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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

GAVI - continuação


Nos anos 70 não havia internet, o vinho ainda não possuía o glamour dos nossos dias, os críticos e formadores de opinião não eram tão importantes nem seguidos quase cegamente como modernos gurus, existiam poucas revistas especializadas, os enólogos não eram populares e endeusados como estrelas de cinema e ninguém os conhecia fora do mundo vinícola.

 Nos anos 70 ainda se bebia vinho e não etiquetas.

As garrafas italianas presentes nos quatro cantos do mundo eram: Chianti (aquelas com a palha), Valpolicella, Soave, Verdicchio e mais dois ou três.

Há quarenta anos ninguém falava em Amarone, Sassicaia, Tignanello, Masseto, Ornellaia......

Há quarenta anos o Barolo e Brunello começavam a percorrer suas vitoriosas trajetórias e, o Gavi fora finalmente “redescoberto” e apresentado como grande vinho branco piemontês.

Mario Soldati, jornalista, escritor, diretor de cinema, era um apaixonado por vinhos (seu livro “Vino al Vino foi best seller”) e, por uma feliz coincidência (será?), seu primo, Vittorio Soldati, era proprietário da “La Scolca” tradicional vinícola produtora de Cortese.

Bastou que Mario Soldati elogiasse os vinhos da “La Scolca” para acontecer uma verdadeira revolução que levaria o Gavi a conquistar o mundo.

Os que acompanham B&B , desde o inicio , sabem quanto sou cético e que minha estima por críticos e revistas especializadas é quase inexistente: Acredito na lisura e isenção de pouquíssimos “especialistas” e fujo de pontos, bicchieri, estrelas, sistematicamente.

Mas nem sempre foi assim.

A propaganda que à época recebeu o vinho “Gavi di Gavi Etichetta Nera” da La Scolca despertou minha curiosidade e..... Caí em tentação.

Um belo dia encontrei, na carta de um restaurante, um “Gavi di Gavi” La Scolca.

O preço, absurdo à época (42.000 Liras), me assustou, mas a conversa melíflua do garçom foi fundamental: “O senhor acha que não merece beber um grande vinho?”.

Olhei para o sujeito que exibia um sorriso disfarçado e percebi que eu fora fisgado: “Abra a garrafa”

Quando pago uma quantia elevada, por um produto, espero um retorno qualitativo proporcional ao preço desembolsado.

O “Gavi di Gavi” La Scolca custava, naqueles anos, quase o dobro de um bom Barolo e eu, desembolsando 42.000 Liras, imaginei que provaria um vinho excepcional.

Entrei pelo cano: O “Gavi di Gavi” La Scolca não era (e continua não sendo) um vinho fantástico nem valia a metade das 42.000 Liras pagas.

A vinícola La Scolca, com seu “Etichetta Nera”, enterrou o pouco do respeito que eu ainda nutria pelos críticos.

Mas La Scolca, apesar de tudo, foi importante para o GAVI e toda a região.

Na sua esteira muitos produtores perceberam o filão de ouro que o Cortese representava.

 Em 1974, conseguiram a DOC, capricharam no plantio, melhoraram a vinificação e o Gavi, em pouco tempo, passou a ser um dos vinhos brancos mais exportados da Itália.

Grandes empresas (Batasiolo, Chiarli, Coppo etc.) percebendo o sucesso do Gavi começaram a vinificá-lo, também.

O mercado comprador e sedento exigia mais e mais garrafas e o Gavi, vinho de fantástica potencialidade de envelhecimento, não passava nem meia hora de afinado no escurinho das adegas.

Vender, vender, faturar, faturar..... Ganância a todo vapor, mais vinhas plantadas sem critério algum, vinhos de discutível qualidade e...... Mais uma vez a crise.

No começo dos anos 2000 a “moda” do Gavi passou, o “fenômeno” da província de Alessandria conheceu a decadência retornando para as prateleiras das garrafas baratas dos supermercados onde, até hoje, continua.

Estranhamente o Gavi continua sendo muito exportado, mas na Itália, já era.

Depois da “ferrada” das 42.000 Liras jamais recuperei a confiança no Gavi e somente o bebia quando não havia outra opção.

Até que um dia....

Amanhã continuo 

 

 

 

 

 

 

 

 

4 comentários:

  1. Bacco,

    mais uma bela matéria, as duas partes. curioso é ver que até hoje o Gavi di Gavi da La Scolca é mais caro que outros gavis no Brasil. e já que você falou em Chianti, gostaria de um dia ver uma matéria sobre bons Chianti, que não foram prostituídos pelas ondas de supertoscanos e os frankensteins surgidos na região.

    e uma dúvida: acabei de comprar no Oba da 109 Sul um Barolo chamado Terre Chiare, engarrafado por uma tal Villa Montisel, de La Morra. você o conhece? o que acha? paguei R$ 80 nele, e não encontrei maiores informações na internet.

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  2. Espere o final e saberá o porquê do preço
    O Barolo Terre Chiare deve ser uma tremenda picaretagem. Nunca o vi nem conheço a Villa Montisei.

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  3. essa história do Terre Chiare ficou mais estranha para mim agora: joguei no Google o endereço dessa Villa Montisel em La Morra... e é o mesmo da Gianni Gagliardo. mas não tem esse Barolo na lista oficial do Gianni.

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  4. Deve ser um Barolo de m.... que o Gagliardo "picaretamente" não tem coragem de assumir

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