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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

OS BAGOS ESTÃO DE VOLTA





Thales não demorei duas semanas fazendo minuciosas pesquisas para poder responder aos seus comentários.

Luto, em família, me obrigou retornar para o Brasil às pressas e não tive tempo e muito menos cabeça, para concordar ou discordar de suas observações sobre o Romanée-Conti.

Relendo seus comentários pude perceber que uma simples matéria, em que eu revelava uma pesquisa da SLOWINE, provocou uma polémica longa e sem nexo.

 Acho que você quis transformar o interessante, mas superficial post, em uma disputa de conhecimento, em uma fogueira de vaidades.

Apareceram Climats, Lieux-Dits”, Jaques Prieur, George de Vougé, Première Cru, Village etc.

Demonstração e ostentação de “completo” e rico domínio da Borgonha.

Uma pá de cal que me colocaria, finalmente, “em meu devido lugar”.

Esforço inútil! 

A SLOWINE, na ocasião, afirmava que um bago, da famosa Domaine, custava 16 Euros.

“Il vino è una materia molto strana, soprattutto se la si guarda con occhio puramente economico…

Cominciamo con il dato più sbalorditivo. Vi siete mai chiesti quanto costi un acino di pinot noir proveniente dal grand cru Romanée-Conti del Domaine de la Romanée-Conti?

Circa 16 euro, e stiamo parlando di acino non di grappolo. (Il calcolo è stato fatto in base a una quotazione media della bottiglia di circa 8.000 euro e il peso di un acino medio di pinot che è di 2 grammi).......”


Um simples bago, corrigido em 25%, provocou uma catilinária desmedida e descabida.

 Acredito que você deve ter perdido um bom tempo consultando o Google, viajando para Berkeley, Revigliasco Torinese, Londres, Berlim etc. para encontrar bagos mais baratos.

Encontrou?

E daí?

Vou propor uma trégua: Um bago por 17 Euros está de bom tamanho?

Caso você concorde esmagamos os bagos e selamos a paz.

Uma frase, em um comentário, porém, continua me incomodando:

 Ao ler o seu post, pude perceber que você precisou de 2 semanas para me dar a resposta e ainda se equivocou. Como eu tenho pressa e sei o que falo, estou lhe respondendo imediatamente”.

É fácil deduzir que você acreditou ter me colocado em xeque e que minha demora, em responder, foi provocada por longas pesquisas e reflexões.

Nada mais tolo, mais pueril.

Sua afirmação denota soberba, imodéstia e onisciência em doses preocupantes.

Thales, você não é nada disso, você certamente conhece a Borgonha, mas conhece muito mais o Google.

É bom lembrar que beber ou ter amigos que bebem Romanée-Conti, como se fosse agua mineral sem gás, não é fator determinante para ser reconhecido como uma sumidade vinícola.

Os “bebedores” de Romanée-Conti são, em sua maioria, corruptos, ladrões, novos ricos, exibicionistas, babacas.

As vezes as “qualidades” acima se revelam separadamente ou em um único pacote.

Há, logicamente, uma pequeníssima parcela de verdadeiros apreciadores que não aparece, não divulga, detesta holofotes e que, na maior discrição, bebe os rótulos mais exclusivos do planeta.

Não é o caso dos leitores de B&B.

Gostaria, também, de lembrá-lo que não necessito de ajuda para descobrir endereços onde possa encontrar vinhos da Romanee-Conti ou Dents-de Chien; na Itália há internet e em todos os cantos e o Google é oferecido em italiano, também.

Caro Thales, meu interesse por vinhos Romanée-Conti, Henri Jayer, Georges Roumier, Coche-Dury etc. é zero.

Viajo para a Borgonha 5 ou 6 vezes por ano e o vinho mais caro que comprei, por lá, foi um Montrachet de 200 Euros.

Vinhos? 

Eu não guardo como troféus.

Uma dose menor de arrogância tornaria seus comentários, sobre bagos, mais interessantes e menos pedantes.

Bacco

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

NORTE X SUL



O leitor “pesticida”, em seu comentário, traz uma interessante indagação

Vejam

Ciao, Pestes.

Essa conversa de produtor honesto colocou meus 6 neuronios em exercicio. Ha alguma correlacao no mundo do vinho italiano entre a latitude e o indice de honestidade do produtor (nao so em termos de preco, mas na maneira como sao feitos os vinhos)?

Me explico: Secondo me e o restante da populacao da terra ha o fato que diz quanto mais localizado ao norte do pais menos trambique ha (notar que escreo menos trambique e nao mais honestidade) na sociedade desse local.

Com seus varios anos de vivencia na zona rural italiana, secondo voi, essa correlacao FORTE tambem se aplica aos vinhos? Os produtores sicilianos seriam uma representacao da sociedade mais trambiqueira da regiao? Os da Puglia? E os produtores que fazem fronteira com a parte mais germano-seria da europa? Seriam os mais corretos?

Não quero, nem pretendo, fazer uma análise das diferenças culturais, econômicas, comportamentais etc. entre o sul e o norte da Itália.

O sul da Bota, desde sempre, sofre com problemas que parecem insolúveis e amargando uma posição de inferioridade quando e se comparado ao rico e industrializado norte do país.

As cinco melhores cidades, para se viver na Itália, (melhor qualidade de vida) são todas localizadas no norte: Ravenna, Trento, Modena, Belluno, Reggio Emília.

As cinco piores se encontram, todas, no sul :Agrigento, Reggio Calabria, Foggia, Caserta, Taranto.

Renda per capita: Lombardia (norte) = 36.300 Euros

Calábria (sul) 15.500 Euros ..... e por ai vai.
 

Há algumas compensações: a vida, no sul, é mais barata, as pessoas mais acessíveis (as vezes até demais…) come-se maravilhosamente bem, bebe-se idem, e as regiões meridionais são verdadeiros paraísos turísticos.
 

A corrupção no sul é mais perceptível, mais visível e a civilidade deixa a desejar; o sul é mais “jeitinho”.

Quando a picaretagem atinge o mundo do vinho, todavia, o norte é o campeão.

Os maiores escândalos:

Metanol no vinho: Falcatrua criminosa (23 mortes) ocorreu no Piemonte e no Véneto (norte)
 

Brunello falsificado com Cabernet e Merlot: As vinícolas envolvidas, todas na Toscana (centro): Casanova di Neri, Banfi (americana), Frescobaldi, Antinori etc.
 

Amarone falsificado: falcatrua arquitetada pela Dessilani (centenária vinícola de Fara no Piemonte).
 

Falsificação de Romanée-Conti, em Fara (outra vez) patrocinada por dois italianos e um francês.
 

No sul há também muitas picaretagens, mas não tão graves.

No mundo do vinho há falcatruas em todos os países produtores.

O único país sério, probo, exemplo de ilibada reputação vinícola, onde nunca foi descoberta uma picaretagem, é o Brasil.
 

Será fruto de proverbial seriedade ou total falta controle?

Dionísio

 

 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PENSIERO


 


Se um dia tiver que listar os 20 melhores vinhos brancos, já bebidos, o “Pensiero” de Valter Bosticardo estará na relação.

Antes de falar do grande vinho de Bosticardo é necessário retroceder alguns séculos e conhecer as grandes dificuldades encontradas pelos pioneiros na vinificação do “Moscato Metodo Classico”.
 

 Em Canelli, em 1895, nascia, pelas mãos dos irmãos Gancia, o primeiro espumante italiano: “Moscato Champagne” (qualquer semelhança com a gaúcha Peterlongo, que produz o único Champagne fora da Champagne, é mera coincidência...).
 

Carlo Gancia, para poder realizar seu sonho, foi morar em Reims, trabalhou na Piper-Heidsieck, aprendeu com os franceses (sempre eles...) os segredos da espumantização, voltou à Itália e começou a produzir os espumantes com uva Moscato.
 

Meu avô,  no final dos anos 1930, trabalhou em uma adega da região que produzia espumantes
 

O velho Nino contava, para os netos, que todos os funcionários da vinícola, para não se ferirem, muitas vezes gravemente, com as constantes explosões das garrafas, vestiam espessos aventais de couro e máscaras de ferro parecidas com as usadas nas competições de esgrima.
 
 



“Eram explosões assustadoras. Bastava a temperatura subir que começava a guerra....” (ele havia lutado na guerra de 1915/1918).

O “Asti Metodo Classico”, quando engarrafado, atinge entre 6 e 9 atmosferas.

  As garrafas, mais espessas que as normais, são testadas para suportar até 15 atmosferas.

Para dar uma ideia da enorme pressão, presente nas garrafas, bastaria lembrar que a calibragem ideal para os pneus da “Ferrari California” é de 2,2 atmosferas.

A tecnologia já mitigou e quase eliminou o “bombardeio” nas adegas dos produtores de “Asti Metodo Classico”, mas Bosticardo confessa que em sua primeira experiência, para produzi-lo, penou e muito.


 

“Na primeira tentativa, sem a câmara frigorífica e quase por brincadeira, resolvi vinificar o espumante em um “crotin” (antigas adegas escavadas no subsolo das casas do interior) bem frio. Em um único dia 50% das garrafas explodiram como bombas. Fiz o degorgement, daquelas que sobraram, em um freezer, tampei manualmente e levei uma garrafa para Guido em Costigliole (1). Guido provou, gostou, comprou todo o meu estoque e me incentivou a produzir novamente. Sem a “força” de Guido não teria continuado a vinificar o “Pensiero”.

Valter revela, aos poucos, a “luta” para produzir o seu espumante método clássico: “Utilizo apenas uva Moscato das vinhas de minha propriedade. A uva deve ser muito rica em açúcar e outras substâncias. Por esta razão a vindima é tardia assim consigo quase 15ºde álcool. A prensagem é suave, a decantação do mosto é estática, as filtragens são no mínimo 4 e a conservação é feita em câmaras frigorificas.

No verão sucessivo à vindima realizo a tiragem com garrafas especiais (testadas até 15 atmosferas) e com leveduras autóctones que o Moscato preservou e nada mais. Engarrafo com cerca 130-140 gramas de açúcar residual sem adicionar absolutamente mais nada.

A estocagem das garrafas, sempre eretas, acontece em locais muito frios para desacelerar a fermentação.  Quando o vinho atinge 6 atmosferas e 8º de álcool diminuo ainda mais a temperatura para evitar explosões.

O “remuage” é manual sobre pupitres e dura 40 dias.

O “Pensiero” tem uma evolução incrível: estou vendendo o “Millesime” 1991 com “degorgement realizado em 1996. Todos aqueles que o experimentam ficam boquiabertos com este Moscato que, mesmo depois de tantos anos, conserva um formidável frescor”.

Sou um feliz e raro cliente de Valter que ainda guarda na adega 3 garrafas de seu “Pensiero 1996”.
 

Tentei, nem sei quantas vezes, “decifrar” os aromas do “Pensiero” e confesso jamais ter conseguido.
 

A cada momento há novos odores, que se sobrepõem aos anteriores,

Quando acho que percebi o grapefruit, aparece o damasco, que deixa espaço para o mel que vai sumindo com a chegada do........

Deveria, eu, ter o nariz privilegiado do Beato Salu, do Marcelinho Flatulential, do Secondo me Bilu Didu Teteia ou de outro “sabujo” de nossa critica vinícola para poder captar todos os aromas, mas infelizmente sou um simples e mortal ser humano.

Recomendo, aos que visitam o Piemonte, um pulo até “La Tenuta dei Fiori” para comprar algumas garrafas de “Pensiero”.

Não se preocupe com o valor das últimas garrafas: Bosticardo, que é um viticultor honesto e correto, vende a primeira e a última garrafa pelo mesmíssimo preço: 25 Euros.

Bettu, para ser um grande viticultor , não basta comprar o “Gamba di Pernice” , é preciso saber vinificar.

  
 

Bacco

PS. Em nosso último encontro Bosticardo me confidenciou: “Vou vinificar o “Pensiero” mais uma ou duas vezes”

Perguntei o porquê

Valter respondeu: “Não tenho mais tempo ,15 anos são muitos....”

1) Guido Alciati e sua mulher Lidia , grande cozinheira, foram, durante muitos anos e até a morte de Guido,  proprietários de um dos melhores e mais premiados restaurantes italianos, em Costigliole.

 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ACREDITE , SE PUDER....TEMOS FÃS NAS VINÍCOLAS DO SUL


 

Calosso, aldeia pendurada no topo de uma íngreme colina, não é parte da província de Cuneo.

 As vinhas de Calosso pertencem à província de Asti e apenas algumas centenas de metros as separam do famoso território dos Barolo e Barbaresco.
 
 

Poucos e modestos restaurantes, nenhum bar digno de nota, raras atrações, Calosso, definitivamente, não faz parte das rotas turísticas da região.

Calosso oferece aos visitantes, que se aventuram pelas estradas tortuosas e estreitas que é preciso percorrer para alcançá-la, apenas a belíssima vista de seus infinitos vinhedos, um centro histórico muito bem conservado, e a excelência de seus vinhos
 

Calosso não é uma meta turística obrigatória, mas em seu território dois grandes vinhos chamam a atenção dos enófilos refinados: Moscato e Gamba di Pernice.

O Moscato D’Asti, com quase 100 milhões de garrafas produzidas, não precisa de apresentação, mas o Gamba di Pernice, com números bem mais modestos, é quase desconhecido na própria Itália.
 

B&B, na incansável busca de bons vinhos, “descobriu”, há quase quinze anos, o Gamba di Pernice e o divulgou largamente através de um sem número de matérias.

O “Gamba di Pernice” é uma das raras castas que sobreviveram à filoxera e suas vinhas cobrem, aproximadamente, 7 hectares.

Suas 20/25 mil garrafas são produzidas por meia dúzia de sonhadores

O grande-pequeno vinho alcança sua expressão máxima na adega de um de seus “redescobridores”: Valter Bosticardo.
 

Em recente data (2011), Valter e um punhado de viticultores locais, que também acreditaram e investiram muito no Gamba di Pernice, foram recompensados com a DOC finalmente concedida ao Gamba di Pernice: “CALOSSO DOC

Muitos leitores de B&B, que acreditam em nossas escolhas vinícolas, já visitaram Valter Bosticardo em sua belíssima “Tenuta dei Fiori”, e lá puderam beber e adquirir seus grandes vinhos.

Sim, grandes vinhos e não apenas o Gamba di Pernice.

O Gamba di Pernice, que Valter não vende nem por decreto antes de quatro anos de afinamento (2 anos em inox e mais 2 em garrafa), não é seu único “milagre”.

 Bosticardo vinifica o mais incrível Moscato “Metodo Classico” que já provei: Pensiero” 
 

O “Pensiero”, prometo, será alvo de minhas atenções na próxima matéria.

Alguém deve estar se perguntando “Pô, outra vez o Gamba di Pernice? Está faltando assunto?”

Nada disso.....

Veja a foto abaixo.
 

A foto revela que Vilmar Bettu, que tenta vinificar com seriedade (será que conseguirá um dia?)  no sul do Brasil, é mais um fiel leitor e segue as dicas de B&B.

A primeira e certamente a única fonte que revelou a existência de Valter Bosticardo e seus vinhos, foi B&B.

É louvável que o Bettu tenha visitado um grande viticultor ou apenas comprado uma de suas garrafas de Gamba di Pernice.

 Em seus 5 hectares, na “Tenuta dei Fiori”, Bosticardo consegue resultados extraordinários sem aumentar seus preços a cada garrafa que vende.
 

 Espero que o “mago do vinho nacional “tenha aprendido alguma coisa com Valter (seriedade nos preços, se possível) que possa ser incorporada às suas garrafas.

Espero, também, que o Bettu tenha ficado constrangido e envergonhado ao saber que o Gamba di Pernice 1990, que orgulhosamente segura na foto, mesmo depois de 25 anos de envelhecimento, custa 12 Euros.

Se o Tannat 2002, do nosso químico aposentado, custa, hoje, R$ 750 quanto custará (ou custaria) em 2027?
 
 

Tomara que o Gamba di Pernice, não seja o último vinho bom e barato que faça envergonhar as longas madeixas do Vilmar.

Em sua próxima viagem à região peço permissão para indicar os seguintes vinhos e produtores:

Grignolino “Il Ruvo” Castello di Gabiano.

Timorasso Claudio Mariotto

 Ruchè Scarpa

 Freisa Scarpa

 Lessona Sella

 Gavi “Fornaci di Tassarolo” Chiarlo

 Pelaverga Alessandria,

 Carema Cantina dei Produttori.

Todos os vinhos elencados custam 5/12 Euros.

Se quiser mais indicações é só pedir......

Espero que um sorridente Bettu apareça, em sua próxima foto, segurando uma garrafa de seu Nebbiolo ou Tannat com umas etiquetas indicando o preço: R$ 19,80.

Impossível?

Será que turma do Vinho do Brasil, Ame-o ou Deixe-o acredita que o Tannat do Bettu é superior ao Gamba di Pernice do Bosticardo?
 

Não me façam rir......

Dionísio

PS. Escrevi ,mas todas as dicas me foram repassadas por Bacco.

 

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

LIQUIDAÇÃO: BAGO DE 20 POR 16 EUROS. APROVEITEM!



 
 
Recebemos um comentário que, por sua importância, merece um contra comentário.

 

1. 
 
 
 
 

Prezado Bacco e Bocca,

Sou leitor assíduo deste blog e comumente compartilho o mesmo ponto de vista apresentado nas matérias publicadas aqui, mas não é o caso em relação aos dois últimos posts. Primeiro, o preço médio no mercado SECUNDÁRIO de uma garrafa de Romanée - Conti gira em terno de 10 mil euros (diferente dos 15 mil citados na matéria anterior), enquanto uma garrafa de Montrachet custa em média 3.200 euros ( já mais próximo ao valor de 4 mil citado na outra publicação). Analisando ainda os preços do mercado secundário é possível conseguir adquirir estes vinhos em lojas CONFIÁVEIS por preços bem menores, como é o caso do Montrachet 2011 (última safra lançada pela DRC) pelo preço de 1.773 euros na loja Premier Cru em Berkeley - CA, já o Romanée - Conti 2011 sai por 5.725 euros nesta mesma loja.

 Pude perceber que Thales precisou pesquisar, e muito, para conseguir preços menores daqueles que eu indiquei.

Thales encontrou, em Berkeley, Romanée-Conti por míseros 5.725 Euros.
 

O problema é que Berkeley não é um centro turístico que visito com frequência e ir até lá, somente para comprar uma garrafa de vinho, não me parece decisão muito inteligente.

Vejamos: Eu estou em Mâcon, Beaune ou Alba e resolvo comprar uma garrafa de Romanée-Conti.

Procuro em diversas enotecas da cidade e não encontro o vinho por menos de 15.000 Euros (ano passado procurei em Beaune, para um amigo de um amigo, e o preço mínimo, naquele dia, era de 17.000 Euros).

O proprietário da enoteca me confidenciou que o preço estava assim inflacionado, pois, na semana anterior uma invasão russa havia limpado o estoque.

 Não encontro, mas não me rendo!

Consulto o Google e depois de várias pesquisas, em Berkeley, na Califórnia, encontro uma loja que vende o Romanée-Conti por míseros 5.725 Euros.

Sim, mas Berkeley dista quase 10.000 km de Mâcon...

 E agora, o que faço?
 

Pego três ou quatro aviões, chego finalmente em Berkeley, compro a garrafa, provavelmente falsificada, e retorno feliz para o Brasil?

É uma “pechincha”, mas no frigir dos ovos (ou bagos) quanto gastei?

Respostas, por favor.....
 

 

Após feito a análise dos preços no mercado secundário, vamos realmente ao mercado PRINCIPAL e o preço VERDADEIRO destes vinhos.
A DRC vende os seus vinhos através de um "mailing list" e um sistema de cotas. Normalmente existe um importador oficial em cada país (não lembro de nenhum que haja mais que um) e estes importadores recebem uma determinada quantidade de garrafas e revendem para uma seleta lista de clientes. O importador no caso da Itália (país onde acredito que vc reside) é a SAGNA SPA, nos EUA é a Wilson and Daniels, na Inglaterra a Corney and Barrow, no Brasil a Expand e assim vai. Vamos pegar o exemplo da Corney and Barrow da inglaterra, o preço de um RC 2011 é de 1825 Libras Esterlinas a garrafa ou 5.475 Libras Esterlinas em uma caixa de 3 garrafas, ou seja, 4 vezes mais barato que no mercado secundário. Para fazer parte desta seleta lista das importadoras, vc deve ser um grande comprador dos vinhos da DRC e da Borgonha em si durante décadas
.

Na mosca!

A vinícola Romanée-Conti somente vende para os mesmos importadores, ou para alguns tradicionais e fieis clientes, há décadas.

O Thales esqueceu um pormenor: A Domaine Romanée-Conti não vende, nem para o arcanjo Gabriel, somente o Romanée-Conti.

Para cada 12 garrafas, do mítico vinho, a vinícola “empurra” 50 outras etiquetas da Domaine.

 Se o importador chiar.... chia uma única vez.

 

Ou seja, as pessoas que compram estes vinhos conhecem muito bem o que estão comprando e sabem identificar o que estão bebendo e passam longe do que vc disse ( Bacco e Bocca : " É bom salientar que 99,99% dos que compram o Romanée-Conti, ou um Montrachet da mesma Domaine, não sabem identificar o que estão bebendo" ). As pessoas que sei que fazem parte destas listas, são grandes conhecedores e facilmente identificam os vinhos da DRC as cegas. Além de muitos não tratarem estes vinhos como questão de status, quando adentraram a lista, os valores e a fama da DRC e de outros produtores da borgonha em geral eram completamente diferentes.

 

Caro Thales, quantas garrafas produz a Domaine de Vosne-Romanée a cada safra?

Nas colheitas de 2001 até 2010 foram produzidas 45.084 unidades.

O número aponta para uma média anual de pouco mais de 4.000 garrafas.

Se 4.000 garrafas forem divididas entre 1.000 fieis clientes e fácil deduzir que nossos afortunados milionários poderão degustar 4 unidades/ano.

Se os afortunados fregueses forem 2.000, apenas 2 garrafas/ano descerão pelas sofisticadas goelas.

O Romanée-Conti nunca é bebido na mais triste solidão.
 

O Romanée-Conti é sempre compartilhado para que se possa, justamente, exibir poder, bom gosto, riqueza, sofisticação e, não raramente, idiotice.

O que quero demonstrar é que 2 ou 4 garrafas por ano não bastam para habilitar um paladar, por mais refinado que seja, a reconhecer, às cegas, nenhum vinho, nem mesmo o Romanée-Conti.

 

 
É bom salientar também que a DRC é totalmente contra a política de preços praticada no mercado secundário. Eles querem que seus vinhos sejam consumidos e não virem troféus, e para isso eles tomam diversas ações. Uma dessas ações é que ao comprar alguma garrafa, o cliente aceita um termo da importadora em que diz que caso ele queira vendar alguns destes vinhos dentro de um determinado prazo, ele terá que oferecer primeiramente a garrafa para a importadora recomprar a mesma, caso ele não faça isso ele perde a sua cota de garrafas no próximo ano. Isso ajuda controlar o mercado secundário e há realmente algumas fiscalizações e rastreamento do número de série
.

 

Quando se abre o site da Domaine de La Romanée-Conti, salta aos olhos a advertência da vinícola para o perigo de falsificação que ronda, sem piedade, suas garrafas.
 

Thales, vimos que pouco mais de 4.000 garrafas são produzidas anualmente pela Domaine cujo destino é sempre o mesmo: Revendedores autorizados e clientes antigos e fieis.

Não sei se você conhece Brasília, mas posso afirmar, com absoluta certeza, que na capital do Brasil há inúmeros restaurantes que ostentam em suas cartas o Romanée-Conti.

Além dos restaurantes algumas enotecas vendem Romanée-Conti e são muitas as adegas privadas que escondem em suas entranhas garrafas e mais garrafas de precioso vinho.

Posso afirmar, com absoluta certeza, que em Brasília há centenas de garrafas de Romanée-Conti.

Já imaginou quantas garrafas há em São Paulo, no Rio, em New York, Londres, Paris, Roma, Moscou, Pequim, Tóquio, sem falar que até em Chiavari, na enoteca Defilla, há uma boa quantidade de garrafas de Romanée-Conti armazenadas?

Já pensou quantas existem nos restaurantes “Estrelas Michelin” espalhados pelo mundo?

 Uma informação: Há, espalhados pelo mundo, 2.604 restaurantes ostentando a estrela Michelin.

Não ouso arriscar e tentar adivinhar quantas garrafas de Romanée-Conti há nas adegas dos “estrelados”, mas, só para dar uma ideia, garanto que no “La Ciau del Tornavento”, na pequena Treiso, há mais de uma dúzia delas estocadas.

De onde surgem tantas garrafas?

Da mesma fonte de onde saem centenas de milhares de “Ralex”:  falsificação.

Thales, quando um produto atinge preços estratosféricos a falsificação aparece e nunca mais desaparece.

É bom lembrar que falsificar uma garrafa de vinho é quase uma brincadeira de criança (até na Serra Gaúcha falsificam vinho nacional).

  Quando a garrafa se transforma em um troféu, que deve ser exibido e não bebido, a falsificação, então, é uma moleza.

Para terminar: Há muito mais “Romanii-Konti”, do que Romanée-Conti, espalhados pelo mundo.
 

Dionísio

PS. Corrigindo: pela quantidade produzida de garrafas de Romanée-Conti, os enófilos que poderiam reconhecer, às cegas, o vinho original, passa de 0,01% pra 0,0000001%
 

Salute.