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quinta-feira, 7 de maio de 2015

VINHOS NATURAIS=VIN DE MERDE final


Esta é a última (por enquanto) matéria da série.

É preciso lembrar que as agriculturas biodinâmicas e biológicas são, praticamente, a mesma coisa.

A única diferença, entre as duas, consiste na obrigatoriedade do uso dos preparados mencionados na matéria anterior (chifrestrume, bexiga de cervo recheada com flores, cabeça de vaca com pó de carvalho etc.), na biodinâmica.

Até 2005 poucas pesquisas foram feitas para atestar a eficácia, ou não, dos ensinamentos de Rudolf Steiner.

Em 2005 um grupo, liderado por Jonh Reganold, professor de agroecologia e agricultura sustentável da “Washington State University”, publicou um estudo científico sobre o uso de preparados biodinâmicos em um vinhedo de uvas viníferas.

Antes de continuar é necessário esclarecer uma coisa:

Rudolf Steiner, em suas 8 conferências, sobre biodinâmica, nunca falou uma palavra sequer sobre vinho.

 Já perceberam, porém, que quando se fala em “biodinâmica”, imediatamente, ligamos a biodinâmica ao vinho?

Se ouve falar de “vinhos biodinâmicos”, “vinhos provenientes de agricultura biodinâmica”, mas nunca, ou quase nunca, de alface, cenoura, abobrinha, melancia etc. biodinâmicos.

Minha conclusão: o vinho é um produto que custa muito mais do que um quilo de tomate, as margens de lucro são infinitamente maiores e, finalmente, o vinho é “in”, “fashion” e dá status.

Já imaginaram o Galvão Bueno, o Dani-Elle-Mauricio-Heller produzindo jiló, berinjela, rúcula etc. biodinâmicos?
 

Não dá “Ibope”, não é charmoso, não é cult.

Estes dois pavões nacionais, assim como outros inúmeros personagens, que investiram no setor vinícola, entraram no segmento farejando possibilidade de grandes lucros e em busca da visibilidade que as garrafas conseguem oferecer.

O vinho na história da humanidade, entretanto, sempre teve conotações simbólicas e até espirituais (na missa o vinho se transforma no “sangue de Cristo”) e no marketing não se vende apenas uma garrafa de bebida, mas um produto que representa emoções, histórias, territórios, lembranças, culturas.....

Enquanto isso o produtor de berinjela vende apenas berinjelas e suas berinjelas biodinâmicas não poderão custar 3, 4, 5, 10 vezes mais que as berinjelas comuns.
 

Deu para entender o porquê da propaganda e marketing apenas do vinho?

Voltemos à pesquisa.

Em 1996 o professor Reganold, liderando seu grupo, desenvolveu  um estudo de longo prazo que visava confrontar as uvas biológicas e as biodinâmicas de uma vinha comercial no distrito californiano de Mendocino.

Objetivo: determinar se seria possível medir alguma mudança no solo e na qualidade das uvas quando tradados com os preparados biodinâmicos.

A experiência se prolongou até 2003 e foi realizado em de 4,9 hectares de um vinhedo de uva Merlot.

Na parte cultivada com a agricultura biodinâmica (50%) foram aplicados os preparados 500,501 ,502 ,503 e assim por diante até o 507.

O solo foi analisado por diversos anos e pesquisado, seja em sua composição química (matéria orgânica, pH, nitratos, fósforo etc.), seja na atividade biológica (números de vermes, atividade bacteriológica etc.).

Os investigadores escrevem:

“..... Com relação aos vários parâmetros químicos, físicos ou biológicos não foi encontrada diferença significativa na parte tratada com a biodinâmica e aquela não tratada e também não foram encontradas diferenças na atividade microbial”.
 

Os pesquisadores também não encontraram diferenças significativas no peso, quantidade e qualidade dos cachos concluindo, assim, que não havia nenhumas evidências que os preparados biodinâmicos haviam contribuído positivamente na qualidade das uvas.

Apesar dos estudos que provam a ineficácia das práticas de Steiner, um crescente número de viticultores adere à biodinâmica fazendo um barulho desproporcional à sua real importância especialmente e quando levarmos em conta que apenas 340, das mais de 18 milhões de empresas agrícolas italianas, aderiram ao “chifreestrume”.

Por quê?

É a moda do momento.

É o vinho “natural”.

É o lucro fácil às custas dos otários de sempre.

Há tantos otários assim?

É só prestar atenção na venda de terrenos no céu, que o bispo Macedo e sua igreja estão promovendo, para perceber que há otários em profusão.

Se alguém se escandalizar, com a cara de pau de Macedo, é bom lembrar que a igreja católica vende indulgencia há mais de 5 séculos.  

Macedo é, apenas, um cara de pau moderno que grila até o céu.

Se há tontos, que caem na vigarice religiosa, haverá um número crescente de eno-tontos dispostos a pagar os tubos por vinhos provenientes da macumba-biodinâmica.
 

Mas os vinhos biodinâmicos são bons ou não?

Responde, magistralmente, Dario Bressanini ...” O fato de que existam ótimos vinhos biodinâmicos não demonstra, de modo algum, que os méritos sejam dos preparados biodinâmicos (chifrestrume, bexiga de veado com camomila…)

O mais sensato seria perguntar quantos vinhos não biodinâmicos medíocres tenham se transformado em excelentes após terem aderido às práticas da biodinâmicas ”.

Alguém poderá indagar: “ Mas os vinhos biodinâmicos da Romanée-Conti e do Nicolas Joly são excelentes”.
 

Respondo: “A Romanée-Conti aderiu à biodinâmica em 2008 e seu vinhos já eram considerados extraordinários muitas e muitas décadas antes. O mesmo discurso vale para os vinhos do Joly”.
 

O mais lógico e racional seria atribuir a excelência dos vinhos não ao chifrestume, camomila fermentada na bexiga de veado em contato astral com as forças cósmicas do universo, mas à grande dedicação e extremo cuidado na produção dos vinhos, por parte dos dois viticultores além da, e não menos importante, grande vocação e qualidade de seus territórios.

Alguém, por acaso, acredita que se a Salton ou a Miolo aderissem à biodinâmica seus Chardonnay poderiam ser comparados aos do Jean Claude Bachelet?
 

Podem enterrar um milhão de chifres com estrume, um milhão de bexiga de veado recheados com camomila, fazer macumba-biodinâmica nos vinhedos das duas vinícolas, que os Chardonnay da Miolo e da Salton continuarão sendo aquela…. de sempre.
 

A frase magistral, que encerra a matéria e o assunto, foi proferida pelo grande viticultor Claudio Mariotto.

Enquanto me dirigia à sua adega para comprar algumas garrafas de seu incrível Timorasso, perguntei: “Claudio, o que você acha da biodinâmica? ”

Mariotto parou de caminhar e, olhando nos meus olhos, respondeu: “Biodinâmica? Bisogna stare attenti per non essere presi per il culo”
 

Tradução exata é difícil, mas é quase isso: “Biodinâmica? É preciso tomar cuidado para não ser enrabado”.

Lapidar!!!

3 comentários:

  1. Qualquer aluno do 2 ano de agronomia sabe que biodinamica tem cara, gosto, cheiro, cpf, nome, endereco e sotaque de picaretagem ou ignorancia.

    Deixo um pequeno espaco para os ignorantes, dizendo que nem todos sao picaretas. Maconheiros que acreditam que pedras (ou rochas como queiram) sao seres vivos (um amigo meu veterinario formado pela USP defende ate a morte isso), gente que acha que a signo astral interfere no mundo, na personalidade..etc etc.

    Como muito bem dito em ingles, I WANT TO BELIEVE. Nao ha outra explicacao para o caso dos ignorantes.

    O restante dos picaretas merecem um estagio em curitiba fazendo protestos contra o governo.

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  2. B&B nao dá ideia. A próxima fronteira no mundo dos alimentos orgânicos será a berinjela biorganica. Assim, o orgtrouxa pagará dobrado por um pseudo beneficio. Já nao basta acharem que oleo de canola (obs. Nao existe pé de canola. Canola é marca) nao é gordura trans.

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