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quinta-feira, 4 de junho de 2015

CHARDONNAY ROBERT MONDAVI


 Nunca acreditei, nem por um segundo, naquela pantomina hollywoodiana: “O Julgamento de Paris” (americano adora ser o melhor do mundo em tudo) em que vinhos californianos batem, clamorosamente, em uma degustação às cegas, os primos franceses.

Não vou entrar em detalhes, mas é estranho que, após décadas e décadas, os vinhos californianos continuem frequentando, quase e somente, as mesas americanas enquanto as garrafas francesas “inundam” as taças dos enófilos de todos os cantos do mundo.

Os consumidores são todos imbecis ou os americanos, para variar, picaretaram a degustação?

Tenho minhas convicções: Quando um Chardonnay ou um Pinot Noir, de qualquer canto do mundo, é melhor do que um francês.......é francês.

Tirem as conclusões….
 

Um dos meus sommeliers preferidos, desde sempre, é o Lorenzo Brescia do bar e restaurante “Lord Nelson” de Chiavari.

Estou morando, atualmente, em Santa Margherita, mas continuo frequentando, quase todos os dias, os bares e restaurantes de Chiavari e o “Lord Nelson” é um dos meus endereços preferidos para almoçar ou jantar.

 Um bom espumante, antes da refeição, é o acompanhante ideal enquanto admiro o incomparável panorama que se pode apreciar sentado em uma das mesas da calçada do “Lord Nelson”.

Lorenzo, atento e profundo conhecedor dos gostos e preferências dos clientes, invariavelmente, acerta nas etiquetas que propõe.

Lorenzo nunca me declara o vinho servido.

 Oferece a taça, espera que eu prove e tente acertar a casta, a safra e o produtor.

Com muita frequência acerto a casta (os vinhos que Lorenzo propõe são quase sempre aqueles que mais conheço: Chardonnay, Riesling, Verdicchio, Pigato etc.), mas a coisa se complica quando tento desvendar o produtor e a safra.

Acertar o ano é mais fácil.

 A cor dourada indica que o vinho já não é tão jovem.

 Se o dourado for muito intenso, com um pouco de sorte e malandragem, é possível adivinhar a safra, mas acertar o produtor.......

Resolvi almoçar no “Lord Nelson” e escolhi um cardápio de peixes e frutos do mar.

“Quer tomar um aperitivo antes do almoço? ”

A clássica pergunta, de Lorenzo, antecipava um novo desafio.

“Sim, mas não quero espumante. Gostaria de tomar uma taça do vinho de uma garrafa que você escolher para o almoço”.

Lorenzo concordou, desceu até a adega, procurou uma garrafa interessante e retornou com uma taça de vinho branco.

Branco, ”ma non troppo”....

O vinho, de intensa cor dourada, com lágrimas escorrendo lentamente pelo cristal, denunciava sua idade avançada.

 Levei a taça ao nariz, percebi notas amanteigadas, aromas cítricos e complexidade.

“É um Chardonnay, um bom e importante Chardonnay”, exclamei

Lorenzo, com um sorriso enigmático, respondeu:

“Que é um Chardonnay até minha avó acertaria ....Eu quero saber o ano e a origem”.

Tomei um gole, pensei um pouco, bebi mais um e disparei: “O vinho tem mais de 20 anos e é um Meursault”.

Lorenzo foi até o bar voltou com a garrafa.
 

“O ano é 1991! Ponto para você, mas o Chardonnay é americano produzido por “Robert Mondavi” no 25° aniversário da vinícola”.

Olhei com cuidado a garrafa, notei que era importada por Angelo Gaja.

 O vinho californiano quase anulou o ceticismo que nutro pelos vinhos americanos.

Aos poucos o vinho foi se abrindo, evoluído, mas pude notar que as notas amanteigadas continuavam muito intensas dominando e quase cobrindo outros aromas.
 

A mesma sensação podia ser, facilmente, percebida na boca.

Um bom vinho, opulento, intenso, boa estrutura, mas sem a fineza e a elegância dos seus primos franceses.

O preço, 95 Euros nas lojas, mais um ponto contra o Chardonnay do Mondavi.

 Gastando o mesmo, prefiro comprar um Bâtard Montrachet do Paul Pernot, muito mais elegante, refinado e complexo.

Se o Chardonnay, do Robert Mondavi, custasse  menos da metade, certamente, compraria

Para encerrar: Um Chardonnay da Califórnia, em 1976, “ganhou” o famoso “Desafio de Paris”

Será?

Bebi algumas vezes o “Château Montelena” e não me pareceu superior ao bom Chardonnay do Moldavi que, por sua vez, não pode competir com os grandes Puligny, Chassagne, Charlemagne.

O “Desafio de Paris”, para mim, foi mais uma “americanada” como aquela em que o Rambo-Stallone resolve, sozinho, uma guerra.
 

Bacco


8 comentários:

  1. KKKKKKK, às cegas !!! Teve que dar a mão a palmatória !!!

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  2. Parla, peste.

    Primeiro lamento por colocar John Rambo nessa historia. Um baita heroi para toda humanidade. Otimos filmes e o ator foi meu idolo durante decadas.

    Em relacao aos vinhos:

    1. Americano da california exporta vinho para todo canto dentro do pais, mas o mercado interno absorve muito dos bons e maus vinhos. Sobra pouco para o resto do mundo e a demanda eh tao boa que o produtor esta cavando para qualquer outro importador que nao seja o cliente dele. Ja tentei comprar vinho la para trazer ao bananal e nem me deram atencao. Ja as grandes vinicolas sao todas ouvidos, e ai que os vinhos de massa sao os unicos que vem por aqui. Na europa imagino que os americanos sejam tao conceituados quanto os gauchos. Caros e nem tao especiais.

    2. Juramento de Paris? Minha teoria he que os vinhos franceses nao estavam prontos e os americanos ja estavam naquela de "abriu, tomou". E alem disso muito depende do GOSTO dos JURADOS. Se os caras gostaram (um absurdo julgar um vinho assim) de um mais que outro, nao tem jeito. Vitoria para os vinhos da america, duas vezes. Eu estranho esses julgamentos quando colocam vinhos tao distintos para baterem de frente uns com os outros. No minimo deveriam manter o mesmo estilo por regiao.

    3 Prova do meu segunto ponto? O ridiculo julgamento de Berlin, onde vinhos do Chile (pqp) ganharam de vinhos de verdade da França. Faça um julgamento de Sao Roque com jurados acostumados com aquele vinho e as chances sao boas do vinho local ser o "campeao".

    Auguri, bastardo.

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  3. Concordo, o Rambo-Stallion foi um grande ator dramático somente superado pelo Chuck Norris. É sempre bom lembrar que Spurrier tinha uma enoteca em Paris e tentava vender , sem sucesso, vinhos americanos . Resta saber quanto levou para realizar o concurso e conseguir que os californianos vencessem. Pouca grana não foi.

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  4. Já bebi vários Chardonnay americanos e nenhum deles me fez suspirar. Quase sempre têm exageros de frutas e amanteigado. O Montelena não é dos piores. No entanto, longe de poder competir com bons borgonheses. Como você bem lembrou, falta-lhe a fineza encontrada nos franceses. Em questão de americanos, prefiro ficar com os exemplares do Oregon, que são mais sutis e não são tão caros quanto os californianos.
    Salu2

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  5. Vou escrever a minha versão sobre "julgamento de Paris".
    Dionísio

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  6. EEUU he um pais enorme com muita gente. Se SO 1% dos residentes tem bom gosto falamos de 3.1 milhoes de pessoas. Gente para cacete consumindo coisa boa.

    Ha bastante vinho de alto nivel que nao chega ao conhecimento do populacho. Ha escolas de enologia de altissimo nivel, ha clima e solos perfeitos para vinhos (e oh, azeite!), por que nao haveria vinhos e consumidores de bom nivel?

    Deixa o povo consumindo os two bucks chuck da vida, aqueles roses insuportaveis que mais parecem keep cooler da zona, os cabernets com 45% de alcool, que nos pegamos os bons vinhos a otimos precos.

    JR

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  7. uma contribuição para o risível mundo dos vinhos...

    http://www.evino.com.br/14-hands-hot-to-trot-red-26891.html

    "se esse vinho fosse um criminoso..."? imagina os do Beira-Mar, Elias Maluco et caterva?

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