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quarta-feira, 29 de abril de 2015

VINHOS NATURAIS =VIN DE MERDE IV


 


A quarta matéria sobre “Vinhos Naturais = Vin de Merde”, dedicada aos “vinhos biodinâmicos”, deveria encerrar a série.

A complexidade do assunto, porém, me obrigou a esticar um pouco mais os capítulos.

Todos falam de “vinhos biológicos, biodinâmicos, naturais, triple A....” mas será que nossos sommeliers, críticos, especialistas, formadores de opinião e palpiteiros, conhecem realmente o assunto?

Confesso que, para poder escrever com um mínimo de propriedade, fui abrigado a pesquisar por duas semanas, conversar com sommeliers, viticultores (4), visitar vinícolas biodinâmicas e biológicas.

 No final de semana, após um último papo com o viticultor Claudio Marriotto, obtive informações, de várias correntes, que me permitiram abordar, com razoável segurança, a viticultura biodinâmica.

Escrever sobre os biológicos e naturais foi moleza, mas quando cheguei nos biodinâmicos, para não repetir uma cantilena sem nexo, como já disse, tive que me aprofundar, ler artigos favoráveis, contrários e, finalmente, me aproximar da ciência.
 

Foi exatamente lendo artigos de Francesco Marino e Dario Bressanini, o primeiro técnico agrário o segundo cientista, que consegui ordenar todas as minhas ideias e criar coragem para escrever a matéria.

Dario Bressanini, cientista moderno, preparado e sem papas na língua, dá explicações cientificas e ridiculariza sem piedade o pai da biodinâmica.
 

Francesco Marino, como bom agrônomo, detona as “técnicas” de Steiner.

Antes de entrar no assunto é preciso voltar no tempo, mais exatamente no início do século passado, para conhecer o pai da criança: Rudolf Steiner.

Steiner, filosofo, esotérico e ocultista austríaco, nasceu em 1861 e morreu em 1925.
 

Em 1924, aos 63 anos, Steiner foi convidado e convencido por seus adeptos, a ministrar um curso sobre agronomia.

Rudolf Steiner, não era agrônomo, nunca havia cultivado nem uma horta sequer, mas, mesmo assim, encarou o desafio e ministrou um curso de 8 conferências abordando o assunto.

Steiner resolveu aplicar na agricultura os mesmos ensinamentos espirituais que haviam caracterizado suas aulas de arquitetura, arte, religião, medicina, pedagogia.

Simplificando: Na visão de Steiner, o agricultor biodinâmico precisa possuir o conhecimento global do planeta e seu relacionamento com o cosmo para, assim, poder colher a energia das influências astrais e utilizá-las nos campos.

 
Steiner não entendia nada de ciências.

Nas suas 8 palestras, não inovou expondo técnicas agronômicas para melhorar a fertilidade da terra e a preservação do ambiente, mas se limitou a lançar ideias de um mundo sobrenatural onde seria possível produzir alimentos enriquecidos com “poderes espirituais” e que deveriam ajudar o homem a atingir um estágio de completa iluminação.

Já dá para perceber a maluquice do Rudolf, mas o melhor ainda está por vir....

Apesar da agricultura convencional, baseada em conhecimentos científicos, da química, da genética e da agronomia, tenha contribuído para melhorar e prolongar a expectativa de vida dos homens, os seguidores da “biodinâmica” impuseram um bipolarismo quase radical entre o artificial/natural, químico/biológico: O que não é natural, biológico ou biodinâmico deve ser evitado, descartado, demonizado,
 

Os produtos “naturais” ou “biodinâmicos” atraem consumidores que quase religiosamente acreditam poder encontrar, neles, o “paraíso perdido” da qualidade.

Não é bem assim: há uma imensa e organizada picaretagem que se aproveita de modismos e tendências, como as mencionadas, para, como sempre, faturar alto com a idiotice humana.

Voltemos para os “ensinamentos” de Rudolf Steiner.

O guru da biodinâmica me deu a nítida impressão que realizou suas 8 conferências sob o efeito de alguma droga alucinógena.
 

Exagero?

Algumas pérolas “steinerianas”

Em sua sexta lição, Steiner, ensina como se livrar de ratos que infestam as lavouras.

“..... Capture um rato do campo, bem jovem. Quando Vênus entrar no signo do Escorpião retire a pele do roedor e queime-a. Recolha com muito cuidado as cinzas, o resto da combustão e espalhe o todo na lavoura. Pode parecer pouca quantidade, mas, mesmo em doses homeopáticas, o remédio afastará os ratos”
 

Se o problema for infestação de insetos como é possível combatê-los?

Steiner nos ajuda mais uma vez.....

“…pegue um dos insetos que infestam o campo, queime-o quando o Sol cruzar com o signo de Touro (o mundo dos insetos está coligado às forças que se desenvolvem quando o Sol atravessa Aquário, Peixes, Câncer, Gêmeos, Capricórnio) e espalhe as cinzas no território”.

Há uma enorme quantidade dessas “pérolas “e até melhores, nos ensinamentos de Steiner.

O conjunto da obra me faz duvidar da sanidade mental dos que nele acreditam.

O mais interessante, creiam, é o capítulo que trata dos preparados para a agricultura biodinâmica.

A biodinâmica considera a propriedade agrícola como um organismo imerso em um esquema de influências cósmicas.

O produtor somente recebe o certificado biodinamica®” se e quando utilizar substâncias (preparados) que devem ser espalhados na terra, no adubo e nas plantas.

Segundo Steiner, os preparados , que podem ser produzidos na propriedade ou adquiridos, estimulam a terra e aumentam a saude das plantas.
 

O mais famoso dos preparados biodinamicos é, sem sombra de dúvidas, o 500 : “CHIFRESTRUME”.

Acompanhe a preparação do “CHIFRESTRUME”

.....Pegam-se chifres de vacas, preferivelmente que já tenham parido, e são enchidos com estrume.

Os chifres são enterrados e deixados fermentar no final do ano (na Europa, no inverno) e desenterrados no período Pascoal.

Após o desenterro são efetuadas duas operações de fundamental importância: A mistura e dinamização!

O CHIFRESTRUME é colocado em um recipiente onde é adicionada água morna, de mina, poço ou de chuva.

A operação de mistura e dinamização dura aproximadamente uma hora e consiste em agitar continuamente o preparado (veja o vídeo).

Alguém perguntará: “Mas porque chifre de vaca?”

Steiner explica: “...a vaca tem chifre que servem para enviar para dentro de si forças alternativas, etéreo-astrais, que forçando para o interior, penetram diretamente no órgão digestivo. É justamente através da radiação provenientes de chifres e patas que um grande trabalho se desenvolve no órgão digestivo da vaca….”

Quer mais?

O preparado 502 é mais uma joia rara de Rudolf Steiner.

....Pegar dois punhados de flores de aquiléia-mil-folhas introduzi-las em uma bexiga de cervo, prensar bastante e costurar. Pendurar por todo o verão em um local bem luminoso. No outono se enterra a bexiga para depois desenterrá-la na primavera e adicioná-la a um monte de estrume que, nas palavras de Steiner, pode ser do tamanho de uma casa...  ” A potência radiante é tão forte que nem será preciso misturar o preparado que influenciará inteiramente o estrume”.
 

O leitor atento deverá certamente ter percebido o porquê da bexiga de cervo: A bexiga do cervo se comunica, através dos chifres, como se fossem antenas, às forças cósmicas.

Diferentemente dos chifres da vaca, que trabalham internamente, os chifres do cervo trabalham externamente.

Steiner não fornece uma única prova que seus preparados sejam eficazes e sequer verificou, no campo, esta eficácia.
Preparado 505= pó de casca de carvalho fermentado em cabeça de vaca (pobres vacas...)

Steiner desfila apenas explicações esotéricas de valor mais que dúbio.

Continua, mas por enquanto.... cuidado com os chifres, chifres são valiosos.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

BARBERA "LA MONELLA"


 

 



A mesma história...... Abro a adega à procura de um vinho tinto, sem grandes pretensões, para acompanhar meu frugal jantar e o que encontro?

Importantes Amarone, Barbaresco, Barolo, Brunello, Gattinara..... Nem uma garrafa de Barbera, Freisa, Dolcetto, Valpolicella, Rossese, Grignolino.



São 19 horas, o (mini) supermercado, ao lado de casa, ainda está aberto.

Pensei: “em cinco minutos vou e volto”.

Na prateleira dos tintos muita porcaria barata e nem uma garrafa decente.

Lambrusco de 1,90, Merlot baratos, Bonarda horrorosas, Gutturnio deploráveis.
 

 Um monte de insultos vinícolas que poderiam ser superados, apenas, por insultos ainda maiores:  vinhos gaúchos.

Espere um pouco…. Escondida, em uma prateleira há uma Barbera, “La Monella”, por 8,60 Euros.

Sem pensar duas vezes pego a garrafa, pago e volto célere para casa.

Caminhando recordo a trajetória vencedora de Giacomo Bologna, suas Barbera e da vinícola “Braida”. 
 

Giacomo Bologna morreu em 1990, ainda muito jovem, mas o viticultor de Rocchetta Tanaro, deixou sua marca nas garrafas de Barbera que até hoje frequentam enotecas de Tóquio, São Paulo, New York, Londres, Roma, Pequim etc.

Bologna foi o primeiro a vinificar a Barbera em barrique.

Giacomo, sempre um passo à frente dos outros, percebeu o enorme potencial da Barbera, resolveu apostar no vinho mais popular do Piemonte e resolveu transformá-lo em um sucesso internacional.

Até aquela data o Barbera, vinho mais emblemático da região, frequentava mesas de bares, restaurantes e residências, engarrafado ou não, bom ou ruim, sem que ninguém dessa muita bola para as vinícolas que o produziam.

A Barbera era vinificada e consumida em quantidades hiperbólicas.
 

Bologna, quando resolveu “enobrecer” a Barbera, foi aprender (lógico) como usar a barrique na França.

Os franceses sempre dão algumas dicas, mostram suas adegas, contam suas histórias de seus vinhos, mas o pulo do gato…Nem pensar!

Giacomo, bom e inteligente viticultor, não precisou de muitas “aulas” técnicas.

Voltou para Rocchetta Tanaro e produziu algumas Barbera que fizeram história; a primeira delas e mais famosa, foi a “Bricco dell’Ucellone”.

Hábil comerciante e ótimo marqueteiro, Bologna “seduziu” críticos, jornalistas, sommeliers e seu “Bricco dell’Uccellone”, em pouco tempo, caiu no gosto dos americanos, ingleses, japoneses etc.

Com a fama veio o sucesso comercial e o “Bricco dell’ Uccellone”, uma boa Barbera, mas sempre e apenas uma Barbera, atingiu preços dignos de serem comparados aos praticados pelos produtores gaúchos.

O vinho da vinícola “Braida” ganhou o passaporte para o mundo, mas sumiu das mesas italianas.

Ninguém, na Itália de hoje, é tão idiota de pagar por uma Barbera, por melhor que seja, o preço de um grande Barolo ou Barbaresco.

Barbera é Barbera, o Barolo é um outro discurso.....

O “Bricco dell’Uccellone”, assim como muitos outros vinhos italianos, com preços vitaminados, é consumida apenas por turistas estrangeiros.

Já no nome “La Monella” (a molequinha) revela todo seu jovem e frisante frescor.

“La Monella” no nariz revela aroma de rosas e algumas notas de morango.

Na boca é uma festa para o paladar e um convite para sempre mais um copo.... Um perigo!
 

Toda esta frisante juventude e exuberância, porém, não consegue esconder uma bela estrutura, um bom corpo e uma inesperada maciez.

Quer beber uma boa e jovem Barbera?
 

“La Monella” é a resposta.

Pena que a Expand tenha sumido do mapa e com ela tenham desaparecido, do mercado brasileiro, os vinhos da vinícola “Braida”, mas “La Monella” pode ser encontrada facilmente em qualquer canto da Itália.

Prove

Bacco

domingo, 19 de abril de 2015

VINHOS NATURAIS = VIN DE MERDE III


Não existem vinhos “naturais”!

Sem a intervenção do homem, que planta, cuida, colhe e vinifica, não existiria o vinho.

A natureza não transforma uva em vinho.
 

O que hoje é moda chamar de “Vinhos Naturais” na realidade é, teoricamente, uma técnica de vinificação, menos invasiva por parte do homem, mas, repito, sem o homem não há vinho.

Na busca do bom vinho nunca me preocupei em demonizar ou endeusar esta ou aquela moda, esta ou aquela técnica.

Eu sempre combati o mau uso da barrique, que há até recentemente era a “mãe” de todos grandes vinhos, mas não a barrique.
 

A barrique é, assim como tantos outros, um instrumento utilizado na adega, um auxiliar na vinificação.

Hoje a barrique é a Geni do vinho.

A primeira coisa que o consumidor, (já com um pé na moda dos vinhos naturais) pergunta, é “O vinho é barricado?”

O produtor, coitado, que usa a barrique, tenta esconder o fato: Passagem por poucos meses, barriques velhas, barriques novas, metade em barrique e metade em inox, madeira grande 80% e 20 em barrique....

É o total declínio e demonização da “madeira”.

É a radicalização insensata.

A barrique é apenas um instrumento usado na enologia que pode ser bem ou mal empregado.

Quando bem manejada, a barrique, colabora e muito, para a realização de vinhos ótimos (vide a Borgonha), quando não, como em toda vinificação, os resultados são menos elogiáveis.

O mesmo discurso pode ser aplicado quando se tende a demonizar a moderna enológica considerada demasiadamente invasiva pelos “novos naturalistas radicais”.

A “Geni das Genis” vinícola, todavia e segundo os defensores dos vinhos biológicos, biodinâmicos, naturais, triple A e sei lá mais o que, é o sulfito.

“Vinhos sem sulfitos adicionados, sulfito zero, não uso sulfitos em minha adega, sulfitos provocam dor de cabeça, sulfitos são prejudiciais à saúde... Vade retro sulfitás”

Tá bom, tá certo, concordo, mas e o álcool?
 

O álcool não é, também, prejudicial à saúde?

Vamos produzir vinho sem álcool?

Vinho álcool zero!

Só para que se tenha uma ideia: você sabe quantos produtos alimentares contém sulfitos?

Não posso elencar todos, mas veja quantos mg de sulfitos são permitidos e adicionados em alguns alimentos

                            

·         Vinagre  Balsâmico                                                170

·         Crustáceos                                                            150

·         Bacalhau                                                                200

·         Mostarda                                                               250/500

·         Sucos de fruta                                                       250

·         Frutas desitratadas (uva, pessego, damasco etc.)  2000

·         Bananas secas                                                        1000

·         Maças  e peras secas                                              600

·         Tomate seco                                                           200

Os sulfitos, também, fazem a festa e estão presentes nos cogumelos secos, carnes, embutidos (salame presuntos, mortadelas, copa, salsichas etc.) verduras congeladas, enlatados, hambúrguer, ketchup, balas, biscoitos, maionese, cerveja e mais uma infinidade de outros alimentos,
 

Os sulfitos, presentes no vinho, todavia, são os únicos prejudiciais e provocam dor de cabeça.

Saco!

Vamos colocar assim: No almoço começo com algumas fatias de salame e presunto. Em seguida uma bela salada com verduras proveniente de hortas regadas, quem sabe, com água contaminada. Uma bela macarronada com tomates secos e   azeitonas e finalmente, como prato principal, um belo bacalhau.
 

Para adoçar, o final, algumas frutas secas.

Ingeri, durante o almoço, uma dose cavalar de sulfitos, mas somente as três taças vinho que bebi me causaram dor de cabeça.

Saco, mais uma vez!
 

A bandeira que muitos produtores desfraldam contra os sulfitos é meramente oportunista.

Eles sabem, perfeitamente, que sem sulfitar, os vinhos tendem a oxidar, não envelhecem bem e não raramente apresentam acidez volátil insuportável.

  Vinho sem sulfitos, se não forem produzidos em adegas imaculadas, mais parecidas com esterilizadas salas cirúrgicas, podem apresentar cheiros desagradáveis (não adianta tentar me convencer que o brett é sinônimo de qualidade...)  de estábulo e outros fedores inomináveis.
 

Para terminar, mais este capítulo, quero apresentar, aos nossos apreciadores e defensores dos vinhos “naturebas”, o que a União Europeia permite adicionar aos vinhos “biológicos”.

 

 

"Fosfato diamônico , Decloridrato de tiamina, dióxido de enxofre, bissulfito de potássio, carvão vegetal para uso enológico, gelatina, proteínas vegetais de trigo ou ervilhas, cola de peixe, albumina, Taninos, caseína, caseinato de potássio, Dióxido de Silício, bentonita , enzimas pectolíticas, ácido láctico, ácido tartárico L, carbonato de cálcio, tartarato de potássio neutro, bicarbonato de potássio, bactérias lácticas, ácido L-ascórbico, azoto, dióxido de carbono, ácido cítrico, ácido metatartárico, goma de acácia (goma arábica ), bitartarato de potássio, citrato de cobre, sulfato de cobre, Chips de carvalho, alginato de potássio, sulfato de cálcio ".

 


Beleza de biologia vinícola .......

Não existe “vinho biológico”, há, apenas, agricultura biológica e estamos conversados…. Por enquanto.

Em seguida “Vinhos Biodinâmicos”.

 

terça-feira, 14 de abril de 2015

VINHOS NATURAIS = VIN DE MERDE II


 


Em um bar de Chiavari, na hora do meu aperitivo matutino, pedi ao garçom uma taça de Champagne.

Em estado de graça, naquele dia, resolvi não mencionar a vinícola e deixei para o sommelier a tarefa de escolher a garrafa.

“Prove este Champagne natural. É excepcional!”

 
Agradeci e levei, como sempre faço, a taça ao nariz.

Olhei para o garçom e disse: “Esta garrafa estava guardada em uma fossa? Tem cheiro de tudo, mas não de vinho”.

O sommelier me olhou, com ar de quase indulgência e sorrindo, continuou. “O senhor precisa reeducar seu paladar, seus conceitos! É um Champagne 100% natural e não faz mal à saúde”

Eu argumentei que na minha idade eu gostaria de continuar bebendo os vinhos que me davam prazer e caso precisasse cuidar da saúde beberia agua e não aquela merda de Champagne.
 

Resultado: O sommelier até hoje me olha com um ar de pena e desprezo

A passagem acima sintetiza a quase obrigatoriedade de se seguir, cegamente, a moda dos vinhos naturais que os novos “experts” (ou serão espertinhos?) julgam ser os melhores, únicos dignos de respeito e, pasmem, saudáveis.

Posso dizer, sem medo de ser grosseiro nem agressivo, que sou literalmente uma “velha prostituta” no mundo do vinho.

Uma prostituta tão velha, mas tão velha, que faço uma aposta:  esta nova e enésima especulação comercial vai conquistar muitíssimos eno-idiotas e inúmeras vinícolas aproveitarão o “embalo” para lançar vinhos “naturais” turvos, oxidados, com cheiro de estabulo, fossa, etc.
 

Será a moda do vinho “Sabor Merda”!

 Em pouco tempo aqueles que amavam os vinhos parkerianos, suas barriques, seus pontos, suas super-concentrações etc., abraçarão, com fervor quase religioso, o novo “credo” dos vinhos “naturais”

A volta ao passado sempre acalentou o sonho de muitíssimas pessoas.

O presente nem sempre é agradável, o futuro é incerto, desconhecido …Resta o passado, sobra a nostalgia.
 

Sim, nos anos 50, 60, 70, mesmo para os que não os viveram, éramos mais felizes (nenhuma semelhança com o desejo idiota de trazer os militares de volta....) e não sabíamos.

A música era melhor.

Ipanema tinha sua garota....

Brasília não era circundada por favelas

Em São Paulo não faltava agua

O PT não roubava
 
 

Tempo bom......

 Éramos mais felizes e, especialmente, mais jovens.

Todos amam o “vintage”.

Então, por que não o vinho “vintage”?

Acredito que a moda do vinho “natural” simbolize este nostálgico desejo da volta ao passado onde tudo era melhor, mais natural, mais sadio, mais róseo. 
 

 
Quem teve um Fusca 1.200, um Gordini ou um Aero Willys, sabe que nem tudo era assim.

Será, porém, que os vinhos de antigamente eram realmente melhores, mais saudáveis , mais verdadeiros do que os satânicos e industrializados de hoje?

Eu acredito que no mundo do vinho “natural” há verdades, boas intenções, honestidade, bons produtores, mas muitíssimas picaretagens, também.

Voltando à “velha prostituta”, lembro, com muita clareza, dos vinhos do meu avô.
Muitas garrafas, que o velho produzia, iam para a cozinha do restaurante da família para condimentar as saladas.

  Nem sempre aguentavam o envelhecimento, oxidavam facilmente, exalavam odores estranhos   e, as vezes, se transformavam em verdadeiros vinagres.
 

A enologia, nas últimas décadas, fez progressos extraordinários.

As novas filosofias de produção, modernas técnicas agrícolas, adegas racionais e higiênicas, tanques com temperatura controlada e inúmeras outras modernizações das últimas décadas contribuíram para melhorar a qualidade do vinho que hoje bebemos.

Quem bebeu vinhos dos anos 50 e bebe os de hoje, sabe o que estou tentando dizer: Bebemos vinhos infinitamente melhores daqueles que nossos avós apreciavam.

O resto é balela!

Para terminar, minha primeira intervenção no assunto (há mais duas), quero declarar que não preciso “reeducar” meu paladar para poder apreciar um vinho natural: eu nunca vou gostar de um vinho com cheiro de fossa, cores alaranjadas, oxidação e outras “qualidades” próprias de alguns vinhos “naturais”.
 

Antes que me atirem pedras gostaria de dizer que a matéria continua e com algumas surpresas.
 
Bacco