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sábado, 30 de maio de 2015

DOLCEACQUA E FINALBORGO II


Duas horas, apenas duas horas, passeando por Dolceacqua, conseguiram (quase) apagar de minha mente a desagradável passagem por Monte Carlo.

Estava me “reumanizando”......

 A lembrança de Mônaco já não era tão agressiva, já não me causava arrepios, mas faltava, ainda, alguma coisa para, finalmente, retornar à normalidade.
 
 

Consultei o relógio e deduzi que, sem manobras bruscas e arriscadas, que tanto umedeceram um anônimo leitor, poderia, tranquilamente, almoçar em Finalborgo e, aí sim, esquecer de vez Monte Carlo.

Há lugares que me arrependo de ter conhecido é há outros que visitaria dezenas de vezes.
 

Finalborgo é um distrito, da também bela Finale Ligure, que continuarei a frequentar quantas vezes puder.

 Finalborgo, apesar de minúscula, revela, ao turista mais experimentado e exigente, sempre novos ângulos, novos detalhes e agradáveis surpresas.
 

Apesar de sua origem, também medieval, a aldeia é totalmente diferente de Dolceacqua.

Dolceacqua, misteriosa, traçado labiríntico, becos estreitos e escuros onde a presença do sol é rara e escassa, sem uma praça sequer, contrasta com a ensolarada, florida e alegre Finalborgo.
 

Ruas largas, belas praças, prédios imponentes e importantes, castelos (2) majestosos, comércio pujante, um sem número de bons restaurantes e bares, são válidos motivos que colaboraram para Finalborgo se consolidar como importante meta turística.

Uma parada para um aperitivo antes do almoço no ótimo   “Ai Quattru Canti” (primeira vez).
 

A trattoria “Ai Quattru Canti”, recomendada pelo garçom do bar, é um pequeno paraíso da verdadeira cozinha lígure.

Poucas mesas na pequena sala onde proprietária e filha se alternam e se desdobram para atender os clientes com rara presteza.
 

Quando a filha se aperta na sala a mãe, prontamente, deixa as panelas e corre para prestar socorro.

Se o aperto é na cozinha é a vez da filha socorrer a mãe.

Uma bela seleção de antepastos que privilegiam os produtos sazonais.
 

 Variadas tortas de verdura, pimentões com salsa de anchovas, lulas fritas, tépida salada de polvo…Um delicioso festival guloso.

Não deixe de experimentar as “lasagnette al pesto” e o ótimo coelho à lígure.

 

Vinho da casa (um honesto Rossese), porções mais que generosas e qualidade indiscutível aliviaram minha carteira em 18 Euros.

Se o desejo é de maior refinamento o endereço certo é “Ai Torchi”.

No “Ai Torchi”, antigo lagar, a cozinha é mais refinada, rebuscada, o ambiente muito bonito, mas o preço.......

São apenas duas sugestões, mas há uma dúzia ou mais de outros bons endereços.

Finalborgo é um refinado e concorrido centro gastronômico.

Depois do almoço um belo passeio pelas ruas da aldeia, um digestivo em Finale Lígure, uma rápida parada para conferir a incrível praia de Varigotti.
 

Sem acelerar muito, sem manobras arriscadas, para não arrepiar o sempre úmido, sensível e anônimo leitor, as 18 horas estacionei o carro em frente ao “Sabot”, meu bar predileto em Santa Margherita.
 

 Ordenei um “Monterossa Brut” e, já no primeiro gole, percebi que estava curado: Monte Carlo, ainda bem, era pesadelo esquecido e do passado.
 
Bacco



 

 

 

 

 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

DOLCEACQUA E FINALBORGO



Três dias em Monte Carlo, acompanhando o torneio de tênis.....Já não suportava a ideia de permanecer no principado mais famoso do planeta nem mais uma hora.

 Após uma verdadeira “indigestão” de concreto, iates, carrões, joias, celebridades, futilidades, ostentação, preços estratosféricos etc., resolvi regressar para a sofisticada, mas normal e humana, Santa Margherita.

Antes de entrar na autoestrada, uma ideia: precisava de um choque radical para poder voltar à normalidade.
 


Pensei: ”Estou a dois passos do paraíso......Para desintoxicar os olhos e a mente nada melhor do que uma bela caminhada pelo labirinto de ruelas medievais da incrível e intacta Dolceacqua e, quem sabe, mais tarde almoçar na estupenda Finalborgo”.

Com uma manobra, brusca e arriscada, mudei de direção e rumei para Dolceacqua.
 
 
 


Descrever, fotografar ou filmar Dolceacqua nunca será suficiente para conseguir revelar toda a silenciosa e misteriosa milenar beleza de uma das mais charmosas aldeias que conheço.

Para se ter uma ideia, do cuidado e da preservação, de Dolceacqua, bastaria lembrar que Monet, ao visitar a aldeia, se encantou, de tal forma, com a ponte sobre o rio Nervia que assim descreveu: “...o lugar é soberbo e há uma ponte que é uma joia de leveza”.
 

Monet pintou a ponte, “joia de leveza”, bem quatro vezes.

 A reprodução, de uma das telas, pode ser vista no exato local onde o grande pintor francês colocou seu cavalete e a pintou.

Aliás, no mesmo local há um simpático bar que serve ótimos vinhos.

Arte, beleza e....vinho!
 

O interessante: olhando para quadro de Monet é fácil perceber que no panorama atual (2015) há apenas uma casa que não aparece na tela de 1884.

 O restante é exatamente igual.

Resumindo: em 131 anos uma única construção a mais.

Isso tem nome e seu nome é: Preservação.
 

A cuidadosa preservação de Dolceacqua   é responsável pela grande quantidade de turistas que visitam, todos os meses, as intactas e labirínticas ruelas da mágica aldeia.

Não perca!

Bacco

 

 

 

 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O VINHO "SODOMIZADOR"


A Miolo não para de me surpreender, não pela qualidade de seus quase vinhos, mas pela tremenda cara de pau dos (ir) responsáveis do departamento de marketing da empresa.
 

Inúmeras pessoas ficaram revoltadas e indignadas com a tremenda cara de pau do bispo Edir Macedo e seus comparsas que, sem a menor cerimônia e total falta de escrúpulos, promoveram a venda de terrenos no céu.

Infelizmente não posso me unir aos indignados anti-Macedo.

 Macedo é um tremendo vivaldino, mas é, também, suficientemente inteligente e oportunista para perceber que há uma enorme quantidade de idiotas que compra qualquer coisa desde que esta “coisa” seja oferecida em uma embalagem apropriada e atraente.
 

Você deve estar se perguntando: “O que a Miolo e seus quase-vinhos tem em comum com o Edir Macedo e os terrenos do céu? ”

Tudo!

Veja

 

Exclusividade Vinho Miolo Sesmarias - SAFRA 2008 750 ml



Exclusividade Vinho Miolo Sesmarias - SAFRA 2008 750 ml

Vinho Miolo Sesmarias, vinho de elevada intensidade cromática, vermelho escuro profundo mesclado com importante matiz de tom violáceo. Vinho de fragrância arrebatadora, dominando a malha volátil os florais, intrometidos com depuradas notas de fruta negra ebm amadurecida, condimentada com nuances de especiarias. Vinho poderoso, altamente estruturado, com grande volume em boca e intrigantemente elegante com taninos redondos e sedosos que proporcionem um retrogosto longo e muito demorado.

R$ 540,00

O mesmo imbecil que compra terrenos celestiais é um potencial cliente do Seis-Ave-Marias”.

Já foi provado, aqui em B&B, que para produzir um vinho, no Brasil, não custa mais do que 7/8 R$.

Hoje amanheci bonzinho e vou adicionar, aos custos da “Miolo Predadora de Vinhos”, os juros, desde 2008 até hoje, em que o Seis-Aves-Marias ficou estocado.

 Não acredito, nem por um segundo, que o vinho ficou guardado durante tantos anos, mas vou acrescentar 100%   e assim alcançamos 14/15 R$.

Que mais?

Ah, sim..... o Rolando Lero!

O Rolando Lero, que se bem remunerado, assina até garrafa de “Biotômico Fontoura Reserva”, deve ter custado uns 10/20 mil Euros (está decadente...).

O número total das garrafas de Seis-Aves-Marias” é, e sempre será, um segredo: Ninguém sabe quantas unidades são produzidas.

Podem ser 1.000, 2.000, 6.000 ou 10.000; tudo depende quantos eno-otários aparecerem....

Aumento significativo de otários = mais garrafas etiquetadas.


Concluindo: A garrafa “preciosa”, juntando tudo, custa à Miolo-Predadora-de-Vinhos, no máximo, 18/20 R$.

E sempre bom lembrar que para produzir uma garrafa de Barolo são suficientes 7/8 Euros.


 A pratica comercial, nada ortodoxa, é repetida pela empresa gaúcha há muitos anos e sempre com sucesso.

A continua repetição me leva a acreditar que há incontáveis consumidores simpatizantes do eno-masoquismo.

Dionísio
Tem mais notícia Miolo no forno

quinta-feira, 7 de maio de 2015

VINHOS NATURAIS=VIN DE MERDE final


Esta é a última (por enquanto) matéria da série.

É preciso lembrar que as agriculturas biodinâmicas e biológicas são, praticamente, a mesma coisa.

A única diferença, entre as duas, consiste na obrigatoriedade do uso dos preparados mencionados na matéria anterior (chifrestrume, bexiga de cervo recheada com flores, cabeça de vaca com pó de carvalho etc.), na biodinâmica.

Até 2005 poucas pesquisas foram feitas para atestar a eficácia, ou não, dos ensinamentos de Rudolf Steiner.

Em 2005 um grupo, liderado por Jonh Reganold, professor de agroecologia e agricultura sustentável da “Washington State University”, publicou um estudo científico sobre o uso de preparados biodinâmicos em um vinhedo de uvas viníferas.

Antes de continuar é necessário esclarecer uma coisa:

Rudolf Steiner, em suas 8 conferências, sobre biodinâmica, nunca falou uma palavra sequer sobre vinho.

 Já perceberam, porém, que quando se fala em “biodinâmica”, imediatamente, ligamos a biodinâmica ao vinho?

Se ouve falar de “vinhos biodinâmicos”, “vinhos provenientes de agricultura biodinâmica”, mas nunca, ou quase nunca, de alface, cenoura, abobrinha, melancia etc. biodinâmicos.

Minha conclusão: o vinho é um produto que custa muito mais do que um quilo de tomate, as margens de lucro são infinitamente maiores e, finalmente, o vinho é “in”, “fashion” e dá status.

Já imaginaram o Galvão Bueno, o Dani-Elle-Mauricio-Heller produzindo jiló, berinjela, rúcula etc. biodinâmicos?
 

Não dá “Ibope”, não é charmoso, não é cult.

Estes dois pavões nacionais, assim como outros inúmeros personagens, que investiram no setor vinícola, entraram no segmento farejando possibilidade de grandes lucros e em busca da visibilidade que as garrafas conseguem oferecer.

O vinho na história da humanidade, entretanto, sempre teve conotações simbólicas e até espirituais (na missa o vinho se transforma no “sangue de Cristo”) e no marketing não se vende apenas uma garrafa de bebida, mas um produto que representa emoções, histórias, territórios, lembranças, culturas.....

Enquanto isso o produtor de berinjela vende apenas berinjelas e suas berinjelas biodinâmicas não poderão custar 3, 4, 5, 10 vezes mais que as berinjelas comuns.
 

Deu para entender o porquê da propaganda e marketing apenas do vinho?

Voltemos à pesquisa.

Em 1996 o professor Reganold, liderando seu grupo, desenvolveu  um estudo de longo prazo que visava confrontar as uvas biológicas e as biodinâmicas de uma vinha comercial no distrito californiano de Mendocino.

Objetivo: determinar se seria possível medir alguma mudança no solo e na qualidade das uvas quando tradados com os preparados biodinâmicos.

A experiência se prolongou até 2003 e foi realizado em de 4,9 hectares de um vinhedo de uva Merlot.

Na parte cultivada com a agricultura biodinâmica (50%) foram aplicados os preparados 500,501 ,502 ,503 e assim por diante até o 507.

O solo foi analisado por diversos anos e pesquisado, seja em sua composição química (matéria orgânica, pH, nitratos, fósforo etc.), seja na atividade biológica (números de vermes, atividade bacteriológica etc.).

Os investigadores escrevem:

“..... Com relação aos vários parâmetros químicos, físicos ou biológicos não foi encontrada diferença significativa na parte tratada com a biodinâmica e aquela não tratada e também não foram encontradas diferenças na atividade microbial”.
 

Os pesquisadores também não encontraram diferenças significativas no peso, quantidade e qualidade dos cachos concluindo, assim, que não havia nenhumas evidências que os preparados biodinâmicos haviam contribuído positivamente na qualidade das uvas.

Apesar dos estudos que provam a ineficácia das práticas de Steiner, um crescente número de viticultores adere à biodinâmica fazendo um barulho desproporcional à sua real importância especialmente e quando levarmos em conta que apenas 340, das mais de 18 milhões de empresas agrícolas italianas, aderiram ao “chifreestrume”.

Por quê?

É a moda do momento.

É o vinho “natural”.

É o lucro fácil às custas dos otários de sempre.

Há tantos otários assim?

É só prestar atenção na venda de terrenos no céu, que o bispo Macedo e sua igreja estão promovendo, para perceber que há otários em profusão.

Se alguém se escandalizar, com a cara de pau de Macedo, é bom lembrar que a igreja católica vende indulgencia há mais de 5 séculos.  

Macedo é, apenas, um cara de pau moderno que grila até o céu.

Se há tontos, que caem na vigarice religiosa, haverá um número crescente de eno-tontos dispostos a pagar os tubos por vinhos provenientes da macumba-biodinâmica.
 

Mas os vinhos biodinâmicos são bons ou não?

Responde, magistralmente, Dario Bressanini ...” O fato de que existam ótimos vinhos biodinâmicos não demonstra, de modo algum, que os méritos sejam dos preparados biodinâmicos (chifrestrume, bexiga de veado com camomila…)

O mais sensato seria perguntar quantos vinhos não biodinâmicos medíocres tenham se transformado em excelentes após terem aderido às práticas da biodinâmicas ”.

Alguém poderá indagar: “ Mas os vinhos biodinâmicos da Romanée-Conti e do Nicolas Joly são excelentes”.
 

Respondo: “A Romanée-Conti aderiu à biodinâmica em 2008 e seu vinhos já eram considerados extraordinários muitas e muitas décadas antes. O mesmo discurso vale para os vinhos do Joly”.
 

O mais lógico e racional seria atribuir a excelência dos vinhos não ao chifrestume, camomila fermentada na bexiga de veado em contato astral com as forças cósmicas do universo, mas à grande dedicação e extremo cuidado na produção dos vinhos, por parte dos dois viticultores além da, e não menos importante, grande vocação e qualidade de seus territórios.

Alguém, por acaso, acredita que se a Salton ou a Miolo aderissem à biodinâmica seus Chardonnay poderiam ser comparados aos do Jean Claude Bachelet?
 

Podem enterrar um milhão de chifres com estrume, um milhão de bexiga de veado recheados com camomila, fazer macumba-biodinâmica nos vinhedos das duas vinícolas, que os Chardonnay da Miolo e da Salton continuarão sendo aquela…. de sempre.
 

A frase magistral, que encerra a matéria e o assunto, foi proferida pelo grande viticultor Claudio Mariotto.

Enquanto me dirigia à sua adega para comprar algumas garrafas de seu incrível Timorasso, perguntei: “Claudio, o que você acha da biodinâmica? ”

Mariotto parou de caminhar e, olhando nos meus olhos, respondeu: “Biodinâmica? Bisogna stare attenti per non essere presi per il culo”
 

Tradução exata é difícil, mas é quase isso: “Biodinâmica? É preciso tomar cuidado para não ser enrabado”.

Lapidar!!!