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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

500 EUROS POR UMA FOTO COM GAJA


 

“Por onde você anda?”

Massimo Martinelli, quase ao meio dia, telefonou para saber meu paradeiro.

De regresso à Itália, após mais uma viagem pela Borgonha, acabara de sair do túnel do Monte Branco e seguia para Santa Margherita.

 
 
 
Informei minha posição e Massimo continuou:” Venha até aqui, batemos um papo, bebemos um copo e depois você continua”.

500 quilômetros percorridos, mais 200 me esperando......” Ta bom! Chego em duas horas. Prepare as taças”.

Apesar do desvio adicionar outros 60 quilômetros ao meu já interminável trajeto não se pode recusar convite de Martinelli.

Um pouco antes da hora prevista entrava no quintal da “Antica Meridiana Relais-Arts” de Angioetta e Massimo.
Uma surpresa me esperava: Jorge Lucki, amigo de longa data de Martinelli, estava hospedado na Meridiana e bebericava um Barolo na companhia de Massimo. 

Apresentações feitas, copos tintilando, papo agradável, queijos e salames abundantes......a tarde prometia.
 

Lucki, falando um italiano quase perfeito, não tinha nenhuma dificuldade de comunicação assim a conversa fluía normalmente.

Não recordo qual assunto nos levou ao Angelo Gaja, mas lembro perfeitamente as palavras de Martinelli.

“Semana passada um casal de brasileiros, que estava hospedado aqui na Meridiana e que já havia conhecido inúmeras vinícolas, não conseguiu visitar a do Gaja. Perguntado, se eu poderia interceder e conseguir uma visita na adega do Angelo, acabei ligando para o meu amigo.

O Gaja me atendeu e respondeu que desde o começo do ano as visitas à adega estavam abertas ao público. Era, no entanto, necessário   acessar o site da empresa, fazer a inscrição e pagar 300 Euros pelo tour e degustação. Caso os interessados quisessem sua presença o preço subiria para 500 Euros. Apesar do preço salgado o casal tentou se inscrever no site, mas a fila imensa e as datas disponíveis muito distantes os fizeram desistir. O Gaja me garantiu que todo o dinheiro, arrecadado com as degustações, é doado para instituições de caridade e que somente este ano já foram entregues 200.000 Euros.”

Fiz cara de dúvida e perguntei: “Será?”

Massimo respondeu:” O Angelo é um sujeito sério, se ele diz que doou, pode acreditar que é verdade”.
 

Lucki sorriu e disse que iria comentar o assunto na CNB.

Após mais uma garrafa retomei a estrada e rumei para Santa Margherita.

Durante o restante de minha viagem fiquei tentando descobrir o que levaria um enófilo a torrar 500 Euros para beber uma taça de vinho, tirar algumas fotos, bater um papo e apertar a mão de Angelo Gaja.

Gaja, por outro lado e após exatos seis minutos, com   os 500 Euros no bolso, não mais lembra o nome, a fisionomia, a nacionalidade etc. do eno-tiete-deslumbrado.

Uma degustação na Renato Ratti, custava e creio ainda custe, 10 Euros.
 

Os vinhos se equivalem, Martinelli é uma enciclopédia ambulante, espontâneo, culto, simpático e sua companhia valia, à época, apenas 10 Euros?

Ou a Renato Ratti aumenta sensivelmente o preço da degustação ou Gaja reduz a facada.

Sempre é bom lembrar que com 500 Euros é possível comprar 5 garrafas de Barbaresco do multipremiado produtor.
 

Um único inconveniente: Não haverá foto com o Gaja para pendurar na adega que, invariavelmente, provocaria a clássica pergunta “Zé, você conhece o Gaja?”.

Você, sem comentar que a foto custou 500 Euros e com cara de estudada “nonchalance”, aproveitaria a deixa e.....

“O Angelo? Sim, conheço. Aliás, todas as vezes que vou a Alba ligo pra ele. A gente se encontra e bebe algumas taças. Boa praça o Angelo....”

  500 Euros são uma ninharia quando e se comparados aos 15.000 que os eno-deslumbrados desembolsam por um Romanée-Conti falsificado.
 

Bacco

Na próxima matéria o papo com Jorge Lucki e Martinelli.

Aguardem. 

5 comentários:

  1. Já bebi alguns vinhos de Angelo Gaja. Alguns, excelentes; outros, não me fizeram suspirar mais que vinhos de outros produtores. Mas os preços sim, me fizeram soltar algumas lágrimas. A propósito, o Jorge Lucki é um cara gente boa. Não fica atrás de holofotes, como muita gente que conhece muito menos do que ele.
    Salu2,
    Jean

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  2. Vc é uma FIGURA, Bixa Véia!!! kkkkkkkkkkkkkkkkk

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  3. Que legal saber que o Jorge lucki foi para o Piemonte pagando do próprio bolso! Vejam que como as coisas estão evoluindo no mundo do vinho no Brasil. Certamente virá com comentários isentos para sua coluna. Abcos.

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  4. Tempos atrás o Gaja foi a Espanha e fez uma declaração daquelas. Disse que os espanhóis têm que aprender a valorizar mais seus vinhos. No caso, valorizar, para ele, significa cobrar mais caro. Ele não fica feliz em apenas cobrar exorbitâncias pelos seus, quer que os outros façam o mesmo.

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    Respostas
    1. Dar uma de consultor com o bolso alheio é fácil. Mercado de vinho na Espanha [também] está hoje com uma pá de gente com problemas para desovar produção. Seja vinho caro ou barato. China já não compra mais como antes... e aí aparece o mago dizendo para valorizar os produtos.

      Tocha no rutbye de quem subir preço sem uma ótima justificativa.

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