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sexta-feira, 25 de julho de 2014

O BAROLO MODERNO


João Ratão, cujo blog é um dos poucos que leio com prazer, no obscuro mundo da eno-crítica brasileira, certa vez comentou uma matéria sobre o Barolo Renato Ratti 2009 (o último Barolo vinificado por Massimo Martinelli naquela vinícola).

João externava, na ocasião, sua preocupação quanto a uma “modernização” forçada que poderia influir, negativamente, na qualidade do grande vinho piemontês.
 
 

Eu poderia responder, mas achei melhor e muito mais apropriada a intervenção de Martinelli, um dos grandes responsáveis pela modificação nas técnicas de vinificação do Barolo.

Martinelli, enólogo competente, sério e respeitado, até na França, gentilmente me apontou o caminho das pedras do Barolo moderno.

A palavra com Massimo Martinelli.   

 

“Corria o ano 1969 eu acabara de regressar da Suíça, depois de 5 anos de treinamento, para ajudar meu tio, Renato Ratti, na grande aventura do vinho no Piemonte.
Tive, naquela oportunidade, a possibilidade de participar de encontros, degustações, promoções que visavam evidenciar vinhos e cozinha de nossas fantásticas colinas.
 
Escutava com atenção os colegas mais velhos e experientes.
O Barolo, em sua complexidade, apresentava sempre evidentes notas de taninos que iriam se atenuar, assim diziam, somente depois de uma década.
Depois das primeiras visitas à Borgonha e Chateauneuf du Pape, acompanhando meu tio, procurávamos entender porque os vinhos daquelas regiões se apresentavam elegantes, quase imediatamente….
Esperar dez anos?
Tudo bem, mas nem todos tinham e tem tempo para esperar.
Algumas coisas ficaram imediatamente claras: Fermentação malolática (que acontecia espontaneamente) deveria ser guiada e vigiada.
 
Tempos de fermentação mais curtos.
Maturação em madeira por dois anos (conforme o disciplinar).
Colocando em prática as novas técnicas e obtivemos vinhos de maior elegância particularmente para o Barolo.
As extraordinárias safras de 1970 e 1971 facilitaram nossas observações: Com aquelas uvas excepcionais era quase impossível errar.
Em 1972 um verdadeiro desastre.
Os produtores, reunidos no Castello di Grinzane decidiram rebaixar Barolo e Barbaresco para simples Nebbiolo.
Depois de um verão normal, a partir de 5 de setembro, choveu todos os dias até o final do mês, fenômeno que acarretou resultados incrivelmente negativos: Pouca cor, pouco álcool, estrutura leve!!! 
O passo sucessivo veio com a introdução, na adega, dos tanques de inox: Um material de fácil limpeza, fácil manejo, especialmente para o controle da temperatura de fermentação, anteriormente confiada ao acaso.
 
 
Estas modificações técnicas foram muito importantes para a consolidação e penetração de nossos grandes vinhos nos mercados mundiais: Sucesso que continua, ainda hoje, graças a um conhecimento, sempre maior, das técnicas e ciências.
Massimo Martinelli


8 comentários:

  1. Ótimo artigo, Bacconildos!
    A modernização é algo que não podemos fugir. É claro que manipulações excessivas e artificiais, como aquelas realizadas principalmente por muitos produtores do novo mundo, não são bem-vindas. No entanto, adaptações em abordagens que tragam benefícios, sem alteração da essência da produção e prejuizo ao produto final, podem e devem, a meu ver, ser implementadas. Eu amo Barolo, mas já estou ficando preocupado se conseguirei beber de algumas novas e belas safras, como a recente 2010. Assim, se puder beber um pouquinho mais cedo, ficarei feliz! E se for um Renato Ratti, melhor ainda.
    Salu2,
    Jean

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  2. Vamos colocar as tremas nos Us. Sem falsa modestia eu posso afirmar em cartorio publico que nao tenho 10% da litragem de voces. Acredito que a milhagem tambem. E hoje estou focado num mercado de vinho de faixa bem alheia a de voces (e regiao tambem), mas faço que da, incluindo pouco tempo disponivel para escrever. Entao um obrigado envergonhado por lerem aquilo, de vez em quando. E quem quiser meter o pau no blog, que venha.

    Eu meramente comecei aquele blog (entre outros motivos) em protesto contra essa palhaçada que voces conhecem bem -- por parte de produtores, blogueiros inuteis (aqueles chapas-brancas ou do copy and paste), importadores predadores e tudo mais.

    Acima de tudo voces promovem uma oportunidade para debate e aprendizado, mas os ignorantes desse pais se ofendem com essa atitude. Aqui parece que somente puxando saco que se constroi algo. Tipico do bananal onde favor se paga com favor, conluio, amarração pseudo-intelectual.

    Gostaria muito que BBD conseguisse penetrar nas mentes obtusas de muita gente, mas parece que seria mais facil convencer gaucho petista que o melhor vinho do mundo nao é nacional nem o pt a salvação da humanidade.

    Reconheço que as vinicolas precisam de giro rapido para sobrevivencia. Entao a tal modernizacao pode ter antecipado o fluxo de caixa em alguns anos, mas eu gostaria que o vinho feito com leveduras naturais sem o hoccus poccus do laboratorio tambem tivesse espaço no portifolio das vinicolas, mesmo as de barolo.

    Importo dois barolos (da mesma produtora) que o Massimo deve conhecer, e eles tambem tiveram que enveredar pelo caminho da modernização. Passei uma tarde muito agradavel com um dos donos da vinicola que me contou mundos e fundos sobre essa regiao, incluindo as varias modernizações pelas quais passaram durante alguns seculos. Talvez ha 100 anos o primeiro produtor que resolveu fazer algo diferente que nao pisar em uva foi massacrado pela brigada dos linguarudos.

    Quanto mais aprendo como se faz e comercializa vinho no mundo, menos vontade tenho de consumir ou trabalhar com isso.

    Por ultimo ate hoje nao vi ninguem topar as apostas de bacco de identificação às cegas dos vinhos nacionais versus os franceses. Seria o julgamento de Bento Gonçalves o maior de todos? Acho que na opiniao de muito comentarista aqui, sim.

    Com licença que vou pegar um motel com minha secretaria agora. Hoje ha tabua de frios com vinho nacional no almoço executivo.


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    1. Você com a secretária eu com a tábua... João se vc falar de leveduras selecionadas , com o Massimo , vira secretária dele no motel : Há produtores e produtores de Barolo,!!! Eu conheço, pessoalmente , duas dúzias seríssimos .Espere sentado , pois ninguém vais aceitar meu desafio lá na serra gaúcha.
      Já desafiei, Marcelinho pão e vinho, Didu, Beato Salu etc mas ninguém topou e nunca topará: São picaretas de marca maior. Abraços e ...vamos à luta.

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    2. Bem que voces poderiam adicionar o tema de como sao feitos os produtos (vinhos) que sao 99% dos artigos aqui. Eu tenho uma fissura em descobrir sempre os truques e trambiques de vinhos, cerveja, churros, queijos, carnes, pamonha, azeites, cafes...., embutidos...iogurtes.

      Me lembro que apos um estudo do meio (como se dizia) a uma fabrica de derivados de leite famosa, eu fiquei um bom tempo sem consumir as manteigas e iogurtes que eles produziam.

      LEmbro COmo se fosse ontem. Eca.

      Auguri, bastardi.

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  3. Você acredita que os produtores entregam a rapadura assim tão facilmente? Nunca! Se Na França , Itália, Portugal, Espanha etc., onde há controles rígidos, as vinícolas são pegas praticando mil picaretagens , imagine na serra gaúcha....A única maneira de descobri é , quando houver desconfiança , mandar analizar as garrafas, mas custa Juro que se eu conseguisse algumas garrafas do Dani , não aquelas que o fotógrafo prepara para degustações, aquelas normais , de linha , mandaria analisar na Itália. Seria cômico verificar a tal sulfurosa zero. Seria risível ,também analisar os "glicerinizados" da Valduga etc. etc. etc. Mas , como já disse custa e será que vale a pena?

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    1. Ja levei minhas fubecadas comprando rato por lebre. Ia ate a cantina (ou bodega), escolhia os vinhos e quando o navio chegava o vinho estava diferente. Devia ser o efeito da ressonancia Schumann ou ate mesmo a maldicao da linha do Ecuador. Ou obra de separatistas Ucranianos.

      Assim hoje eu nao compro mais vinhos de advogados, arquitetos ou gente do mundo corporativo que tem vinicolas com propostas ''verdes/sustentaveis/eco-friendly''. Palavras futeis que podem enganar hippies na California ou no RJ, mas no Brasil nao funciona.

      Aprendi tudo isso em menos de 14 anos de experiencia. Acho que sou um genio.

      Fazer uma analise numa garrafa nao eh tao dificil. Basta ter um amigo numa faculdade com laboratorio. Recentemente um amico italiano levou amostras de olio di oliva do Brasil para Italia (as marcas eram italianas) e fez la as analises. Seria para colocar gente na Papuda, mas ele nao levou a informacao para frente. Respondendo sua ultima pergunta, portanto. Nao vale o custo nem a dolor de cabeza.

      Ja pensou se algum picareta da serra fosse condenado por falcatruas (condenado a pagar uma cesta basica a alguma creche)? Mais um para encher o saco dizendo que era preso politico

      Andiamo.

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    2. E alguém acha que os picaretas nacionais não sabem contratar uma duplinha dimenor para dar o troco?

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  4. Mesmo aqui, com todos os sobrepreços cobrados pelas importadoras, consegue-se comprar o citado Amarone da Tenuta Sant´Antonio por menos de R$ 300,00. http://www.wine.com.br/vinhos/tenuta-sant-antonio-amarone-della-valpolicella-campo-dei-gigli-2008/prod10250.html, R$ 280,00, eis o preço da Wine.com.br. Eu mesmo já comprei o 2005, na mesma Wine, por R$ 250,00.

    Diante de algo assim, como pensar em comprar no Merlotone? kkkkkk

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