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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

BAROLO III




Percorrendo, hoje, as tortuosas estradas que serpenteiam entre as colinas (Langhe) nas proximidades de Alba, nota-se, facilmente, que a região transpira riqueza.


Vinhas bem cuidadas, aldeias de sonho, incontáveis restaurantes, muitos dos quais ostentando estrela Michelin, vinícolas famosas, centenas de agroturismos, castelos medievais…… É quase impossível ficar insensível diante de tanta beleza e qualidade de vida.





As estradas de hoje, que os potentes e imponentes SUV dos viticultores percorrem velozmente, há poucas décadas conheciam apenas velhos Fiat “Millecento”, econômicas “Cinquecentos” e raríssimas “Alfa Romeo”.

Os vinhateiros, que desciam até Alba, nos dias de feira, para trocar seus vinhos por comida, roupa, sapatos, eletrodomésticos etc, já não existem e são apenas lembrados e comentados quando alguém, nostálgico, deseja recordar, evocar um distante e folclórico passado


As vinhas, que eram vendidas, no após guerra e até os anos 70, por preço de banana, valem, hoje, verdadeiras fortunas.

É fácil entender, então, os preços salgados dos vinhos ali produzidos, especialmente, Barolo e Barbaresco,

Uma estatística: Em 1965, com o salário-mínimo, da época, era possível comprar, aproximadamente, 170 garrafas de barolo.

Com o salário atual, 40 garrafas, quando muito, entrarão em sua adega.

Deu para perceber o porquê de tanto bem-estar?


Nos anos 70/80 ninguém imaginaria que uma garrafa de Barolo Monfortino, por exemplo, alcançasse os atuais hiperbólicos 500 Euros (quase dez salários daqueles anos).

Os preços das vinhas, então…….

A Gigi Rosso, histórica vinícola de Castiglione Falletto, cujo proprietário atual coleciona carros esportivos, potentes e caríssimos, vendeu os 9 hectares da “Cascina Airone”, por um valor que supera os 7 milhões de Euros.

O comprador?


A vinícola Giacomo Conterno, de Monforte.

A Conterno produz o “Monfortino” e também, olha o acaso, é proprietária da “Cascina Francia”, cujas vinhas confinam com as da “Cascina Airone”


Você já calculou o valor pago, pelos 9 hectares, em reais?

É sempre bom lembrar que para produzir uma garrafa de bom Barolo, são necessários 7 Euros (já engarrafado, etiquetado, embalado e pronto para ser expedido) um pouco mais, um pouco menos.

Imagine, então, o lucro de quem consegue vender uma garrafa por 50/70/90 Euros.

A riqueza trouxe a reboque a ganância.

Nos anos 60, as vinhas de “Nebbiolo da Barolo”, cobriam 500 hectares do território e as garrafas produzidas somavam 3 milhões.


Hoje as vinhas de “Nebbiolo da Barolo” se expandem por 2.000 hectares e as unidades engarrafadas ultrapassam os 12 milhões.

Se alguém se assustar, com o inchaço da área do Barolo, vai enfartar quando souber que em Montalcino, na mesma época (anos 60), apenas 60 hectares eram habilitados a produzir uvas para a produção de Brunello e as garrafas, anuais, não superavam 150.000 unidades.

Hoje Montalcino derrama no mercado 7 milhões de garrafas de Brunello e a área plantada supera os 2.000 hectares.

Resultado: o que há no comércio, de Barolo e de Brunello, que deveriam ser jogados no lixo, é impressionante.

Terrenos, em que os antigos viticultores não teriam plantado nem batatas, abrigam, hoje, vinhas de “Nebbiolo da Barolo” che fa cagare..”


".....Fa cagare”, (literalmente,“faz cagar”) é uma expressão tipicamente italiana que os enófilos da bota costumar exclamar, alto bom som, quando o vinho é de baixa qualidade.

Quem conhece a região, as colinas, a cultura, seu povo, suas tradições, obtêm informações e valiosas dicas onde encontrar grandes Barolo sem violentar a carteira

Eu, que tenho o privilegio de ser amigo de Massimo Martinelli, um dos maiores “barolistas” que conheço, aprendi os caminhos, não das pedras, mas das vinhas.


Fugir das etiquetas “carimbadas” é a minha especialidade.

Resultado: em minha adega repousam soberbas garrafas de Barolo de 25/30 euros.



Na próxima matéria: “Um Grande Barolo”.




3 comentários:

  1. Ótimo! Aguardo próxima, com o grande Barolo.
    Salu2,
    Jean

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  2. Boa,
    Mas existe ainda a dificuldade de se encontrar esse vinhos aqui no Brasil.

    C'est la Vie

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  3. Excelente matéria: estou ansioso por conhecer grandes Barolos a preços acessíveis

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