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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

BIENVENUES BÂTARD MONTRACHET


 


Quatro anos de insistência, muitas visitas à vinícola, inúmeras negativas, sempre acompanhadas de um malicioso sorriso, não me desanimaram: No mês passado, em minha última passagem pela Borgonha, consegui, finalmente, comprar 4 garrafas de Bienvenues-Bâtard-Montrachet do viticultor Jean Claude Bachelet.

Muitos perguntarão: “Por que tanta insistência? Não há outro produtor na região?”.

Há muitos, mas existe uma pequena história por trás de minha quase obsessão, aliás, o vinho tem histórias e não “pontos”.

Há alguns anos o proprietário de um restaurante em Chiavari, que se encontrava em sérias dificuldades, resolveu se desfazer de parte de seus vinhos de sua bem fornida adega.

Escolhi algumas, mas o proprietário do local, não satisfeito com minha tímida compra e querendo faturar um pouco mais, me ofereceu 3 de Bienvenues-Bâtard-Montrachet 2001 do Bachelet.

Elogios fartos e entusiastas ao vinho, muita insistência, bons descontos, que resultaram em preço muito convidativo.... Acabaram me convencendo, assim, as três garrafas juntaram-se às outras e voaram para o Brasil.

Um belo domingo resolvi abrir um Bienvenues-Bâtard-Montrachet do Bachelet.

Rolha perfeita, cor dourada com alguns reflexos esverdeados, aroma…. Bem, com o aroma começou a festa.

Eu nunca bebera Chardonnay melhor!

Aos poucos e quase religiosamente, sequei a garrafa.

 Impossível parar de beber!

 Olhando para a garrafa vazia e naquele momento, resolvi que deveria, urgentemente, conhecer Jean Claude Bachelet, seus vinhos e sua vinícola no pequeno distrito de Gamay na também minúscula Saint-Aubin.

A vinícola de Jean Claude Bachelet e de seus filhos, Benoit e Jean Baptiste, não é exatamente fácil de ser encontrada e, as vezes, nem o GPS ajuda.

É preciso perguntar, percorrer estradinhas que passam pelas vinhas, entrar em ruelas (muitas sem saídas), fazer manobras complicadas (se o carro for grande, então...) para encontrar (ufa....) a pequena e quase invisível placa que indica, finalmente, a vinícola e casa dos Bachelet.

Se encontrar a casa de Jean Claude já é complicado encontrar os Bachelet, em horário de trabalho, é quase impossível e não recomendável.

Os três homens estão sempre trabalhando em seus 10 hectares de vinhas e a esposa de Jean Claude não é exatamente uma referência de gentileza.

“Não temos mais vinho. Se quiser algumas garrafas para o ano que vem o senhor deve reservar agora e confirmar antes de novembro próximo”.

“Bienvenues-Bâtard Montrachet? Vendemos tudo e agora somente na próxima safra. Reservar seis garrafas? Impossível: Duas no máximo”.

A mulher é uma fera!

Não adianta insistir...

Certa vez consegui comprar seis garrafas de Chassagne-Montrachet Premier Cru “La Budriotte”, parte de um pequeno lote ainda não vendido.

 Na hora de pagar (na hora de pagar quem recebe é sempre a madame Bachelet) apontei para um pilha de garrafas empoeiradas, que repousavam em um canto da adega, e quase   sem esperança perguntei: “A senhora poderia me vender algumas daquelas garrafas mais velhas”.

A fera Bachelet me olhou espantada como se tivesse ouvido um palavrão e respondeu: “Aquelas são para o nosso consumo”.

Fulminado pelo olhar, esbocei um sorriso amarelo, paguei, entrei no carro e me mandei, rapidamente, com medo de apanhar....

Uma, duas, três, quatro, e não sei quantas mais, visitas, me ensinaram como “enfrentar” os Bachelet.

1º Nunca chegar entre 8 ou 10 horas da manhã.

2º Nunca telefonar com antecedência

3º Nunca pedir o Bienvenues-Bâtard-Montrachet, mas perguntar o que eles tem para vender e comprar (no final eles vendem o filé).

4º Chegar na vinícola após o pôr do sol ou aos domingos quando os Bachelet não estão trabalhando.

Alguém, intrigado e justamente, perguntará: “Todas estas precauções, exigências, regras para comprar o vinho deles? Vá procurar outro produtor”.

Tá bom!

Tente comprar, na mesma Saint-Aubin, uma garrafa de Bâtard-Montrachet do Marc Colin, ou, em Chassagne, uma de Dents de Chien do Thomas Morey e verá que na Côte D’Or há dois caminhos: Ou você se sujeita às condições que os viticultores impõem ou paga o dobro, pelo vinho, nas enotecas de Beaune.

Esta escolha é sua.

Na próxima semana minhas degustações e impressões sobre os vinhos de Jean Claude Bachelet.

Bacco

PS. Insisto: Vinho tem história. Quem pontua vinho escolhe o caminho mais fácil e seguro para disfarçar falta de conhecimentos mais profundos.

Uma garrafa de Bienvenues-Bâtard-Montrachet não pode ser descrita apenas e através de 90-92-89-94 pontos.

Pontos = babaquice!

3 comentários:

  1. Esse artigo ganha 5 pontos, de 5 possiveis.

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  2. Excelente artigo , ou melhor experiência vivida, daquelas que a gente nunca vai ver escrita numa dessas revistas de vinho famosas, o Sr Parker nunca foi muito bem recebido para aqueles lados, jamais esses produtores entregariam suas jóias para serem pontuadas como qualquer vinho banal, mais uma fez Parabéns !!!

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