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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

COMPRAS NA BORGONHA


 2014 chegando ao fim.
 
Resolvi visitar os produtores da Borgonha para honrar um compromisso: retirar as garrafas reservadas no ano anterior.
 
 
 
 

O “honrar o compromisso” não significa, caso não seja cumprido, que as garrafas permanecerão mofando nas adegas dos viticultores é, na verdade, uma minha garantia de que nos próximos anos eu continue a fazer parte do seleto clube de compradores.

 Em 2014 não foi diferente.

Apesar do frio, da chuva e do Dionísio, que encheu meu saco durante toda a viagem, antes de escurecer estacionei o carro no quintal do B&B “La Cadolle”, em Bouze-Les-Beaune, um dos meus endereços favoritos na região.
 

Uma chuveirada, rápida troca de roupas e.… poucos minutos depois estávamos bebericando e relaxando no, cada vez melhor, “Bar a Vin 66” na Place Carnot, em Beaune.

E por falar em Place Carnot: se sentir fome fuja, como donos de empreiteiras correm do juiz Moro, do restaurante “Le Goumandin”.

“Le Gourmandin”, que no passado foi um local com cozinha razoável, hoje é a maior porcaria de Beaune e arredores.

No dia seguinte começamos nosso “Via Crucis” vinícola.
 

Se você acha que é fácil comprar, determinados vinhos, na Borgonha, está muitíssimo enganado.

Quer uma prova?

Tente comprar uma, apenas uma, garrafa de Criots- Bâtard-Montrachet do produtor Hubert Lamy em Saint- Aubin e depois me escreva relatando o que aconteceu.

Vou poupar a sua viagem....

Nem com a recomendação de Thomas Morey, amigo do Lamy, consegui comprar uma única garrafa de seu Criots.

Aliás, após tocar insistentemente o interfone e mencionar o nome do Morey, a “gentilíssima” senhora Lamy, sem abrir a porta da vinícola, me comunicou que todas as garrafas de Criots-Bâtard-Montrachet já estavam reservadas e as vendas encerradas ... “je suis désolé”.

Eu também....

Começamos a “colheita” na vinícola “Thomas Morey” em Chassagne-Montrachet.

Os Morey estão radicados em Chassagne-Montrachet desde o século XVII.
 

 Thomas, décima geração de viticultores da mesma família, após trabalhar 12 anos com o pai, resolveu, em 2006, fundar sua própria vinícola.

Em 2007 Thomas e Sylvie, sua esposa, colocam no mercado sua primeira etiqueta: “THOMAS MOREY” Viticulteur a Chassagne-Montrachet.

A “Domaine” de Thomas se estende por 9 hectares nos municípios de Chassagne-Montrachet, Saint-Aubin, Puligny-Montrachet, Santenay e Beaune.

A produção da “Thomas Morey” é composta de vinhos tintos (35%) e de brancos (65%).

A “Thomas Morey” pode se orgulhar de todos seus vinhos, mas o “Les Dents de Chien” e “Vide Bourses”, ambos 1er Cru, merecem maior atenção.
 

Quem não realizou, ainda, uma viagem à região, poderá, através de mapa dos vinhedos da Chassagne-Montrachet, encontrar facilmente os dois crus.

Os 6.376 m² do “Les Dents de Chien” confinam com o “Montrachet”, o mais famoso (e mais caro) dos “Grands Crus” e os 1,4 hectares do “Vide Bourse” estão grudados ao, também, mítico “Bâtard-Montrachet”.

Antes de continuar preciso informar que Thomas não é proprietário de 6.376 m² no “Les Dents de Chien” e nem de 1,4 hectares no “Vide Bourse”.

A metragem, acima, indica o total da área plantada e pertence a outros “vignerons”, também.

Exemplo: Os produtores, que possuem parcelas no “Les Dents de Chien”, são 5.

Partindo do pressuposto que os 6.376 m² sejam divididos proporcionalmente, cada produtor colherá suas uvas em menos de 1.300 m2.
 

O disciplinar permite, para os vinhos brancos “première cru”, uma produção máxima de 62 hectolitros.

Feitas as contas, grosso modo, cada “vigneron” etiquetará 800/850 garrafas por vindima.

Deu para perceber o porquê da dificuldade em se conseguir uma garrafa de “Les Dents de Chien”?

O mesmíssimo discurso pode ser aplicado ao “Vide Bourse” e seus 1,4 hectares.

Sem telefonar, na maior cara de pau, Dionísio e eu, pouco antes do meio dia, batíamos na porta da vinícola “Thomas Morey”.

Longos minutos de espera

“Acho que estão trabalhando nas vinhas...”.
 

Já entrando no carro, resignados e programando a visita para mais tarde, vimos Thomas abrindo a porta de sua residência,

Thomas me reconheceu, cumprimentou e nos acompanhou até a sala de degustação.

Aí, começa o drama!

Thomas, inteligentemente e como todos fazem, iniciou a degustação com seu “Village”, seu Chardonnay base.
 
 

Boca limpa, nada de chiclete, bala ou café, o vinho base do Morey, apesar de jovem (2013) passou pela língua e paladar com uma elegância inimaginável.

Dionísio, afoito, já queria comprar,

“Espere um pouco.... há mais vinhos para provar”

Dionísio recolheu a carteira imediatamente.

O Thomas foi num crescendo até chegar ao “Les Dents de Chien”, motivo primeiro de minha visita.

O “Les Dents de Chien” 2013 obviamente não estava pronto.

Muito jovem!

Potencial enorme, mas por ser um vinho de maior complexidade e importância não se apresentava ainda pronto como o “Village” anteriormente degustado.
 

Madeira muito presente e notas amanteigadas evidentes, indicavam a necessidade de, pelo menos, mais 3/4 anos de afinamento.

Thomas Morey já havia separado nossas encomendas, quando, “milagre, milagre”, consegui convencê-lo a me vender 3 Dents de Chien 2010.
 

Antes de fechar a conta, Thomas abriu uma garrafa.

“Vamos beber este “Vide Bourse”.

Uma pausa.

Já provei Montrachet, Bâtard-Montrachet, Criots-Bâtard-Montrachet, Chevalier-Bâtard-Montrachet, Bienvenue-Bâtard-Montrachet, Les Champs Gain, La Maltroie, En Cailleret, Les Pucelles, Les Perrières, Corton Charlemagne, Les Folatières, e mais uma dúzia de outros grandes brancos locais, mas nunca e nem ouvira falar do “Vide Bourse”.

Bacco

Continua.......

 

28 comentários:

  1. Nao sei onde aprendi essa...mas fico com o "borgonha he 10% business e 90% pe na roça (farming no original) enquanto bordeaux he o contrario exato".

    Tenho inveja de poucas coisas na vida, mas essas viagens que voces fazem ha muitos anos sao do kct.

    Voltei de ferias de MG hoje onde estava tudo seco, estradas lotadas, mulher gripada, e um porco mal passado na geladeira me esperando.

    Quer trocar?

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    1. Depende . O porco mal passado me seduziu....Quanto vc quer de volta?

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  2. Vale a pena mesmo implorar vinhos para os "arrogant frog"? Eu fico com as outras centenas de ótimos vinhos disponíveis nas boas lojas de beaune e cercanias !

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  3. Se vc deseja beber vinhos raros , exclusivos e excepcionais , vale. Estou falando de vinhos cuja produção é mínima . Vc pode ficar com as outras centenas de ótimos vinhos , que também conheço e bebo, mas não conhecerá Dents de Chien. Mais uma coisa "sapos arrogantes"? Nunca foram arrogantes comigo , sempre gentis apesar da dificuldade de comunicação. Agora, chegar no Thomas , que produz 800 garrafas e esperar que tenha 24 pra lhe vender, é sonho ou muita sorte.

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    1. Brasileiro não sabe ouvir "não", ou respostas diretas. Por isso acha arrogantes os argentinos, franceses e outros povos que são diretos. Eu nunca tive problema com franceses. Pelo menos os que conheço, são muito educados.

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    2. O povo de Paris para mim continua insuportavel. Um monte de brasileiro, argelino, marroquino que somente por falar frances se acha frances e acaba de vez com a reputacao deles.

      Eu sempre sou bem tratado por frances legitimo, faco maior esforco para falar porcamente a lingua (fica ridiculo) antes de ceder e falar outro idioma que entendam.

      No interior da franca ate pouco tempo achavam brasileiro o maximo. Acho que sao doidos.

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    3. Na mosca! As grandes capitais europeias foram invadidas por estrangeiros que aproveitam e usufruem a qualidade de vida local sem esquecer todas as mazelas de suas origens . Deu no que deu...
      Dionísio

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  4. Eu acho louvável essa saga através de vinhos "raros", mas a verdade é que estes "raros" vinhos degustado as cegas com outros Borgonha brancos grand cru disponíveis nas boas lojas de beaune e região não se destacariam muito. Talvez entre em vinhos brancos de estirpe ficariam em quinto ou sexto talvez. Quem sabe não se realiza essa experiência interessante

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    1. Vamos por etapas. Vc já bebeu os "raros" para poder afirmar que não se destacariam às cegas com outros Borgonha brancos grand cru ?
      Mais uma coisa: O Vide Bourse e o Les Dents de Chien não são grands crus.
      Mais outra: Os grands crus custam o triplo ou mais nos vignerons , nas lojas, então.... nem pensar

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    2. "mas a verdade é que estes "raros" vinhos degustado as cegas com outros Borgonha brancos grand cru disponíveis nas boas lojas de beaune e região não se destacariam muito"

      Pô, um cara que já sabe A VERDADE sem nem mesmo ter provado os vinhos (afinal, se tivesse provado não teria perguntado se vale a pena ou não comprá-los, já saberia a resposta) é um ativo de valor inestimável para a sociedade.

      Deveria estar resolvendo crimes, curando doenças, acelerando as pesquisas científicas! As aplicações para esse tipo de habilidades são ilimitadas!

      Pare de perder tempo respondendo blogs e vá salvar o mundo, caro Eduardo!

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    3. sensacional!

      não sei se gosto mais dos postos ácidos ou das dicas de viagens, mas em ambos os casos eu fico sempre ansioso pra ver os... comentários!

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    4. A leitura dos posts é muito divertida mesmo, um plus do blog. O Eduardo tem sua função, rs, a de chato de plantão!

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  5. Eu trouxe da Borgonha algumas garrafas de chardonnay do Domaine Marc Morey et Fils, também de Chassagne Montrachet, que me agradaram muito. Algum parentesco com o Thomas?

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    1. deve ser tudo parente. Morey me lembra aquele filme "a year in burgundy". Esse Thomas é o que do Michel Morey? abs

      ps: compartilho com o JR a "admiração" (leia-se, inveja) pelas viagens. Um dia... ah, um dia...

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    2. Eu conheci todos eles quando Morey lá.

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  6. O Thomas tem um irmão Vincent.O pai dos dois é o Bernard Morey. O Marc deve ser parente ,mas de outro ramo da família.

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  7. Exatamente. Essas comparações por "achismo" são piores que o gov.dilma

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  8. Consegui na Europa dois dents de chien premier cru do Hubert Lamy, ainda não abri, porém estes vinhos estampam no rótulo a descrição les murgers, enquanto outros vinhos que comprei também dents chien não tem essa denominação, mas são premier cru também. Gostaria de uma breve explicação sobre, se for possível? O preço que paguei, depois eu conto? Onde comprei...

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    1. Ha duas denominações de Dents Chien . Uma é de Chassagne-MOntrachet (Dents de Chien) e a outra é de Saint Aubin (Les Murgers de Dents de Chien) e ambas são 1er cru

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  9. Alguma preferência quanto as duas denominações? Diferenças entre elas? Desde já, agradeço o retorno.

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    1. É difícil responder...Depende do gosto de cada um e do produtor. Eu prefiro o Chassagne-Montrachet Dents-de-Chien

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  10. Esse é mais difícil de encontrar do que os de Saint Aubin, mesmo assim acredito que valeu a compra, paguei menos de R$ 200.

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    1. Difícil? Diria, impossível, O Dents de Chien é raro e difícil de encontrar até na França

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  11. Gostei do Saint Aubin dents de chien de Olivier Leflaive mas preferi o dents de chien de Hubert Lamy.

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  12. O problema do Lamy é conseguir comprar algumas garrafas. Já tentei adquirir seu Criots Batard e nem me abriu a porta.

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  13. Consegui em uma loja em Portugal e só tinha duas garrafas, advinha se peguei as duas...kkk

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  14. Sempre tirando dúvidas com quem sabe: estou em frente ao um Batard Montrachet 2003 de Joseph Drouhin 2003, promoção de 275 dólares por 132, vinho que armazenado em adega, vale comprar? Estou fora do Brasil.

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