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domingo, 25 de maio de 2014

OS BAROLO DA SOBRERO


Não lembro quantas vezes passei, “nonchalance”, por aquele carrinho cheio de garrafas vazia, algumas velhas “damigiane” (garrafões de 34 litros) esparramadas no chão e aqueles cartazes, na entrada, enfeitando e informando que a vinícola Sobrero vende seus vinhos diretamente ao consumidor.

A Sobrero, bem na entrada de Castiglione Falletto, nunca mereceu, assim como tantas outras da região, uma minha visita.

Sem uma razão específica em minha última passagem por Castiglione Falletto resolvi conhecer as vinícolas Cavallotto e Sobrero.

Cavallotto e Sobrero são separadas, uma da outra, por não mais que uma centena de metros, mas são distantes milhares de quilômetros na maneira de tratar os visitantes e pequenos clientes.
 
A Cavallotto, renomada, consagrada, na Itália e no mundo todo, é também muito esnobe.

A fama, provavelmente, determinou o pouco caso e a recepção com a qual fui recebido

A Cavallotto, a mais “gelada” vinícola que já visitei em minha vida, me recebeu fria e profissionalmente sem abrir uma garrafa sequer nem por decreto.

 Degustar vinhos?

Somente os já abertos (ninguém sabe desde quando) e olhe lá....

 A vendedora tenta disfarçar, inutilmente, que está ali quase fazendo um favor e não abre a boca para sorrir nem debaixo de tortura.

A insossa funcionaria apresenta a lista de preços, sem nenhum entusiasmo, com um olhar que revela enfado   e só falta dizer:  “Estou com pressa…Quer ou não quer? ”   

A Cavallotto esbanja, frieza, desinteresse e não economiza nos preços de seus vinhos.

Meu amigo brasiliense, talvez constrangido, comprou três garrafas.

Eu?  Nem meia.

Quando a Cavallotto descer do trono, quem sabe, compro um de seus renomados Barolo.

Decepcionado com o atendimento e as tarifas da Cavallotto, resolvi entrar na vizinha Sobrero.
 

Estou até hoje me penitenciando por não ter conhecido a Sobrero há mais tempo.

Entrei no amplo quintal da vinícola e, mesmo antes de descer do carro, a simpática senhora Sobrero, de pequena estatura, amplo sorriso e muito falante, sem nenhuma delonga nos levou até a sala de degustação e venda.

Barbera, Dolcetto, Langhe Nebbiolo, Barolo, parmesão, salames, grissini…. Um festival de bons vinhos e bons petiscos.

Tivemos que pedir uma pausa e esquecer, por um instante, os copos….
 

O preço (28 £) e a qualidade do Barolo “Pernanno Riserva” foram decisivos: Comprei 6 garrafas.

Enquanto meu companheiro de viagem escolhia seus vinhos notei, em uma prateleira, garrafas de Barolo dos anos 90.

Um cartaz, avisando que as garrafas expostas não estavam à venda, não freou meu desejo de comprar algumas delas.
 

“Senhora Sobrero, me venderia algumas garrafas de 1997? ”

A mulher pensou um instante e respondeu: ” Sim, mas o preço é outro? ”

“Quanto? ”

“As safras mais antigas custam 30 £”

Não ousei regatear e comprei 6 garrafas.
 

Percorremos toda a vinícola, conhecemos algumas vinhas da propriedade e, finalmente, partimos prometendo voltar.

A promessa não se fez esperar...

 Na semana seguinte dois casais amigos me visitaram.

  Para comemorar a ocasião abri um Barolo 2004 que havia comprado na Sobrero.
 

Elogios sinceros ao vinho e estupefação quando revelei o preço.

Sem poder dizer não aos amigos, que pediram para acompanha-los, voltei para Castiglione Falletto mais cedo do que esperava.

 Na vinícola Sobrero, outra vez, a sorridente senhora nos atendeu.

Mesmo recepção, mesma simpatia, mesmo ritual.

 Degustações, muita alegria e descontração.

Quando a senhora Sobrero percebeu o interesse dos meus amigos pelas garrafas das antigas safras, me chamou.
 Em voz baixa, e em piemontês, para não ser entendida, disse: “Olhe, aquele dia eu errei e lhe vendi as garrafas de 1997 por 30£. Quando meu marido e meu filho voltaram das vinhas quase me mataram. Se seus amigos querem algumas garrafas só posso vender por 50£. Se vender mais barato, apanho…”
 

 Um Barolo de 17 anos, com a qualidade dos Sobrero, por 50 Euro, é muito barato.

Bastaria lembrar que um “Singular (argh) Nebbiolo”, da Lidio Carraro, custa R$ 258, seria suficiente para   considerar o Barolo 1997, da Sobrero, uma pechincha.

A “Azienda Sobrero” nasce em Castiglione Falletto em 1940.

Francesco Sobrero, até 1960, vende suas uvas aos terceiros, mas aos poucos seus filhos o convencem que seria melhor e mais rentável vinificar e vender o vinho.

No começo, a vendas em garrafões se prolonga até 1964 quando nasce a primeira etiqueta “SOBRERO”.

Os anos passam e a propriedade aumenta até atingir os atuais 16 hectares.

Em 2000, Flavio, neto de Francesco, agrega sangue novo à vinícola onde aplica, na prática, seus estudos enológicos.

 A nova política e a seriedade  dos Sobrero são premiadas: Seus vinhos são exportados, atualmente, para a Inglaterra, Canada, Dinamarca, Estados Unidos, Alemanha, Suíça e Holanda.

Os Barolo degustados e comprados:

Barolo “Ciabot Tanasio” é produzido com uva proveniente de três vinhas da propriedade.

Se apresenta com cor rubi, muito límpido, aromas de cacau, ameixas e um leve couro no longo final.

Barolo tradicional onde se percebe muita vinha e pouca adega.

Belo vinho, honesto e elegante.

Barolo “Pernanno”

A joia da Sobrero!

Vinho produzido com uva do um único cru: “Pernanno”.

 As vinhas, plantadas em 1946, doam um espetacular Barolo e de grande personalidade.
 

 Rubi brilhante, com aromas muito complexos e em constante evolução.

Na boca é fácil perceber a grande estrutura, taninos ainda presentes, que apontam para uma longa vida, mas que não incomodam nem se sobrepõem à maciez quase aveludada do Barolo Pernanno.

Grande Barolo!

Quando você, já cansado de beber vinhos todos iguais, com a “grife do enólogo da moda”, caros, cansativo, passar por Castiglione Falletto, não deixe de visitar a Sobrero e comprar algumas garrafas de seus grandes Barolo.

Bacco

 

 

7 comentários:

  1. Bacco e Bocca tem lado A e lado B. Quando o post é porrada chove comentário, quando é sobre lugares, comidas e vinhos nada! Isso não quer dizer que o lado B não tenha seus leitores. Sou leitor dos dois lados.

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  2. Para próxima matéria, se tiver algum representante por lá:

    Estou organizando um jantar com o enólogo Jean Claude Cara, produtor de vinhos da Borgonha e autor de um vinho no Brasil também. É uma oportunidade única para escutar um apaixonado pela produção de vinhos de longa guarda com técnicas ancestrais. Ele falará sobre a Borgonha e seus projetos pessoais.

    O jantar será na Enoteca Saint vin Saint na próxima quarta, dia 28, que dispõe de um menu sazonal, que é modificado toda a quinzena ou mês, pela própria chef Lis Cereja, que busca ingredientes novos e frescos para seus pratos. Os vinhos servidos serão por nossa conta.

    Cada um pagará seu prato do menu do restaurante e outros itens que forem consumidos, exceto os vinhos servidos para apresentar os projetos do Jean Claude.


    https://www.facebook.com/events/242375629291866/?notif_t=plan_user_invited

    Por favor deletar após ler.

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    1. Didu Bilu Teteia e B&B. Eu sabia que tinham uma coisa entre voces....

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  3. http://carlosharoldo.wordpress.com/
    Nem precisa aceitar esse comentário. Apenas conheça mais um grande profissional do vinho. Risos. Claro, esse pode render boas matérias.. Abraços.

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  4. Parabéns pela matéria! Até porque pretendo voltar ao Piemonte e fiquei com vontade de conhecer a Sobrero. Estive na Cavallotto, mas não visitei a Sobrero. A única coisa que ressalto é que tivemos experiências muito distintas na Cavallotto. Uma pena. Gostei bastante da visita que fiz por lá e degustei muitos vinhos, inclusive alguns que foram abertos na hora (risos!). Mas isso acontece, infelizmente. Empresas familiares não conseguem ter a consistência no atendimento de uma Concha y Toro, por exemplo.
    De qualquer forma, mais uma vez parabéns pela matéria.
    Abraços

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  5. Consulado, a Cavalloto , por ser uma vinícola familiar , deveria ter um atendimento menos "burocrático" .
    O que aconteceu na Sobrero foi exatamente isso: Burocracia 0 X calor 10.
    Pode ser que eu tenha chegado no dia errado ,mas infelizmente foi o que aconteceu.
    Uma coisa que não disse e agora revelo , é que eu jogava cartas, no Bar da Renza , em Castiglione Falletto, com o velho Cavallotto.

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