho sucumbiu.



O vinhateiro pegou seu cachorro, foi procurar trufas e o jovem ganhou a parada.

 Resultado: Um dos vinhos foi "preparando" para conquistar o mercado ianque.

A etiqueta "de vida fácil" recebeu 90 pontos parkerianos, entrou de sola nas enotecas nova-iorquinas, mas perdeu um cliente (eu e não somente eu) na Itália.



A dúvida e a pergunta: Quantos consumidores conseguirão, em um futuro próximo, reconhecer a verdadeira identidade do vinho, o território, a uva?

Poucos, pouquíssimos.

Se um pequeno produtor sucumbe, se entrega e "constrói", na adega, uma de suas etiquetas mais prestigiosas, para conquistar o mercado americano, imaginemos que vinho despejam e despejarão no mercado, uma Zonin, Antinori, Bouchard, Mondavi, Gallo, Banfi, Concha Y Toro etc.

O vinho das grandes vinícolas seguirá, sempre mais, os padrões da moda, do mercado e do faturamento.



Nas adegas o vinho dependerá sempre menos da vinha e elegerá os biólogos, químicos e engenheiros genéticos os novos heróis das garrafas.

Muito álcool?

 Elimine um pouco de álcool.

Pouco aroma?

 Adicione "falvour" (ha inúmeros à disposição).


O mercado pede vinhos macios, aveludados, pouco tânicos?

Vamos produzir uva sem semente e resolver o problema.

O pessoal pede madeira?


Joga mais 30 quilos de chip de carvalho

Os "Colheita Tardia" estão na moda e mercado pede vinhos tipo Sauternes e Tokaj? 

Sem problema: Já há câmeras de condicionamento, com sofisticadas técnicas de frio, que reduzem o tempo (e riscos) da desidratação e é possível encontrar, no comércio, preparados biológicos que induzem a Botritys.



Resultado: Até a Miolo, Salton, ou outra produtora de "quase vinho", poderá "inventar" um Sauternes ou Tokaj gaucho.

Retornando à primeira pergunta....

Sempre haverá o vinho do viticultor, mas ninguém é louco, nos tempos atuais, de jogar uma colheita pela janela por causa da chuva excessiva ou do calor saariano.

Quando a natureza não ajudar, os enólogos, químicos biólogos etc. 
resolverão todos os problemas e serão "os salvadores da lavoura"

Se você se acostumou e acha os vinhos parkerianos ótimos, não terá problemas..... estará em casa.

Você que, como eu, acha que os vinhos parkerianos, produzidos nas adegas, são uma merda, deixe de comprar as garrafas das safras problemáticas e espere.

Vinhos bons?


 Sempre haverá, basta saber quando e onde encontrá-los.

Bacco

  

8 comentários:

  1. Bravo, Bacco! Eu também fico triste com o que ocorre. Está difícil garimpar algo que não seja manipulado. Mas ainda há esperança. Enquanto isso, deixemos as geléias achocolatadas e abaunilhadas para os blogueiros bobões puxas-sacos de lojas, produtores e iimportadoras em busca de bocas e garrafas-livres.
    Salu2,
    Jean

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    Respostas
    1. Bravo! Realmente, quem menos entende de vinho , no Brasil, são os blogueiros e os críticos. Eles entem de saco , e bocas-livres.Vou falar , na proxima matéria do Bramaterra da foto.

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  2. Ciao, Ba.

    Artigo para contemplacao. Gosto desses topicos.

    Dois tipos de produtores que produzem vinhos realmente espetaculares, honestos, puros: Os que precisam dessa atividade para sobreviver e os que fazem isso como mais um braço de algum grupo economico. Muitas vezes por ego. Ou para dar uma lavadinha de dinheiro.

    Salvo por raras excecoes (Borgonha, acho que unico lugar aqui) nao ha como o cara produzir vinho de altissima qualidade e ainda se manter vivo economicamente pois o vinho sera produzido em quantidades diminutas. No mundo do vinho so picareta (chile, argentina...e afins) produz 100.000 garrafas de vinhos iconicos exclusivos.

    O cara que produz vinho excepcional e precisa daquilo uma hora quebra. Ja vimos casos e casos e casos assim. Entao nessa logica meio apressada por conta do almoco, sobra de vinho bom e honesto no mundo a turma que nao precisa de altissima qualidade para sobreviver.

    Mas vender vinho nao he facil, tem que ir em feiras, tem que aguentar bebado, e tem que receber $$ da venda. Eles levam muito calote, como ja sabido.

    Ai que os dois tipos de produtores eventualmente saem do negocio. Ate o que tinha ego e lavanderias grandes. Cansa.

    O que sobra? Os produtores industriais ou profissionais ischpertos que fazem exatamente o que voce escreveu. Vao "costomizar" (eca) os vinhos ao gosto da massa. E a vida continua.

    Exemplo mais contundente dessa teoria minha de ultima hora sao os americanos. Ha terroir e conhecimentos suficientes para producao de vinhos fantasticos em varios estados ,MAASSSS o americano comum, aquele que mais consome e compra vinho no mundo quer o que? Fruta, geleia, 18% de alcool, madeira derretida... A proposito, alguem duvida que Chile e Argentina poderiam fazer uma quantidade colossal de bons vinhos? E olha qual direcao tomaram. A do mercado, claro.

    Faça vinho bom e honesto nesses paises que voce quebra rapidinho.

    Auguri, B. inglorio...

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    1. É nivelar por baixo....Haverá sempre uma Borgonha , um Piemonte e milhares de viticultores ,desde sempre, que nos salvarão das "marmelerdas" (marmeladas com merda)

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  3. Muito interessante! Aprendo muito com ele tipo de postagem. Como comentei aqui no blog em outra pastagem, fui salvo das marmeladas açucaradas; ou por sorte, ou por influência de raras pessoas ou por bom gosto mesmo! Enfim, meus vinhos prediletos são os piemonteses e borgonhas, mas Champagne, Loire, Rhône e Alsace também me fascinam. Há ainda "vinhos vinhas" nesses territórios? Abraços.

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    1. Há em todas as regiões que vc elencou , especialmente na Alsacia.

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  4. Não sou expert em vinhos comerciais, há trinta anos fabrico meu vinho, sempre de colheitas diferentes, classifico ele como um vinho colonial, uso diariamnete nas refeições, faço anualmente. Neste ano que vem vou repetir um uma uva chamada Goethe, de Azambuja SC. Um abraço a todos.

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